De volta ao quarto, Sabrina trancou a porta duas vezes e fechou as cortinas. O HD estava sobre a escrivaninha, conectado ao notebook antigo que ela usava apenas para a investigação. Era velho, lento, mas confiável — e completamente offline.
Deyse sentou ao lado, em silêncio. Nenhuma das duas havia dormido desde Erlensee.
A pasta do HD estava protegida por senha. Após algumas tentativas e tentativas, Sabrina digitou a data que nunca esquecia: 10/02/2021 — o dia em que seu pai foi assassinado.
Acesso concedido.
O conteúdo era dividido em três pastas principais:
Testes Sigma
Relatórios Classificados
Material de Observação – R.M.
Sabrina abriu a última primeiro. As iniciais eram as do pai: Roberto Martins.
Dentro, dezenas de vídeos curtos com datas e horários, alguns nomeados como "Fase 1", "Fase 2", "Exposição 03", "Comportamento S-17".
Ela clicou no primeiro.
> O pai dela aparecia em uma sala branca, segurando uma prancheta. Parecia nervoso.
— Sujeito S-17 apresentou lapsos de memória e alteração no padrão de sono após exposição ao sinal. A frequência auditiva não é perceptível a todos, mas... minha filha reagiu. Ela parou no meio da escada. Disse que tinha ouvido alguém me chamar — mesmo estando sozinha.
Sabrina congelou.
— Eu me lembro disso... — murmurou. — Eu tinha 12 anos. Achei que era um sonho.
Outro vídeo. O pai falava com alguém fora da câmera:
> — A ideia era limitar os testes à população carcerária, mas eles querem escalar. Usar sinais em transmissões públicas, em redes sociais, até em música ambiente. Acham que podem controlar comportamentos em massa.
Eu só queria entender. Mas agora... estou sendo vigiado. Ontem, desliguei meu celular e ele ligou sozinho.
Mais abaixo, um relatório digital:
“Fase 3 – Teste em ambiente doméstico autorizado com sujeito S-17 (exposição indireta).”
Sabrina recuou na cadeira.
— Sujeito S-17 sou eu... — sussurrou. — Ele me usou num teste. Mesmo sem querer.
— Ou ele tentou te proteger e documentar os efeitos — disse Deyse, suavemente. — E isso foi o que o condenou.
Havia áudios também. Arquivos com ruídos quase imperceptíveis. Quando Sabrina clicou em um deles, sentiu um calafrio na espinha. Era um som grave, intermitente. Mal dava pra ouvir, mas despertava algo ruim.
Um desconforto irracional.
Uma... raiva.
— Desliga isso — disse Deyse, cobrindo os ouvidos.
Sabrina obedeceu. Mas uma ideia já tinha se cravado na cabeça dela:
E se era isso que estavam usando? E se as pessoas estavam sendo manipuladas sem saber?
E se algumas, como ela, conseguiam resistir — e por isso eram eliminadas?
Antes de desligar o notebook, Sabrina notou um último vídeo.
Sem título.
Sem data.
Apenas uma imagem congelada.
Ela clicou.
A imagem tremia, e o pai aparecia de novo. Mas agora, ele falava direto para a câmera, suando, nervoso, olhando por cima do ombro.
> — Sabrina... se algum dia você vir isso, é porque eles me acharam.
Não confie em ninguém. Nem na polícia. Nem no governo. Nem na empresa.
E se ouvir vozes... não responda.
Elas sabem quando você escuta.
A tela ficou preta.
Deyse virou lentamente para a amiga.
— Isso tá indo longe demais.
Sabrina, pálida, só conseguiu sussurrar:
— Eu ouvi. Semana passada. Achei que era um pesadelo… mas eu ouvi meu nome.
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Atualizado até capítulo 95
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