O despertador tocou antes mesmo das sete, mas Clara já estava desperta.
Passara a noite em claro, entre ansiedade e uma estranha empolgação que fazia tempo que não sentia.
Levantou com determinação, foi até o guarda-roupa e escolheu uma roupa simples, mas elegante: uma calça de alfaiataria azul, uma blusa branca com detalhe em renda nas mangas e um sapato confortável.
No espelho, passou uma maquiagem leve e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo despretensioso.
Ao olhar seu reflexo, sentiu algo que há tempos não sentia: orgulho.
Na cozinha, encontrou Eduardo sentado à mesa, de pijama, mexendo no celular com um sorriso bobo nos lábios.
Claramente, mandando mensagens para Amanda.
Ela passou por ele como se fosse invisível. Pegou a bolsa e as chaves com a naturalidade de quem não devia explicações.
Mas antes de sair, ele ergueu os olhos.
— Você vai sair de novo essa hora?
Ela respirou fundo, sem se virar.
— Vou. Primeiro dia de trabalho.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— É sério? Achei que fosse só um surto passageiro.
Ela girou nos calcanhares, encarando-o com um sorriso de pura ironia.
— Eduardo… o único surto que eu tive foi ter te levado a sério por tanto tempo.
E saiu, deixando-o boquiaberto na cadeira.
Ao chegar na agência, Clara foi recebida com sorrisos e energia boa. Miguel a apresentou formalmente à equipe logo cedo.
— Galera, essa é a Clara. Nossa nova coordenadora de marketing. E antes que alguém pergunte… sim, ela é brilhante. — Ele disse, piscando para ela.
Clara sorriu, corando levemente.
Passou o dia mergulhada em briefings, reuniões rápidas e dinâmicas de equipe. A cada sugestão dela, os colegas se mostravam receptivos e atentos. Aos poucos, ela foi se soltando, percebendo que ainda sabia fazer aquilo. Que ainda tinha ideias, que sua opinião era relevante.
Miguel, sempre por perto, fazia questão de incluí-la em tudo.
Por volta das cinco da tarde, quando a maioria já começava a desligar os computadores, a colega da criação, uma garota de cabelo curto e sorriso fácil chamada Luísa, puxou o assunto:
— Gente! Primeira semana da Clara… precisamos comemorar! Happy hour hoje? Quem topa?
Os outros rapidamente concordaram.
— Boa! — Miguel completou, animado. — Clara, você tá convocada. Sem desculpas.
Ela hesitou por um segundo.
Parte dela pensou em voltar direto pra casa…
Parte dela pensou em Eduardo…
Mas, no fim, a parte dela que mais importava naquele momento gritou mais alto.
— Tô dentro.
O grupo seguiu para um barzinho charmoso a poucas quadras da agência. O lugar tinha luzes penduradas, mesas de madeira, música ao fundo e um clima acolhedor.
Cerveja, caipirinhas, petiscos… risadas e histórias de clientes antigos começaram a preencher a noite.
Clara, que no início apenas ouvia, logo começou a se soltar. Contou episódios engraçados da época da faculdade, riu das piadas internas da equipe e percebeu que… fazia anos que não se sentia tão leve.
Em um momento, enquanto ela pegava um guardanapo para limpar uma gota de cerveja que caiu na blusa, Miguel se inclinou até ela e disse em tom baixo, só para que ela ouvisse:
— Você não faz ideia de como é bom te ver assim… de novo.
Ela o encarou por um instante.
O olhar dele era gentil… mas havia algo mais ali.
Uma intenção silenciosa, um cuidado genuíno.
O estômago dela deu um leve salto, mas ela apenas sorriu, desviando o olhar antes que a conversa ganhasse um rumo que ela não sabia se estava pronta para seguir.
Enquanto isso, em outro canto da cidade, Eduardo estava no apartamento de Amanda.
Deitado no sofá, com ela aninhada ao peito dele, rindo de alguma série idiota na TV.
Ele estava confortável… tranquilo…
Sem fazer ideia de que, naquele exato momento, a mulher que ele sempre julgou submissa… estava ocupada sendo feliz… longe dele.
Já passava das dez da noite quando Clara chegou em casa.
Entrou em silêncio, tirou os sapatos na porta para não fazer barulho e subiu para o quarto. Eduardo não estava.
Ótimo.
Deitou-se na cama, com o coração leve e a cabeça cheia de pensamentos bons.
Antes de dormir, pegou o celular e viu uma mensagem de Miguel:
“Valeu por hoje. Foi bom te ter por perto. :)”
Ela sorriu.
Respondeu apenas:
“Foi bom pra mim também.”
E, com essa pequena troca de mensagens… o que antes era só uma amizade adormecida… começava, lentamente, a ganhar um novo significado.
Enquanto Clara dormia em casa, com um sorriso leve nos lábios após o happy hour com os colegas, Eduardo vivia uma realidade completamente diferente… e totalmente alheio à nova fase da esposa.
No apartamento de Amanda, o clima era outro.
O relógio já marcava quase duas da manhã, e Eduardo estava largado na cama dela, o corpo ainda suado, com os lençóis embolados ao redor da cintura.
Amanda, ao lado dele, sorria satisfeita, o cabelo desgrenhado, os lábios marcados pelos beijos quentes de horas antes.
Cinco vezes.
Eles tinham transado cinco vezes desde que ele chegou.
Como dois adolescentes descontrolados.
E mesmo assim… ela queria mais.
Mais dele. Mais atenção. Mais presença. Mais tudo.
Mas agora, ele dormia profundamente, exausto, com o peito subindo e descendo de maneira ritmada.
Amanda o observou por alguns segundos, com o olhar de quem analisava cada detalhe. O jeito que ele respirava… o formato dos ombros… o leve sorriso de sono que ele tinha depois do sexo.
Ela estendeu a mão até a mesinha de cabeceira, pegou o celular dele e desbloqueou com facilidade. Eduardo nunca tinha colocado senha nova.
Confiança demais.
Ingenuidade demais.
Abriu a câmera… e, com cuidado, ajeitou o cabelo, deixando os próprios ombros nus à mostra. Se deitou ao lado dele, se encostou bem, posicionou o rosto perto o suficiente pra parecer íntimo… íntimo demais.
Clicou.
Uma foto.
Os dois juntos na cama. Ele dormindo, ela com um sorriso satisfeito.
Amanda analisou a imagem… ficou perfeita.
Sugestiva o suficiente para deixar qualquer esposa fora de si.
Sem pensar duas vezes, abriu a lista de contatos recentes.
O número de Clara estava ali, logo abaixo das últimas chamadas que Eduardo tinha feito dias antes.
Digitou uma mensagem rápida:
“Enquanto você dorme sozinha… ele dorme assim.”
Anexou a foto.
E, antes que a consciência pudesse gritar qualquer coisa, apertou o botão de enviar.
O celular de Eduardo vibrou em cima da cômoda.
Amanda apenas sorriu, satisfeita, e largou o aparelho de volta ao lugar.
Deitou-se ao lado dele, abraçando-o possessivamente, como se quisesse gravar na pele que, naquela noite… ele era só dela.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Ana Souza
rarara concordo com você
2025-06-21
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Dulce Gama
tomara que Eduardo se estrepe com essa Amanda que quando perceber será tarde 🌟🌟🌟🌟🌟🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️👍👍👍👍👍👍
2025-06-19
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