O QUARTO

Dalilla até engravidou de novo, e novamente contra a sua vontade. Ainda assim, mesmo sem ter escolhido aquele destino, ela amava o bebezinho que carregava na barriga com uma força que nem ela mesma entendia. Era uma menina. Dalilla imaginava como seria o rostinho da filha, como soaria sua risada… mas essas imagens frágeis e doces eram esmagadas pela brutalidade do homem com quem vivia. Mas uma vez a paternidade não atingiu ou modificou o caráter de Alberto.

Naquela noite, Alberto chegou em casa bêbado e drogado. Sim, parece que o estrago do álcool era pouco ele tinha que misturar com drogas, como tantas outras vezes, mas com os olhos ainda mais injetados de ódio. Sem dizer uma palavra, começou a agredi-la com chutes, murros, empurrões. Dalilla tentando fugir dos esporros, correu pelas escada, descendo para a sala, e, mesmo com o corpo frágil e a barriga já despontando, tentava escapar, se defender como podia, com os braços erguidos, com súplicas, ela implorava pela sua vida e pela da filha. Mas nada adiantava.

Ele batia com toda a sua raiva, como se quisesse descarregar nela cada frustração da própria vida miserável, sem se importar com o pequeno coração que pulsava dentro dela, com a vida que crescia silenciosa em seu ventre.

No calor do ataque covarde, Alberto a empurrou com força. Dalilla perdeu o equilíbrio e foi arremessada escada abaixo. O corpo bateu nos degraus, a cabeça, os braços, a barriga… Ela sentiu uma dor lancinante, um rasgo profundo, como se o mundo partisse ao meio ali, junto com ela. Durante a queda ela deseja a morte como se nela, sua alma e seu corpo teria em fim a paz.

Depois de tempos desacordada no chão. Como podemos imaginar Alberto não prestou nenhum tipo de socorro. Dalila recobra a consciência, o sangue já manchava suas pernas. Dalilla sente além da dor um vazio, sim seu bebezinho não suportou a queda e ela acabou perdendo o bebê de três meses. Sua menina…

Alberto a olhando para ela desde a queda do alto da escada, com desprezo. Disse, com a frieza e um sorriso no rosto de quem não conhecia o amor:

— Eu te odeio… qualquer dia eu vou acabar com você. Não suporto esse teu jeito, essa tua cara. Tenho nojo até do teu cheiro…

Depois de longas horas como se fosse possível, desceu e tentou ajudá-la, dizendo que a culpa de tudo aquilo era dela, tentando culpa- la por tudo que tinha acontecido, dizendo que a culpa era só dela, que ele só se defendia, que ela o provocava, que ela merecia.

Dalilla, ali, quebrada no chão, com a alma tão ferida quanto o corpo, sentiu, pela primeira vez, que não queria mais olhar para a cara daquele desgraçado. Pela primeira vez surgia um sentimento de querer matar de qualquer forma o Alberto. Não queria mais ficar perto dele, não queria mais aquela vida. Só queria pegar seu filho e ir embora dali, correr, fugir, sem nunca mais olhar para trás.

Mas Alberto não permitiu. Ajoelhou-se perto dela, segurou com força o braço que ela tentava recolher e, com a voz carregada de ameaça, sussurrou:

— Se você fugir… se levar meu filho… eu acabo com a sua família, um a um.

E ela soube, naquele instante, que ele seria capaz.

Meses depois, num domingo qualquer, Alberto surpreendeu: chamou Victor para brincar de baseball. Era estranho… ele nunca chamava o filho para brincar, não depois que Dalilla voltara a morar com ele. Desde então, ele só brigava com o menino, batia, fazia exigências absurdas, humilhava o garotinho a cada dia, como se fosse outro inimigo a ser combatido.

Mas, para não dizer que nunca levou o filho a lugar algum, um dia o levou. Só que não era um passeio, nem um presente. Levou o menino, então com apenas onze anos, para um lugar que julgava necessário para “fazer dele um homem”.

Alberto levou Victor para uma casa noturna.

Assim que Alberto irrompeu na casa, um cheiro pesado de cigarro e suor preencheu o ar. Seus olhos varreram o salão até encontrar uma das mulheres, o corpo dela encolhido em um canto. Com uma força bruta que fez a mulher soltar um gemido abafado, ele a agarrou pelo braço, as unhas quase cravando na pele. Sem qualquer consentimento ou tempo para reação, ele a arrastou escada acima, o corpo dela maleável e sem vida em suas mãos. Arremessou-a dentro de um quarto. "Vai, moleque! Pega essa vagabunda e vira homem de uma vez! Faz o que quiser, que o papai paga!", ele rosnou para o filho. Mas Victor, apenas uma criança, não tinha nenhuma noção do que era sexo. Ele estava paralisado pelo medo, tão tímido que seu corpo tremia e ele mal conseguia levantar o rosto para olhar para a mulher que estava ali, aterrorizada. Alberto, impaciente, aproximou-se do garoto, desferiu alguns tapas fortes em sua cabeça e o empurrou para dentro do quarto junto com ele e a mulher.

Assim que Alberto fechou a porta do quarto, soltou um grunhido rouco, quase animalesco, e, sem aviso, desferiu dois socos secos e violentos no rosto da mulher. O estalo dos ossos reverberou pelo quarto abafado, enquanto ela tombava de lado, soltando um gemido fraco, quase irreconhecível.

— Levanta, vadia... — rosnou Alberto, inclinando-se e arrancando brutalmente as roupas dela, como quem desembrulha algo quebrado. O corpo dela, nu, tremia, coberto de marcas e respingos de sangue fresco.

Victor, encostado contra a parede, parecia menor do que realmente era, os olhos arregalados, incapaz de entender se aquilo era real ou algum pesadelo estranho do qual logo acordaria. As pernas não respondiam; a garganta, seca, não emitia som.

— P-papai... — balbuciou, com a voz quase inaudível, trincando os dentes, como se a palavra fosse cortante.

Alberto virou o rosto para ele, sorrindo com os lábios, mas não com os olhos.

— Tá vendo, filho? É assim que se faz! Tem que ser homem! Logo, é você... — sua voz soava como um sussurro grotesco, arranhando o ar. Depois, olhou de volta para a mulher, que, com dificuldade, murmurou entre os dentes partidos.

— Por favor... não... o menino... não...

Alberto gargalhou, um riso seco, curto, sem humor.

— O quê? Tá com pena, puta? — e então começou a violentá-la ali, com movimentos frios, mecânicos, enquanto Victor, encolhido, levava as mãos trêmulas ao rosto, fechando os olhos com tanta força que doía.

— Não olha pro chão, moleque! — gritou Alberto, com uma voz que parecia preencher todo o quarto. — Olha pra ela! É pra aprender! Já já é a sua vez!

Victor soluçou, sem conseguir conter o choro, a cabeça sacudindo em negativa, como se aquele simples movimento pudesse desfazer tudo.

— Eu... eu não quero... — conseguiu sussurrar, a voz quebrada, engolida pelo som abafado dos gritos da mulher e pelos comandos grotescos do pai.

Victor gritava desesperadamente pelo pai, dizendo que não queria e que não ia fazer nada com aquela mulher. Só queria ir embora, voltar para casa e ficar com a mãe.

Alberto se aproximou, impassível, e cortou os gritos do filho com uma fala seca:

— Para de ser infantil! Se não fizer o que eu mandei, vai ser um bundão! E na nossa família não tem nenhum bundão.

Victor, soluçando, mal conseguia respirar. Queria fugir, mas ficou parado, tremendo, com medo de que o pai batesse nele ou na mulher. Pior ainda: o medo de ficar longe da mãe.

Alberto não parou. A voz dele cortava como uma lâmina:

— Se não obedecer, vai ficar de castigo: sem videogame, sem sair de casa… e nem vai chegar perto da sua mãe.

O garoto desabou em choro, sem forças para resistir, e acabou dizendo, com a voz quebrada:

— Eu… eu vou tentar…

Sem perder tempo, Alberto pegou um copo e despejou uísque, empurrando a bebida para o garoto:

— Bebe! Isso vai te acalmar.

Victor segurou o copo com as duas mãos trêmulas. O cheiro forte já o fazia engasgar antes mesmo de provar. Levou aos lábios, relutante, e deu um gole. O ardor foi insuportável. Nunca tinha bebido nada tão forte. No reflexo, cuspiu tudo — e a bebida respingou direto na cara do pai.

O silêncio durou um segundo. Só um segundo.

O tapa veio seco, violento, estalando alto. O rosto de Victor ardeu na hora, ficando vermelho, quente, como se tivesse sido queimado. Ele cambaleou para trás, ofegante.

— Anda logo com essa mulher! — gritou Alberto, com desprezo, antes de sair e bater a porta com força, trancando o garoto com a mulher no quarto.

Victor ficou parado, o rosto latejando, o copo vazio ainda na mão, sem saber o que fazer, enquanto o silêncio pesado tomava conta do quarto

Mais populares

Comments

Anonymous

Anonymous

Que história pesada não estou conseguindo ler autora só sofrimento meu Deus

2025-06-06

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!