04

— A Primeira Refeição

O grande salão de jantar da mansão em São Petersburgo estava silencioso, exceto pelo crepitar suave da lareira e o tilintar ocasional dos talheres de prata sendo dispostos à mesa.

A longa mesa de carvalho maciço parecia ainda maior agora, com apenas duas pessoas sentadas: ele, Alekséi Mikhailova, o Don da máfia russa, e ela… Katerina Mikhailova, agora oficialmente sua esposa.

Ela entrou no salão com passos firmes, o robe de seda escarlate escorrendo pelo corpo com uma elegância natural, como quem não se deixa intimidar pelo ambiente hostil ou pelo homem que agora dividia seu destino.

Os cabelos soltos, o olhar impassível — ela era a tempestade que ele nunca soube que desejaria enfrentar.

Alekséi já estava sentado na cabeceira, vestindo uma camisa preta, os primeiros botões abertos, revelando parte do peitoral tatuado.

Não sorriu, não a cumprimentou. Apenas inclinou levemente a cabeça, um gesto silencioso, quase imperceptível.

Katerina ocupou a cadeira ao lado, com a mesma frieza.

Servos rapidamente começaram a trazer pratos refinados: pelmeni, blinis com caviar, zakuski… comida típica russa, regada com vodka e vinho.

O silêncio entre eles era tão denso quanto a neblina do lado de fora.

Depois de alguns minutos, Alekséi quebrou o gelo, a voz grave e firme:

— Dormiu bem, esposa? — a última palavra foi dita com um certo gosto irônico.

Katerina ergueu lentamente os olhos para ele, o canto dos lábios curvado num meio-sorriso de desafio:

— Melhor do que esperava… sozinha na cama.

Ele riu, um som baixo e áspero, enquanto servia vodka em seu copo.

— Não completamente sozinha… eu estava no sofá. — Ele ergueu o copo num brinde cínico. — Por precaução.

Ela o imitou, erguendo também o copo, sem quebrar o olhar:

— Precaução… ou medo?

Alekséi arqueou a sobrancelha, divertindo-se com a provocação.

— Você acha que eu sou o tipo de homem que teme alguma coisa, Katerina?

Ela inclinou-se ligeiramente para frente, cruzando as pernas com elegância felina, e sussurrou:

— Acho… que você não está acostumado com mulheres que não se dobram aos seus pés.

Os olhos de Alekséi brilharam por um segundo, entre o fascínio e o desafio.

Ele apoiou o cotovelo na mesa, aproximando-se, a voz mais baixa, mais carregada de tensão:

— Você vai se dobrar, Katerina… mais cedo ou mais tarde.

Ela sorriu, fria, cortante:

— Não conte com isso, marido.

Por alguns segundos, só havia o som da respiração deles, pesada, carregada de algo não dito… algo prestes a explodir.

Então Alekséi recostou-se na cadeira, relaxando como quem saboreia o jogo.

— De qualquer forma… — ele passou a mão pela taça, os olhos ainda nela — … você é oficialmente a senhora da máfia russa agora. O Conselho está satisfeito. O mundo nos verá como um casal perfeito… mesmo que aqui dentro…

Ele deixou a frase no ar.

Katerina completou, com o olhar afiado:

— … não suportemos nem respirar o mesmo ar.

Ele sorriu de canto, levantou-se e deu a volta na mesa, parando atrás dela.

Katerina permaneceu imóvel, sentindo a presença dele tão próxima, tão densa.

Ele inclinou-se, os lábios próximos ao ouvido dela:

— Não se preocupe… logo, você vai querer muito mais do que respirar o mesmo ar que eu…

Ela fechou os olhos por um segundo, controlando o arrepio que percorreu a espinha, antes de virar o rosto e encará-lo de perto, com um sorrisinho debochado:

— Veremos, Alekséi… veremos.

Ele soltou uma risada baixa e, então, caminhou para fora do salão, deixando-a ali, sozinha, com o gosto do desafio, do poder e do desejo contido queimando em cada centímetro do seu corpo.

Ela pegou a taça, bebeu de um gole, e sussurrou para si mesma:

— Que comece o jogo… marido.

Após a tensa refeição, Katerina decidiu explorar a mansão Mikhailova. Não pediu permissão — jamais pediria. Ela sabia muito bem que agora aquele também era o seu território, gostasse Alekséi ou não.

Vestia uma calça de tecido preto e uma blusa justa de mangas longas, os cabelos presos num coque impecável. O frio de São Petersburgo forçava as janelas a permanecerem fechadas, mas o calor da mansão era sufocante, tanto quanto as regras não ditas daquele lugar.

Enquanto caminhava pelos corredores longos, ladeados por colunas de mármore e quadros antigos, sentia os olhos invisíveis dos seguranças e empregados a observarem.

Nada ali era comum: tapeçarias caras, espadas ornamentais, troféus de caça, vitrais que contavam histórias de sangue e poder… e em cada canto, a lembrança: ela agora era parte disso.

Parou diante de uma enorme porta dupla, entalhada com o símbolo da família Mikhailova: o lobo, com os dentes expostos, protegido por duas lâminas cruzadas.

Ao empurrar a porta, se deparou com uma biblioteca que parecia saída de outro século. Livros encadernados em couro, uma escada deslizante, uma lareira apagada e…

… no centro da sala, uma das maiores mesas de reuniões que já vira, ladeada por poltronas de couro.

Ali, com certeza, o Conselho se reunia para decidir quem vivia… e quem morria.

Ela percorreu os dedos pela madeira fria da mesa, e não pôde evitar o pensamento:

“Essa agora também é a minha guerra.”

De repente, ouviu uma voz às suas costas, grave e carregada de uma ironia familiar:

— Explorando a prisão dourada, esposa?

Ela girou o corpo devagar e o encontrou apoiado na porta, braços cruzados, com aquela expressão de quem sabia exatamente o quanto causava desconforto e fascínio ao mesmo tempo.

— Só estou conhecendo o que me pertence agora… — respondeu, altiva.

Ele deu um passo à frente, parando perigosamente perto dela:

— Pertence a você… e você pertence a mim.

Ela ergueu o queixo, desafiadora, e soltou:

— A ninguém. Nem a você, Alekséi.

Ele sorriu, aquele sorriso que era puro veneno e promessa ao mesmo tempo.

— Continue acreditando nisso…

E então se virou, saindo da sala com o mesmo silêncio com que havia entrado.

Sozinha, Katerina apertou com força o tampo da mesa e sussurrou:

— Maldito.

Mas, lá no fundo… um pequeno arrepio denunciava: ele mexia com ela mais do que gostaria de admitir.

Fim de capítulo

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