Capítulo 3 – Novos Papéis

A luz do sol atravessava as enormes cortinas do quarto de Lua, invadindo o ambiente com uma claridade irritante. Ela virou o rosto, ainda sentindo a leve dor de cabeça deixada pela noite anterior na balada.

Lua (pensamento):

Foi só um beijo. Nada além disso. Não senti absolutamente nada. Como se meu corpo tivesse desaprendido a reagir…

Se espreguiçou, encarando o teto por alguns segundos. A lembrança do homem que beijara — cujo nome mal recordava — parecia distante, irrelevante. Amanda havia ficado até o fim com ela, como sempre. Gael? Aparecera na balada e sumira logo depois, como uma sombra silenciosa.

Depois de um banho rápido e uma escolha casual de roupa — jeans justo e uma blusa preta simples —, Lua desceu para o café.

Na sala de jantar, Lorenzo já estava à mesa. Camisa social branca, mangas dobradas até o cotovelo, olhos fixos em um tablet. Uma aura fria, imponente, que sempre parecia querer mantê-la à distância… ao menos na teoria.

Lorenzo (sem levantar os olhos):

— Dormiu bem?

Lua (puxando a cadeira):

— Dormi. Com exceção da ressaca, estou ótima. E você? Sonhou com os demônios do passado?

Ele ergueu os olhos devagar, e por um breve instante, os dois se olharam em silêncio. Uma tensão tênue preencheu o espaço entre eles.

Lorenzo:

— Tenho algo pra te dizer.

Lua (erguendo uma sobrancelha):

— Vai me casar com algum velho nojento do cartel? Porque se for, já adianto: fujo pela janela.

Lorenzo ignorou o tom sarcástico.

Lorenzo:

— A partir de amanhã, você começa a trabalhar comigo. Na Castellanos Corp, nossa fachada legítima.

Lua (surpresa):

— O quê?

Lorenzo (sério):

— É hora de você entender o outro lado do trono. O mundo que todos veem. Precisa aprender a manipular os dois.

Lua (encostando-se na cadeira):

— Achei que meu lugar fosse entre as sombras. Como você gosta de dizer...

Lorenzo:

— Você é mais do que isso. Vai lidar com contratos, reuniões e... aparências. Já passou da hora.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, observando Lorenzo com atenção.

Lua (pensamento):

Por que agora? O que ele está querendo com isso? Testar meu limite? Ou... me controlar mais de perto?

Lua (fingindo desinteresse):

— Tudo bem. Vai ser divertido ver os engravatados suando por minha causa.

Lorenzo desviou o olhar, mas um leve sorriso de canto escapou — ainda que rapidamente apagado.

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[Mais tarde – conversa entre Luana e Débora]

As duas estavam sentadas no terraço, com taças de vinho na mão. Débora observava a piscina vazia, mas seus olhos estavam distantes.

Luana:

— Lorenzo disse que vai colocar Lua na empresa.

Débora (franzindo o cenho):

— Não sei se isso é uma boa ideia...

Luana:

— Ela precisa aprender. E ele sempre foi um bom mentor.

Débora (com tom frio):

— Mentor demais, talvez.

Luana a olhou com atenção, mas escolheu não comentar. Ela conhecia aquela expressão. Débora escondia seus sentimentos sob uma capa de conselhos e boas intenções, mas a verdade era que nunca aceitou o laço entre Lua e Lorenzo — muito menos o carinho silencioso que ele demonstrava.

---

[Fim da tarde – Amanda e Gael]

Amanda estava no jardim, mexendo no celular, quando Gael passou por ela. Estava de roupa preta, impecável como sempre, com o olhar distante.

Amanda (sorrindo):

— Não vai me dar um “oi”, segurança?

Gael (sem parar de andar):

— Boa tarde, Amanda.

Ela o seguiu com os olhos, o sorriso ainda no rosto — mas menos animado.

Amanda (pensamento):

Ele nunca repara. Nem quando me aproximo, nem quando fico... óbvia. Só tem olhos pra ela. E mesmo assim finge não sentir.

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[Noite – Lua chega no quarto e Lorenzo está no corredor]

Lua subia as escadas quando deu de cara com Lorenzo parado no corredor, conversando com um dos seguranças. Assim que ele a viu, encerrou a conversa e ficou a observá-la enquanto ela se aproximava.

Lua (séria):

— Veio me fiscalizar?

Lorenzo:

— Vim lembrar que amanhã às oito você tem uma reunião com o setor de contratos. Não se atrase.

Lua:

— Uau. Mal comecei e já me colocaram na cúpula. Vou ganhar um bônus também?

Ele se aproximou um passo. O suficiente para que Lua sentisse o perfume amadeirado que ele usava. Seu olhar era intenso.

Lorenzo (baixo):

— Não brinque com o que é sério, Lua. Você pode se queimar sem perceber.

Lua (encarando de volta):

— E você pode parar de falar como se soubesse tudo o que eu penso.

O silêncio entre eles se arrastou por segundos. Longos, elétricos.

Lua (pensamento):

Por que meu corpo reage assim quando ele se aproxima? Não... deve ser só provocação. Nada além disso.

Lorenzo (pensamento):

Ela cresceu demais. Está ficando difícil manter as paredes entre nós... e elas já estão rachando.

Sem mais palavras, ele se afastou.

Lua:

— Boa noite, Lorenzo.

Lorenzo (de costas):

— Até amanhã, señorita Castellanos.

Ela entrou no quarto, jogou-se na cama e encarou o teto.

Lua (pensamento final):

Se essa guerra silenciosa continuar... alguém vai acabar perdendo. E não faço ideia de quem será.

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