A notificação do celular brilhou na tela logo cedo, antes mesmo do despertador tocar.
Miguel Duarte:
“Café Vila Central, 8h? Pago um café e a gente conversa. :)”
Clara sorriu ao ler.
Direto, gentil, simples. Como sempre tinha sido o Miguel.
Ela olhou para o relógio: eram pouco mais de seis da manhã. Ainda tinha tempo para se arrumar, mas decidiu levantar logo. Estava ansiosa… e pela primeira vez em dias, sentia-se viva.
Abriu o guarda-roupa e, diferente dos vestidos e conjuntos sofisticados que costumava usar para qualquer saída, escolheu um jeans escuro, uma blusa de tecido leve e uma jaqueta. Simples, confortável… mais ela.
Prendeu o cabelo em um coque despretensioso, passou um batom suave e pegou a bolsa.
Ao descer as escadas, já com as chaves em mãos, encontrou Eduardo na cozinha, ainda de pijama, mexendo no café. O cabelo dele estava bagunçado, como sempre ficava quando dormia mal.
Ele ergueu os olhos assim que a viu pronta para sair.
— Vai sair? — A pergunta veio com aquele tom de surpresa e leve desconforto que Clara já começava a reconhecer.
Ela assentiu.
— Tenho um compromisso.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Às sete e meia da manhã? Desde quando você tem compromissos antes das dez?
Ela sorriu de lado, jogando a alça da bolsa no ombro.
— Desde ontem.
Eduardo ficou em silêncio por um segundo, observando-a com o olhar de quem tentava decifrar o que estava acontecendo.
— Quer que eu te leve? — Ele perguntou, numa tentativa fracassada de soar casual.
— Não precisa. Eu me viro. — Ela respondeu com firmeza.
Passou por ele sem olhar para trás, abrindo a porta da frente com a leveza de quem sabia que, a cada passo, estava se afastando um pouco mais daquele mundo sufocante.
No caminho até o carro, o ar fresco da manhã bateu em seu rosto e, pela primeira vez em muito tempo, Clara respirou fundo… sem o peso que costumava sentir no peito.
Ela ligou o motor, sintonizou uma playlist qualquer no rádio e dirigiu até o Café Vila Central.
O lugar ainda estava começando a encher quando ela chegou. Algumas pessoas apressadas tomavam café em pé, outras liam jornais ou mexiam no celular. O aroma de café fresco, pão na chapa e croissants recém-saídos do forno invadiu seus sentidos, trazendo uma sensação de acolhimento que ela não sentia há tempos.
Miguel já estava lá, sentado em uma mesa no canto, de frente para a rua. O mesmo sorriso fácil, o olhar gentil… como se o tempo não tivesse passado.
Ele se levantou assim que a viu se aproximando.
— Clara Vidal… ao vivo e a cores. — Disse, abrindo os braços para um abraço leve, mas caloroso.
Ela riu, correspondendo.
— Miguel Duarte… sempre pontual.
— Velhos hábitos. — Ele piscou para ela e indicou a cadeira à frente. — Senta aí. Já pedi dois cafés, mas se quiser outra coisa… é por minha conta.
Ela se acomodou, cruzando as pernas, ainda tentando assimilar como era bom estar ali… com alguém que simplesmente gostava dela. Sem segundas intenções, sem jogos.
— Então… — Miguel começou, apoiando os cotovelos na mesa. — Vi que você atualizou o perfil no LinkedIn ontem. Fiquei curioso. O que aconteceu? Mudança de carreira ou…?
Clara hesitou por um segundo. Parte dela queria simplesmente responder que estava buscando novos desafios… mas não tinha mais energia para disfarces.
— Mudança de vida, na verdade. — Ela respondeu, olhando diretamente para ele.
Miguel ergueu as sobrancelhas, surpreso… mas não insistiu.
— Bom… seja lá o motivo, saiba que fico feliz por você estar recomeçando. E se eu puder ajudar de alguma forma… tô aqui.
Clara sentiu um calor gostoso no peito.
— Obrigada, Miguel. De verdade. Você não faz ideia do quanto eu precisava ouvir isso.
Ele sorriu, como sempre fazia.
— Então vamos começar com o básico… me conta: o que você está procurando?
E, naquele instante, enquanto descrevia os cargos que tinha em mente, as áreas que gostaria de trabalhar e os projetos que sentia falta de fazer, Clara percebeu que estava, de fato… dando os primeiros passos fora da sombra de Eduardo.
Enquanto a conversa avançava, Clara sentia a tensão acumulada dos últimos dias começando a se dissolver. Falar sobre o mercado, sobre estratégias de marketing, sobre campanhas que ela admirava… tudo parecia trazer de volta uma parte dela que estava adormecida há anos.
Miguel ouvia com atenção, fazendo perguntas, rindo com ela, lembrando de histórias da época da faculdade.
— Você sempre teve essa pegada criativa… — Ele comentou, mexendo na própria xícara de café. — Lembro da sua apresentação no último semestre… aquela sobre o poder das emoções na comunicação de marca. Eu ainda uso aquele exemplo nas minhas reuniões.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Nem lembrava mais disso…
— Pois eu lembro. — Ele disse, olhando para ela com um sorriso genuíno.
Por um instante, os dois ficaram em silêncio. Uma pausa confortável. Diferente de tudo que Clara estava acostumada nos últimos tempos.
Miguel mexeu no celular, como se buscasse coragem para dizer o que estava prestes a dizer. Quando finalmente voltou a olhar para ela, havia um brilho diferente no olhar.
— Clara… vou ser direto. — Ele respirou fundo. — A minha agência tá precisando de uma coordenadora de marketing. Alguém que saiba liderar equipe, pensar fora da caixa, cuidar de alguns clientes estratégicos… E antes de você dizer qualquer coisa… eu sei que faz tempo que você está fora do mercado, mas… eu conheço o seu potencial. Sempre conheci.
Ela congelou por um segundo.
— Miguel… eu não sei… — Começou, com um sorriso nervoso. — Eu tô totalmente enferrujada. Faz anos que não trabalho. Não sei se tô pronta pra…
— Clara… — Ele a interrompeu, com a voz firme. — Você é mais pronta do que imagina. E, se quiser… começamos devagar. Um período de experiência, algumas semanas de adaptação… você sente o ambiente, vê se gosta… e, se não der certo, tudo bem. Sem pressão.
Ela abriu a boca para responder, mas a emoção travou a garganta por um segundo.
Era a primeira vez, em muito tempo, que alguém realmente acreditava nela… sem cobranças, sem exigências, sem jogos.
— E aí? O que me diz? — Ele perguntou, apoiando os cotovelos na mesa, esperando.
Clara respirou fundo. Sentiu o coração bater um pouco mais rápido.
— Eu digo… que aceito. — Ela sorriu, sentindo-se mais leve do que em semanas.
Miguel abriu um sorriso largo, daqueles de amigo que torce de verdade.
— Ótimo. Então amanhã, nove da manhã, na agência. Vou te apresentar a equipe.
— Amanhã? Já assim?
— Melhor começar antes que você desista. — Ele brincou, piscando.
Os dois riram.
Ela pegou a bolsa, pronta para ir embora, mas antes de sair, Miguel segurou levemente o braço dela.
— Clara… eu sei que você não me contou tudo o que tá acontecendo… mas só pra você saber… se precisar de alguém pra conversar, pra desabafar… tô por aqui, tá? Sempre estive.
Ela sentiu o peito aquecer com aquela frase.
— Obrigada, Miguel. De verdade.
No caminho de volta para casa, Clara mal conseguia conter o sorriso. Por dentro, era como se uma parte dela… uma que ela achava morta… estivesse acordando aos poucos.
Ao estacionar na garagem, desligou o carro e respirou fundo.
Sabia que, ao atravessar aquela porta… voltaria a encarar Eduardo, o casamento falido e toda a tensão que ainda os cercava.
Mas dessa vez, ela tinha algo que não tinha antes:
Um plano.
Um propósito.
E, quem sabe… uma nova história prestes a começar.
Eduardo estava na sala, no celular, rindo de algo que ela não se importou em saber o que era.
Quando a viu entrando, parou de rir por um instante, apenas observando enquanto ela passava direto por ele.
Clara subiu as escadas com passos leves, como se o peso dele já não a alcançasse mais.
E, pela primeira vez em muito tempo… era verdade.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Dulce Gama
tô adorando oque Clara esta fazendo com o Eduardo dando um gelo nele agora ela vai crescer proficionalmente quando ele perceber já perdeu ela acho bom 👍👍👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟🌟
2025-06-19
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