O porão parecia mais profundo do que o térreo da casa sugeria. Cada degrau que Sabrina descia rangia, como se gritasse para que ela voltasse. A luz era quase inexistente, exceto por uma fresta estreita vinda de uma janela minúscula, coberta de poeira.
Deyse ficou no topo da escada.
— Sabrina, por que você tá fazendo isso? Vamos embora, agora!
— Só preciso ver o que tem lá... — respondeu, a voz baixa e firme, mas o medo martelava no peito.
O som de algo se arrastando havia sumido.
O que restava era aquele silêncio sufocante, como se a própria escuridão observasse. Quando Sabrina alcançou o último degrau, seus pés afundaram levemente em algo macio. Tapetes velhos. Ou... algo mais. Um cheiro pútrido se intensificou.
Foi quando ela viu.
No canto do porão, uma espécie de altar improvisado. Fotos queimadas — reconheceu o pai em uma delas, metade do rosto chamuscado. Ao lado, uma vela apagada e uma caixa de madeira pequena, trancada com um cadeado.
E ali, ao lado da caixa, estava uma pasta velha e rasgada com o nome da empresa onde seu pai trabalhava.
Ela se agachou para pegar.
CRACK.
Um som seco de madeira partindo ecoou pelas costas dela. Algo caiu no chão acima, no térreo.
Deyse gritou:
— SABRINA, TEM ALGUÉM AQUI!!
Sem hesitar, Sabrina agarrou a pasta e correu escada acima. Quando emergiu no corredor, viu Deyse pálida, olhando para o fim do corredor onde uma sombra se movia. Rápida. Inumana.
A porta da frente se fechou com um estrondo.
— POR AQUI! — Sabrina puxou Deyse pela mão, e as duas correram pela cozinha até a porta dos fundos. Trancada.
Sabrina chutou. Uma. Duas. Na terceira, a madeira cedeu. Elas passaram com o corpo, arranhando os braços nos farpados. Do outro lado, o quintal cheio de entulho e mato alto. Correram sem olhar pra trás, o som de passos — pesados, precisos — atrás delas.
Pulando a cerca, Deyse caiu, arranhando o joelho. Sabrina a puxou.
— VAI, DEYSE!
Elas correram pela rua deserta, respirando com dificuldade, até se jogarem dentro do carro de Deyse. A porta foi trancada com um clique desesperado. Silêncio. Apenas o som do motor sendo ligado e o carro arrancando com as rodas cantando no asfalto.
A sombra não saiu da casa.
Mas as observava pela janela.
Com olhos que pareciam… saber demais.
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Já em segurança, estacionadas em uma rua afastada, Sabrina abriu a pasta. Documentos. Relatórios. Uma lista de nomes. Inclusive o do pai.
E uma anotação rabiscada à mão:
“Projeto Sigma — arquivos desaparecidos, ameaça interna, eliminar contato.”
Deyse olhou pra ela, ofegante.
— O que é isso?
— Uma pista. A primeira de verdade em dois anos.
Sabrina não sorriu. Ela sabia.
Aquilo não era o começo.
Era o fim da linha segura. A partir dali, não haveria mais volta.
Sabrina por sua vez, tinha os sentimentos confusos por dentro... Não dormia bem, não comia bem, havia desistido de tudo, inclusive dos seus sonhos mais antigos... Nada mais lhe dava prazer, sua vida inteira se baseava na boa amizade que tinha com seu pai...
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Atualizado até capítulo 95
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