(Querido leitor, ao reler a minha história percebi uma grande falha nesse cap... Na hora de passar do Word para cá, percebi que estava a faltar grande parte do cap! Peço mil desculpas a vocês!)
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Acordei com um barulho tão alto que parecia querer partir o céu ao meio. Meus olhos se abriram, e um clarão iluminou meu quarto, como se quisesse assustar de propósito. Agarrada ao meu dragão de pelúcia, fiquei bem quietinha, tentando ignorar a janela. Mas era impossível não ver as sombras dos galhos das árvores lá fora, balançando como se fossem garras enormes tentando me pegar.
Respirei fundo. “Eu consigo, eu consigo…” pensei, mas quando um trovão ainda mais forte ribombou, me encolhi toda. Não dava mais! Larguei meu dragão na cama e saí correndo pelo corredor. Meus pés descalços faziam barulhinhos no chão de madeira enquanto eu corria o mais rápido que podia. Eu sabia exatamente para onde ir: o quarto do papai.
Empurrei a porta e subi na cama dele sem nem pensar duas vezes, puxando a manga da camisa dele com força.
– Pai... tem um monto no meu quarto! – anunciei, ainda tremendo.
Ele piscou, sonolento, e olhou para mim com aquela cara engraçada de quem não entende nada.
– Um... o quê? – perguntou, tentando não rir.
– Um monto, pai! – insisti, segurando firme no braço dele. Como ele não estava levando a sério?
Ele bocejou e se sentou na cama, bagunçando o cabelo. Depois, me pegou no colo e se levantou.
– Certo, vamos ver esse “monto” que está incomodando minha menina – disse ele, com um sorriso encorajador. – Vou dar um jeito nele.
Me agarrei ao pescoço dele, ainda nervosa, mas com a certeza de que ele era mais forte que qualquer coisa. Quando chegamos ao meu quarto, tudo estava escuro e silencioso de novo. Apontei direto para a janela.
– Ali! Olha o monto ali! – falei, apertando a mão dele.
Papai olhou para a janela com seriedade, como se estivesse estudando o tal "monto". Eu prendi a respiração. Depois de alguns segundos, ele balançou a cabeça e murmurou:
– Hm, você tem razão. Parece um “monto” bem mal-encarado.
Meus olhos se arregalaram ainda mais. Eu sabia!
Então ele estalou os dedos, e uma chama azul flutuante apareceu na nossa frente, iluminando o quarto. Papai caminhou devagar até a janela, comigo agarrada no pescoço dele. Ele abriu a janela e deixou a luz do fogo iluminar os galhos que balançavam lá fora.
– Tá vendo, pequena? – ele disse, apontando para o galho. – É só um galho bobo. Nem de longe é um monstro.
Olhei desconfiada, mas, depois de um tempo, percebi que ele tinha razão. Era só um galho. Ainda assim, quando outro trovão estrondou lá fora, eu me encolhi e apertei o papai com todas as forças. Ele suspirou e me abraçou.
– Ah, acho que hoje você vai dormir comigo, não é? – ele disse, rindo baixinho. – Para ser sincero, eu também tenho um pouquinho de medo de trovões. Por isso, acho que preciso da sua ajuda para ser corajoso.
Meu coração se acalmou. “Papai também tem medo…”, pensei, me sentindo menos sozinha. Sorri e o abracei, contente por ele confiar em mim.
– Mas sabe – ele continuou –, o trovão não é perigoso. Ele é só o som do raio. Não pode machucar você, só faz barulho. – Ele fez uma pausa e sorriu. – Mas acho que, quando a chuva passar, podemos trabalhar sua fala. O que acha de aprender a falar “R” direitinho?
Fiz um biquinho e resmunguei.
– Tá bom... mas só se o flovão parar de encher o saco.
Ele me abraçou ainda mais forte.
– Combinado.
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Na manhã seguinte, acordei com um cheirinho delicioso vindo da cozinha. Pulei da cama e segui o aroma, encontrei o papai mexendo algo na panela. Ele estava concentrado, mas quando me viu, abriu um sorriso largo.
– Sopa de arroz com ovo e tomate, feita especialmente pra minha guerreira que enfrentou o “flovão”! – anunciou, me entregando um pratinho quentinho.
Sentei à mesa, já com a barriga roncando, e comecei a comer. A cada colherada, meus olhos brilhavam mais.
– Isso tá muito bom, papai! – falei, balançando as pernas animada. – Eu amo ovo!
Ele parou por um segundo, olhando para mim com uma expressão curiosa e, ao mesmo tempo, preocupada.
– Você ama ovo? – ele repetiu, coçando o queixo. – Tipo... ama mesmo?
Eu assenti vigorosamente, com a boca cheia, e ele suspirou, olhando para a panela.
– Hm... acho que vou precisar arrumar um galinheiro – murmurou para si mesmo, com uma mão no queixo, pensativo.
Arregalei os olhos, sem entender direito.
– Um galilheiro? O que é isso?
– Não, pequena, galinheiro. É onde as galinhas vivem. Se você ama ovos assim, talvez eu precise arrumar umas galinhas para garantir que sempre tenhamos ovos frescos. – Ele me olhou com uma expressão de brincadeira. – Ou você quer que o papai saia correndo atrás de galinhas selvagens toda vez que quiser ovo?
Imaginar ele correndo atrás de galinhas na floresta me fez rir tanto que quase engasguei. Ele colocou a mão na cintura, fingindo estar bravo.
– É sério, sabia? Imagina só: eu correndo pela floresta, com galinhas voando pra todo lado, enquanto você fica sentadinha aqui esperando. Isso não parece justo.
Eu continuei rindo, e ele revirou os olhos de brincadeira.
– Tudo bem, por enquanto eu vou me virar sem o galinheiro. Mas, se você continuar assim, vou ter que começar a negociar com as galinhas da vila.
Depois que terminei de comer (e raspei o prato, porque estava mesmo muito bom), ele cruzou os braços.
– Agora que minha guerreira já está alimentada, é hora de trabalharmos sua fala – anunciou, apontando para o sofá. – Hoje, eu sou seu professor de “fonoaudiologia”.
Sentei no sofá animada, e ele se ajoelhou na minha frente, misturando uma cara séria com uma expressão divertida.
– Vamos começar com o som do “R”. Repita comigo: Rrrrrrrr.
Tentei repetir, mas o som saiu meio estranho, mais parecido com “Lrrrrl”. Ele riu, balançando a cabeça.
– Tudo bem, de novo. Sem pressa.
A cada tentativa, ele me incentivava, fazendo caretas tão engraçadas que eu não conseguia parar de rir. Entre as risadas e os sons atrapalhados, fui pegando...
O jeito. No final, consegui fazer o som do “R” mais ou menos certo. Papai abriu um sorriso tão grande que parecia que eu tinha feito algo incrível.
– Muito bem, minha campeã! – ele exclamou, me levantando e girando no ar. – Você está progredindo rápido, pequena!
Passei o resto do dia pensando que, com papai ao meu lado, não tinha medo, flovão ou qualquer desafio que eu não pudesse vencer.
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Aos meus 12 anos…
Enquanto caminhávamos pela floresta, meu pai segurava um livro antigo, suas mãos deslizando pelas páginas amareladas. Ele olhou para mim com aquele sorriso que sempre fazia parecer que algo mágico estava prestes a acontecer.
– Hoje, vou contar uma história sobre os Dragões Primordiais – começou, com a voz envolvente e cheia de mistério.
Endireitei a postura, já sentindo a empolgação crescer. Ele sempre fazia as histórias parecerem reais, como se ele tivesse estado lá.
– Há muito, muito tempo – ele continuou –, antes mesmo dos céus se separarem da terra, havia um dragão colossal chamado Auren. Ele não era como os dragões que conhecemos hoje, menores e preocupados com suas riquezas. Não. Auren era o primeiro dragão, o que deu origem a todos os outros. Ele tinha escamas douradas que brilhavam tanto que podiam ser vistas do outro lado do mundo. Dizem que seu coração era feito de fogo puro, um fogo tão poderoso que podia criar vida, mas também consumir tudo.
Ele fez uma pausa, virando uma página com cuidado, fazendo com que minha curiosidade aumentasse mais ainda.
– Auren vivia em equilíbrio com o universo – ele explicou. – Até que, um dia, uma estrela cadente atravessou o céu e caiu em sua montanha. Auren, curioso, foi até o local onde a estrela havia caído e encontrou algo que nunca tinha visto antes: uma pedra negra, mas não uma pedra comum. Ela sussurrava segredos, mostrando imagens de mundos que ele não conhecia. Era a Semente do Vazio.
Eu arregalei os olhos.
– A Semente do Vazio? O que é isso?
Papai sorriu, com aquele ar de quem sabia que eu estava presa na história.
– A Semente do Vazio era um fragmento do nada. Um pedaço do universo antes da criação. Dizem que ela tinha o poder de desfazer tudo que existia, de engolir mundos inteiros. Mas também tinha um poder tentador: a promessa de que, com ela, Auren poderia criar o que quisesse. Um novo céu, uma nova terra, até mesmo novos mundos.
Ele fez uma pausa dramática, olhando para mim.
– E sabe o que ele fez?
– O quê?! – perguntei.
– Auren pegou a semente – respondeu ele, baixando o tom de voz para criar suspense. – E a plantou no centro do mundo.
Meus olhos estavam arregalados.
– Ele plantou? Mas... o que aconteceu?
– Quando a semente começou a crescer, ela se transformou em algo incrível: a Árvore da Eternidade. Suas raízes se espalharam por todo o mundo, e seus galhos alcançaram o céu. Cada folha brilhava como uma estrela, e dela nasceram outros dragões. Os Dragões Primordiais. Cada um com um poder diferente: fogo, gelo, tempestade, terra, e tempo.
Ele virou outra página, mostrando uma ilustração de uma árvore colossal, com dragões ao redor dela.
– Mas – ele disse, com um tom mais sombrio – o poder da árvore era tão grande que atraiu outros seres. Criaturas das sombras, que vieram do vazio, queriam a árvore para si. Foi aí que começou a primeira guerra dos dragões.
– E Auren? Ele lutou?
Papai assentiu, seus olhos brilhando enquanto contava a parte mais emocionante.
– Auren liderou os dragões em batalha. Foi a luta mais feroz que o mundo já viu. Dizem que, naquela guerra, os céus ficaram vermelhos e a terra tremeu por sete dias. No final, Auren conseguiu proteger a árvore, mas pagou um preço alto. Ele sacrificou sua essência para selar a Semente do Vazio novamente, enterrando-a no coração da montanha onde tudo começou.
Ele fechou o livro suavemente e me olhou.
– E é por isso que os dragões são tão especiais. Porque mesmo tendo poder suficiente para destruir o mundo, eles escolheram protegê-lo.
Fiquei em silêncio, pensando na história. Depois, olhei para ele.
– Pai... você acha que ainda existem dragões como Auren?
Ele sorriu, e havia algo misterioso em seu olhar.
– Talvez – disse ele, acariciando meu cabelo. – Talvez estejam escondidos, esperando o momento certo para aparecer de novo. Afinal, quem sabe quantos segredos o mundo ainda guarda?
Eu sorri, imaginando um dragão dourado voando entre as nuvens. Papai sempre sabia como fazer o mundo parecer cheio de magia.
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Enquanto ela dormia na grama, fechei o livro antigo e ajeitei a capa com cuidado, garantindo que o vento frio da floresta não a incomodasse. Um sorriso sereno surgiu em meu rosto enquanto observava o sono tranquilo, como se aquele momento fosse um refúgio do mundo. Foi então que senti algo mudar no ar: uma energia familiar e distante.
Darien levantou o olhar, e sua expressão ficou mais séria ao ver um mensageiro do Palácio Celestial descendo do céu. A figura desceu envolta em luz dourada, vestindo trajes cerimoniais que reluziam como estrelas. Quando seus pés tocaram o chão, o mensageiro fez uma reverência respeitosa, mas antes que pudesse falar, Darien ergueu a mão.
– Shhh... – ele sussurrou, apontando para a criança deitada ao seu lado. – Fale baixo. Ela está dormindo.
O mensageiro hesitou, franzindo o cenho diante da ordem incomum, mas obedeceu, inclinando-se levemente e baixando o tom.
– Perdão, grande Darien – começou ele, em um sussurro. – Venho em nome dos anciões do Palácio Celestial. As tensões entre o Reino Celestial e o Mundo Sombrio aumentaram rapidamente. Sua presença é solicitada imediatamente. O equilíbrio dos reinos está em risco, e sua força é essencial para restaurá-lo.
Darien soltou um suspiro pesado, cruzando os braços enquanto mantinha o olhar firme no mensageiro.
– Vocês ainda estão arrumando confusão com o Mundo Sombrio? – murmurou ele, balançando a cabeça. – Quantas vezes já avisei para não provocarem eles sem uma boa razão?
O mensageiro hesitou, como se soubesse que a conversa não seguiria como planejado. Mesmo assim, insistiu.
– Desta vez é diferente, grande Darien. As forças do Reino Sombrio ameaçam romper o equilíbrio dos mundos. Se o senhor ascender, sua presença como divindade seria uma proteção eterna. Os anciões acreditam que sua força é decisiva. Eles se perguntam por que ainda não tomou seu lugar entre os deuses.
Darien riu baixinho, uma risada carregada de cansaço e ironia, antes de balançar a cabeça.
– Já cumpri minha parte, mensageiro. Por séculos, resolvi problemas que não eram meus. Eu lutei, protegi, e no fim, sempre arranjavam outra crise para que eu consertasse. Agora, minha prioridade é outra. Vocês que resolvam isso.
O mensageiro apertou os lábios, claramente desconfortável com a recusa, mas antes dele continuar, Darien o cortou com um olhar sério.
– E fale mais baixo – disse ele, com firmeza, apontando para mim novamente. – Ela precisa descansar.
O mensageiro respirou fundo, aceitando que nada mais poderia ser feito. Ele fez uma reverência final, ainda relutante, e desapareceu em uma explosão de luz dourada, deixando Darien e o silêncio da clareira. Ele olhou para mim mais uma vez, o sorriso suave voltando ao rosto enquanto ajeitava uma mecha do meu cabelo.
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No alto das nuvens cintilantes, no coração do Palácio Celestial, os deuses reuniram-se no grande salão dourado. O ambiente brilhava com uma luz etérea, refletida nas tapeçarias bordadas com cenas de batalhas antigas e vitórias divinas.
No centro da sala, estava o Supremo Tien, com sua presença imponente, observava os outros deuses tomarem seus lugares em meio a murmúrios tensos.
O deus das estrelas, Kiran, levantou-se de sua cadeira elevada. Ele era magro e elegante, seus cabelos brilhando como a poeira estelar, e os olhos refletindo galáxias distantes.
– Supremos – começou ele, com uma voz profunda e calma que ecoava pelo salão. – As estrelas sussurram sobre um desequilíbrio iminente. Algo antigo e sombrio está despertando. Algo que ameaça os três reinos.
Os deuses trocaram olhares preocupados, enquanto Kiran fazia um gesto no ar, conjurando um mapa estelar que flutuava acima deles.
– Vejam – continuou ele, apontando para as constelações que piscavam de maneira anormal. – O brilho de Órion enfraqueceu. As estrelas que preveem harmonia estão em desalinho. E mais ao sul, uma nova sombra obscurece o Firmamento. Isso não é apenas um presságio. É uma catástrofe em gestação.
Tien franziu o cenho, sua expressão severa.
– Que tipo de catástrofe estamos enfrentando, Kiran?
– Uma nova onda escura, muito mais forte desta vez. – respondeu ele, com a voz sombria. – Capaz de consumir os três reinos. O Reino Sombrio já está em movimento, e a guerra será inevitável. Precisamos agir antes que seja tarde.
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A tensão no salão aumentou. Outros deuses murmuravam entre si, claramente inquietos. Kiran olhou diretamente para Tien.
– Por isso enviei meu mensageiro até Darien. Ele é o único que pode enfrentar essa ameaça. Sua força é incomparável. No passado, ele enfrentou exércitos inteiros e saiu vitorioso. Sua presença entre nós é crucial.
Os deuses assentiram, concordando com a urgência da situação. Contudo, o silêncio foi rompido quando o mensageiro de Kiran entrou no salão, sua expressão visivelmente tensa. Ele fez uma reverência ao Supremo Tien antes de falar.
– Supremo, sinto dizer, mas… Darien recusou o chamado.
O salão mergulhou em murmúrios de choque e indignação. Kiran levantou-se abruptamente.
– Como ele ousa recusar?! – exclamou. – Ele é praticamente um deus da guerra. Ninguém mais possui o poder que ele tem. Ele não pode simplesmente virar as costas ao Palácio Celestial!
Tien levantou uma mão, silenciando o salão. Ele olhou para o mensageiro, sua voz controlada, mas afiada.
– Diga-nos, mensageiro. O que exatamente ele disse?
– Ele disse que os problemas entre o Reino Celestial e o Mundo Sombrio surgem porque o Palácio continua interferindo. Disse que não voltará para resolver crises que não são dele e que, agora, tem responsabilidades mais importantes.
Os murmúrios recomeçaram, desta vez mais intensos. Kiran balançou a cabeça, incrédulo.
– Responsabilidades? Que responsabilidades poderiam ser mais importantes do que salvar os reinos?
O mensageiro respirou fundo antes de responder, como se relutasse em continuar.
– Ele estava... cuidando de uma criança – disse o mensageiro. – Uma menina que se parecia muito com ele.
O silêncio que se seguiu foi cortante. Então, como uma explosão, os deuses começaram a falar todos ao mesmo tempo.
– Uma criança mortal? – exclamou um deles.
– E se for filha dele? – sugeriu outro, com um tom de escárnio. – Um dragão de sua estirpe, desperdiçando seu poder com uma criança mortal?
– Isso é uma vergonha para os dragões milenares! – exclamou um deus mais velho. – Ele escolheu viver como um mortal em vez de ascender como um deus!
Tien permaneceu calado, seus olhos fixos no mensageiro, mas sua expressão era de puro desagrado.
– Se essa criança é importante para ele, talvez possamos usá-la para trazê-lo de volta.
Finalmente, ele falou, sua voz cortando o barulho como uma lâmina.
– Precisamos de Darien, e se isso significa usar seus laços mortais contra ele... então que assim seja.
Os deuses entreolharam-se em silêncio, o peso das palavras ecoando no grande salão. Alguns pareciam desconfortáveis com a sugestão, mas ninguém se atreveu a desafiá-lo diretamente. Tien analisava a situação com frieza calculista.
Foi Kiran quem quebrou o silêncio, erguendo-se novamente, seu tom carregado de pragmatismo.
– Se a criança é importante para ele, então temos a chave para trazê-lo de volta. Mas como procederemos? Darien não é tolo, e mesmo um erro mínimo pode levar à nossa ruína.
– Primeiro, precisamos confirmar – disse Tien, com calma. – Essa menina é de fato filha de Darien? E, se for, como ela chegou até ele?
Ele voltou-se para o Deus dos Laços Vermelhos, que ainda observava os fios flutuando em torno de sua mão. O deus assentiu e começou a trabalhar, suas mãos movendo-se de forma delicada, como se estivesse tecendo uma tapeçaria invisível. Após alguns momentos, um fio vermelho brilhou intensamente, conectando-se ao vazio e formando uma cena nítida no ar, como uma janela para o passado.
Os deuses inclinaram-se para frente, atentos ao que era revelado.
A visão mostrou Darien muitos anos atrás, vagando sozinho pelos reinos mortais. Ele parecia cansado, sua postura mais descontraída, embora os olhos mantivessem a vigilância de um guerreiro experiente. Ao seu lado caminhava uma mulher com longos cabelos negros e olhar afiado. A intimidade entre eles era evidente; ela confiava nele, e ele parecia encontrar uma companhia rara em sua presença.
Eles chegaram a uma cidade, e, naquela noite, entraram em uma taverna movimentada. Risadas e músicas enchiam o ar enquanto os dois se sentaram em um canto isolado. Contudo, enquanto conversavam e compartilhavam bebidas, algo estranho aconteceu. Um brilho sutil percorreu os copos, algo imperceptível a olhos comuns, e em poucos minutos ambos pareciam atordoados.
A cena mudou, mostrando Darien despertando na manhã seguinte em um quarto luxuoso, cercado por três mulheres que não reconhecia. Sua companheira de viagem, Kalista, entrou no quarto nesse momento, com uma expressão de choque e raiva ao vê-lo naquela situação. Antes que ele pudesse explicar, ela virou as costas e saiu, deixando-o confuso e sem chance de se justificar.
– Ela... manipulou a situação – murmurou o Deus dos Laços Vermelhos. – Kalista usou essa confusão para romper com Darien, mas ela já carregava um segredo.
A visão mostrou Kalista meses depois, já em seu reino, descobrindo que estava grávida. O rosto dela refletia orgulho ferido e medo. Seu pai, o imperador, ao descobrir a gravidez, ficou furioso. Temendo o escândalo que poderia desonrar a família, ele ordenou que o nascimento da criança fosse mantido em segredo.
Os deuses observavam enquanto a visão mostrava Kalista dando à luz em silêncio, a expressão dela dividida entre dor e amor ao segurar a filha pela primeira vez. Porém, o imperador tomou a criança de seus braços, declarando que ela seria sacrificada ao "demônio da Montanha Celestial” ao amanhecer, uma entidade mítica que o povo acreditava proteger a região.
– Ele ofereceu a própria neta como um presente ao que pensava ser um demônio – explicou o Deus dos Laços. – Mas, por obra do destino, o suposto demônio era Darien.
A cena mudou para a montanha onde Darien vivia em isolamento. Ele encontrou a criança no sopé da montanha, envolta em mantas finas. Por um momento, ele apenas olhou para o pequeno ser, com olhos confusos e ligeiramente irritados. Contudo, quando a menina abriu os olhos e fitou os dele, algo mudou. Ele sentiu um calor inexplicável e uma conexão que não entendia.
A visão apagou-se, e o salão ficou em silêncio. Os deuses absorviam as informações.
– Então, é assim que ela foi parar com ele – disse Tien, sua voz fria. – Uma coincidência do destino ou algo mais?
O Deus do Destino, que assistia em silêncio, deu um leve sorriso.
– Nem tudo passa por minhas mãos, Supremo. Mas algumas conexões... são inevitáveis.
O Supremo ignorou a provocação e voltou-se para Kiran e os outros.
– Essa menina é a filha dele. O que significa que ela é a chave para trazê-lo de volta. Precisamos de um plano.
Lilian, uma deusa conhecida por sua perspicácia e habilidades em manipulação, deu um passo à frente, cruzando os braços com um sorriso calculista.
– Usar magia seria tolice – começou ela, observando os rostos ao redor. – Darien é sensível a qualquer interferência mística. Qualquer tentativa de feitiço ou controle seria detectada instantaneamente, e todos sabemos o que ele faz com quem tenta enganá-lo.
– E qual seria sua proposta, Lilian? – perguntou Kiran, com um tom desafiador.
Ela inclinou a cabeça, o sorriso se alargando.
– Kalista. A mãe. Ela não sabe que a filha está viva. Se contarmos a ela, podemos despertar o instinto maternal que ela enterrou há anos. Basta convencê-la de que a menina está em perigo... que Darien representa uma ameaça à própria filha. Isso será suficiente para que ela colabore.
Kiran arqueou uma sobrancelha.
– E como a convenceremos de que Darien é uma ameaça? Ele criou a criança por doze anos. Kalista acreditaria que ele a protegeria.
– Não será difícil – respondeu Lilian, com confiança. – Kalista já guarda mágoa de Darien. Ela só precisa de uma semente de dúvida. Diremos a ela que, com o passar do tempo, a natureza dracônica de Darien o está consumindo, tornando-o perigoso até para aqueles que ama. Ela agirá para salvar a filha antes que seja tarde demais.
Tien assentiu lentamente.
– Muito bem, Lilian. Você será responsável por lidar com Kalista. Convença-a, mas certifique-se de que ela não suspeite. Cada passo deve ser calculado. Não podemos permitir erros.
– Será um prazer, Supremo – respondeu Lilian, com um sorriso triunfante.
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Enquanto isso, no alto da montanha, Darien ajeitava a capa sobre mim novamente, sentindo o vento mudar. Ele estreitou os olhos, percebendo que algo grande estava por vir. O ar ao redor parecia mais denso, ele olhou para o céu.
– Vocês nunca desistem, não é? – murmurou para si mesmo, antes de abaixar o olhar para mim. – Mas desta vez, não terão o que querem.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Gelcinete J. Rebouças
Fiquei triste com o que poderá vir
2025-06-19
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