O primeiro raio de sol atravessava a cortina quando o celular de Clara vibrou na cômoda.
Ela, ainda sonolenta, virou-se na cama, esticando o braço para pegar o aparelho.
O visor mostrava uma notificação de mensagem. Número conhecido. O dela… o de Eduardo.
O coração deu um leve salto.
Por um segundo, ela imaginou que fosse algo trivial… uma mensagem de rotina, ou talvez, quem sabe, um pedido de desculpas tardio por todos os absurdos dos últimos dias.
Mas assim que desbloqueou a tela… o mundo ao redor pareceu parar.
Ali, diante dos olhos dela… a foto.
Eduardo… dormindo… sem camisa… os lençóis embolados…
E Amanda. Sorrindo. Posicionada ao lado dele como se fosse dona daquela cena.
Uma frase curta acompanhava a imagem:
“Enquanto você dorme sozinha… ele dorme assim.”
Por alguns segundos, Clara apenas encarou a tela, em silêncio.
O sangue começou a ferver nas veias, como se o corpo inteiro fosse tomado por uma onda quente e sufocante.
Ela sentiu o estômago revirar, a garganta fechar.
O peito apertar.
Sabia…
No fundo, sempre soube.
Mas ver daquela forma… escancarado… tão cruelmente explícito…
Era como levar um soco.
Jogou o celular na cama com força, respirando fundo para não gritar.
Por alguns instantes, ficou andando em círculos no quarto, as mãos tremendo, o coração acelerado.
As lembranças da noite anterior – o happy hour, os risos, a sensação de liberdade – pareciam um sonho distante agora.
Mas, quando parou em frente ao espelho, algo mudou.
Lágrimas?
Não dessa vez.
Clara respirou fundo.
Endireitou os ombros.
E deixou que a raiva… se transformasse em força.
Desceu as escadas com passos firmes.
Na cozinha, Eduardo estava sentado à mesa, com o jornal dobrado ao lado e uma xícara de café nas mãos. Vestia a mesma camisa social azul clara de sempre, impecável como se fosse o marido perfeito.
— Bom dia. — Ele disse, sem nem levantar os olhos do celular.
Clara parou na porta, observando aquela cena com uma mistura de nojo e incredulidade.
Como ele conseguia? Como podia agir com tamanha naturalidade depois de tudo?
Ela aproximou-se da cafeteira, serviu-se de um pouco de café e, antes de levar a xícara aos lábios, falou com a voz baixa… mas carregada de veneno:
— Dormiu bem…?
Eduardo ergueu os olhos, surpreso com o tom dela.
— Até que sim. Por quê?
Ela apenas sorriu de lado, como se a resposta fosse óbvia demais.
— Só curiosidade. — Respondeu, levando o café à boca.
Ele a observou por um segundo a mais do que o normal, talvez desconfiado, talvez apenas intrigado… mas logo voltou ao celular.
— Vou sair mais cedo hoje. Tenho uma reunião com um fornecedor. — Comentou, casual.
Clara apenas assentiu, sem tirar os olhos dele.
Por dentro, cada célula do corpo dela gritava.
Cada fibra queria jogar aquela xícara de café na cara dele.
Queria gritar, queria chorar, queria quebrar tudo.
Mas não.
Ela não ia dar esse gosto.
Ainda não.
— Vai tranquilo. — Ela disse, deixando a xícara sobre a bancada e se afastando.
Antes de sair da cozinha, pegou o celular e, com o coração disparado, enviou uma única mensagem para Miguel:
“Posso te fazer uma pergunta fora de hora? Você tem tempo pro almoço hoje?”
E enquanto Eduardo, do outro lado da cozinha, seguia a vida como se fosse o dono do mundo…
Clara subia as escadas já planejando o próximo passo.
Porque ela tinha acabado de decidir… que nunca mais ia engolir calada.
O caminho até a agência pareceu mais longo naquela manhã.
O rádio do carro tocava alguma música pop animada, mas Clara mal prestava atenção. Sua mente girava em círculos ao redor da imagem que insistia em voltar: Eduardo… Amanda… a cama… a frase debochada.
Ela respirou fundo várias vezes durante o trajeto, tentando manter o controle, tentando não deixar as lágrimas caírem.
Mas dentro dela, a mistura de mágoa, raiva e um orgulho ferido latejava como uma ferida aberta.
Assim que chegou ao prédio da agência, estacionou o carro e pegou o celular de novo.
Miguel tinha respondido quase imediatamente:
“Sempre tenho tempo pra você. Me fala onde e quando.”
Ela fechou os olhos por um instante, sentindo uma pequena onda de alívio.
Pelo menos… ela não estava completamente sozinha nessa.
O clima na agência era leve, como sempre. As pessoas a cumprimentaram com sorrisos, brincadeiras, como se ela fosse uma de casa há anos. E isso… de alguma forma… ajudava.
Clara mergulhou nas tarefas logo cedo: revisão de campanhas, brainstorm para um cliente novo, troca de ideias com o time de criação.
Por fora… ela estava focada.
Por dentro… um turbilhão.
Por volta das dez e meia, enquanto digitava um e-mail, o celular vibrou de novo.
Miguel:
“Topa o restaurante japonês ali perto? Meio-dia e meia tá bom pra você?”
Ela sorriu de leve, mesmo com o estômago ainda revirado.
“Perfeito. Te encontro lá.”
Na hora do almoço, Clara saiu da agência andando, com os óculos escuros cobrindo os olhos para esconder a vermelhidão de quem chorou… ou quase chorou… o caminho inteiro.
Ao chegar ao restaurante, Miguel já a esperava, sentado em uma mesa de canto, com dois copos de água sobre a mesa e um sorriso acolhedor.
Assim que a viu, levantou-se.
— Oi… — Ele disse, com aquele olhar de quem entendia mais do que as palavras podiam dizer. — Tá tudo bem?
Ela tirou os óculos devagar, mostrando os olhos ainda um pouco marejados.
— Na verdade… não. — Respondeu, sentando-se à frente dele.
Miguel não disse nada de imediato. Apenas estendeu a mão por cima da mesa, tocando levemente a dela.
— Quer começar desabafando ou… a gente pede primeiro?
Ela riu, um riso nervoso, mas genuíno.
— Melhor pedir primeiro… porque eu não sei se, depois de começar a falar, vou conseguir parar.
Eles fizeram os pedidos e, assim que o garçom se afastou, Clara respirou fundo.
— Eduardo me traiu. — Soltou, de uma vez só. — Com uma mulher que ele jura que é "só uma fase". E agora… essa mulher resolveu me mandar uma foto dos dois… juntos… na cama. Como se eu fosse uma idiota que precisasse de provas.
Miguel a encarou por um segundo, em silêncio, como se calculasse as palavras antes de falar.
— Clara… eu não sei se fico mais chateado por você… ou mais puto por ele. Que tipo de homem faz isso?
Ela deu de ombros, forçando um sorriso triste.
— O tipo que eu casei. — Disse, baixando os olhos.
Miguel apertou levemente a mão dela.
— Você não merece isso. Nunca mereceu.
Os olhos de Clara começaram a marejar de novo, mas dessa vez ela não tentou segurar.
— Eu não sei o que eu faço, Miguel. Parte de mim só quer gritar, jogar tudo na cara dele, fazer escândalo… outra parte… só quer desaparecer.
Miguel respirou fundo e então disse, com toda a firmeza:
— Você não vai desaparecer. Você vai ficar exatamente onde está. De pé. Forte. Indo atrás da sua vida. Mostrando pra ele e pra qualquer outra pessoa que a Clara de agora… não é mais a mesma de antes.
Ela piscou algumas vezes, tentando conter o choro.
— E se eu fraquejar?
— Eu seguro a sua onda. — Ele sorriu de leve. — Como sempre fiz.
Naquele instante, com o olhar de Miguel tão direto e tão cheio de verdade, Clara sentiu algo dentro dela se acalmar.
Ainda doía…
Mas, agora… não parecia mais insuportável.
E pela primeira vez desde que acordara naquela manhã… ela conseguiu respirar fundo
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Dulce Gama
caraca meu clara tem que ser forte não fraquejar mostrar pra ele que ela venceu sem ele👍👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟
2025-06-19
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