Capítulo 4: A Linha Tênue Entre Ódio e Desejo

Havia algo diferente no ar da mansão Montenegro naquela semana. Um tipo de eletricidade silenciosa que atravessava os corredores, que se instalava nas pausas entre as palavras, que tornava cada olhar entre Isadora e Caio um campo minado prestes a explodir.

A convivência forçada, que antes parecia um martírio, agora começava a se tornar um jogo perigoso. Um desafio velado. E, no fundo, excitante.

Isadora notava os olhares que ele lançava quando pensava que ela não estava prestando atenção. Não eram invasivos, mas intensos — como se tentasse decifrá-la, como se cada gesto dela fosse um enigma que ele desejava desvendar.

Ela também não estava imune. Por mais que odiasse admitir, havia momentos em que sua pele queimava só por estar no mesmo ambiente que ele. O jeito como ele dobrava as mangas da camisa, o silêncio confortável que criava ao lado dela, o cheiro discreto de cedro e algo mais que ela não conseguia nomear… tudo aquilo estava lentamente consumindo suas defesas.

Foi numa tarde de sábado que o fogo finalmente ameaçou se tornar chama. Uma tempestade caiu repentina sobre a cidade, e a energia da mansão oscilou, mergulhando os dois num breu inesperado.

Isadora desceu as escadas com cautela, guiando-se pelas sombras e pelo som da chuva batendo contra os vitrais. Encontrou Caio na biblioteca, acendendo uma vela. A luz bruxuleante revelava traços que ela nunca tinha reparado com tanta clareza: a mandíbula bem marcada, os olhos escuros fixos, o leve brilho do suor na pele.

— Parece que ficamos presos — ela disse, a voz mais baixa do que pretendia.

Ele sorriu de lado, um gesto raro.

— Pelo menos temos livros o suficiente para sobreviver até a luz voltar.

Ela se aproximou, sentando-se no sofá de couro, cruzando as pernas devagar, consciente do olhar dele acompanhando cada movimento.

— Você sempre se esconde aqui? — perguntou.

— Não me escondo. Me protejo.

— E de mim? Você também está se protegendo?

Ele hesitou. A vela tremulou entre eles, como se reagisse à tensão no ar.

— Talvez. Você me provoca de um jeito que me tira o equilíbrio.

Isadora sentiu o coração acelerar. Não esperava uma resposta tão direta.

— E se eu disser que quero isso? Que quero ver até onde você aguenta antes de quebrar?

Caio se aproximou lentamente, como um predador silencioso. Parou diante dela, tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele irradiando no espaço entre os dois.

— Cuidado, Isadora. Você está brincando com fogo.

Ela ergueu o queixo, desafiadora.

— Talvez eu queira me queimar.

O silêncio seguinte foi interrompido apenas pelo som da chuva. Por um instante, tudo parou. Ele levantou a mão, como se fosse tocá-la… mas recuou. Respirou fundo, os olhos carregados de desejo contido.

— Quando eu tocar em você, vai ser de verdade. E não vai ter volta.

Ela sentiu um arrepio subir pela espinha.

— Eu não quero que tenha volta.

Mas Caio apenas sorriu, misterioso, e se afastou.

A energia voltou alguns segundos depois, mas algo entre eles tinha mudado para sempre. A linha tênue entre ódio e desejo estava prestes a ser cruzada.

E nenhum dos dois estava preparado para o que viria depois.

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Comments

Salete Michels de Gracia

Salete Michels de Gracia

Vou parar por aqui, muita narrativa e pouco diálogo e também não gosto de mulher oferecida e ela já se mostrou isso.

2025-06-25

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