O parque estava cheio, mas tranquilo. Crianças corriam entre as árvores, casais dividiam cobertores no gramado e o som distante de um saxofone improvisava uma trilha suave para a tarde de folga.
Lia caminhava ao lado de Erica, de óculos escuros, casaco leve e um cansaço que nem a brisa conseguia aliviar.
Erica (tentando quebrar o gelo) — Tá bom, já entendi. Sem bar, sem bebida e sem chance de diversão. Você é péssima companhia de folga.
Lia (olhando ao redor, distraída) — Não é isso. Só... preciso de silêncio. Ontem ainda me parece estar grudado em mim.
Erica (resmunga) — É. Literalmente grudado... tipo seu ex surtado.
Lia (baixa) — Não começa.
Elas dobraram por uma trilha de terra batida até o gramado principal.
E foi então que Erica parou.
Erica (sorrindo) — Olha só quem tá ali.
Sentados numa toalha xadrez estavam Isabella, um rapaz alto de camiseta branca, uma jovem de cabelos cor-de-rosa sentada colada a ele, e... a garota da praia. A mesma que Lia esbarrou na véspera. Isabella ria de algo que o amigo dizia, uma expressão leve no rosto, completamente diferente da bartender irônica da noite anterior.
Lia (parando também, seca) — Vamos dar a volta.
Erica (já indo na direção contrária) — Ou… podemos apenas ser educadas. Não vai te matar, Lia. Prometo.
Lia suspirou, mas não teve tempo de contestar. Isabella já as tinha notado. E sorriu.
Isabella (ainda sentada) — Uau. A chef fora do habitat natural. Tão raro quanto um soufflé que não murcha.
Erica (rindo) — E tão sensível quanto um merengue no calor. Mas olha, não é que ela veio ao parque?
Lia (cruzando os braços) — Por acidente, claramente.
Isabella (levantando-se) — Bom te ver, mesmo que contra a tua vontade.
A irmã mais nova de Isabella, a garota da praia, ergueu uma sobrancelha ao reconhecer Lia. Não resistiu.
Irmã (sem filtrar) — Essa doida aqui me atropelou ontem. Nem perguntou se eu tava viva.
Lia (suspirando) — Eu pedi desculpa.
Erica (apressada) — E eu peço de novo. A Lia não anda em si ultimamente.
Isabella (brincando, mas observando Lia) — Ou talvez só precise de um bom gin pra voltar pro corpo.
Erica (cutuca Lia, rindo) — Eu disse que ela quer voltar ao Vai e Volta. Só tá com vergonha de admitir.
Lia (seca, olhando Isabella nos olhos) — Eu não disse isso.
Isabella (erguendo uma sobrancelha) — Mas pensou. Tá tudo bem. Acontece com muita gente. Meu gin mexe com as pessoas.
O amigo de Isabella e a namorada riram. O clima era leve para todos... menos para Lia.
Amigo (animado) — Que tal um cinema depois? Tem uma sessão boa ali perto.
Erica (olha pra Lia, esperançosa) — Pode ser bom, Lia. Vai que ajuda.
Lia (fria) — Não, obrigada. Aproveitem. Eu vou pra casa.
Erica (suspira, mas compreende) — Tá bem. Mas vê se descansa… e pensa no gin. Ele ainda tá te esperando.
Lia despediu-se com um aceno breve e virou as costas. Erica ainda olhou para ela, hesitando por um segundo.
Isabella (baixo, para Erica) — Vai com ela?
Erica (balança a cabeça) — Hoje não. Alguém precisa lembrar essa irmã da tempestade que o mundo não é só neblina.
Ela virou-se para a irmã de Isabella, que agora a olhava com um sorriso debochado.
Irmã (provocando) — Você não vai fugir também, vai?
Erica (sorrindo) — Depende. Você costuma atropelar pessoas em parques?
Irmã (rindo) — Só quando merecem.
Isabella (divertida, para o grupo) — Isso vai ser bom. Vocês dois juntas... isso promete.
Erica (senta-se ao lado da irmã) — Então vamos ao cinema. Quem sabe descubro mais sobre essa família de bartender misteriosa e irmã boca afiada.
O grupo levantou-se animado, deixando o parque em risos leves e passos despreocupados. Erica foi com eles, aos poucos se integrando com naturalidade.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Lia entrava no apartamento vazio, tirava os sapatos e sentava-se no escuro. O silêncio ali dentro parecia ainda mais espesso do que o de antes.
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Atualizado até capítulo 42
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