✧ Cristian Walker ✧
Acordei cedo, como sempre fazia.
O céu ainda estava pintado de um azul desbotado, e o ar tinha aquele cheiro de mato molhado da madrugada. Gosto disso. Do silêncio antes do mundo acordar. Do som do vento cortando a copa das árvores e dos primeiros passos no chão ainda frio.
Levantei, fui direto para o banheiro e fiz minha higiene matinal. A barba por fazer me dava um ar mais selvagem do que o habitual, mas eu já não me importava com isso. Depois, desci para a cozinha.
Eduarda, minha funcionária e amiga de longa data, já estava me esperando com a mesa posta. O cheiro de café forte e pão na chapa tomava conta do ambiente.
— Bom dia, patrão — ela disse, com um sorriso gentil.
— Bom dia, Duda — retribuí, sentando na cadeira de madeira que já rangia de velha, mas era mais confortável do que qualquer poltrona de couro.
Enquanto comia, deixei a cabeça vagar. Mas como tem sido nos últimos dias, meus pensamentos sempre acabavam no mesmo lugar: Laura.
O jeito como ela apareceu de volta. O menino. O jeito como ela ainda me olhava…
Tentei afastar isso enquanto tomava o café, mas era como tentar domar um cavalo selvagem sem corda e sem sela.
Depois do café, fui montar o Altaneiro, meu cavalo mais velho e mais orgulhoso. Era um animal forte, de temperamento firme, que só aceitava comandos meus. Saí cavalgando pela fazenda, como fazia todos os dias. Precisava ver o andamento das coisas, os tratores, os vaqueiros, o gado.
Cumprimentei alguns trabalhadores no curral, dei instruções rápidas, observei a movimentação das pastagens e respirei o ar seco do Texas como quem tenta relembrar quem era antes de tudo isso.
Quando voltei para a sede e desmontei do cavalo, fui surpreendido por Ariana. Ela vinha pisando firme, os olhos arregalados, respiração acelerada. O rosto dela deixava claro: ela estava zangada.
— O que houve com você? — perguntei, puxando Altaneiro pelas rédeas até a sombra.
— Cristian… — ela começou, nervosa — você não vai acreditar no que ouvi agora há pouco.
Revirei os olhos, tentando não me irritar de cara.
— Não vou, não, se você não me contar. Você sempre ouve as coisas dos outros, Ariana — disse com uma risada curta. — Daqui a pouco vai virar jornalista.
Ela cruzou os braços, séria.
— Com essa notícia que tenho para te contar, certeza que eu venderia bastante jornal.
— Vê se não exagera — falei, enquanto começava a escovar o dorso de Altaneiro com movimentos firmes.
— Não tô exagerando, Cristian. Tô falando sério. Eu vi a Laura no mercadinho, agora há pouco.
O nome dela me travou por dentro. Mas continuei escovando, fingindo desinteresse.
— Ela estava no celular, falando com alguém — continuou Ariana, aproximando-se — e eu ouvi ela dizer que “precisava contar para você que a criança que está com ela é seu filho”.
A escova parou no meio do movimento. O ar ficou mais pesado.
— Ela falou isso? — perguntei, virando o rosto devagar.
— Exatamente isso. E não foi só isso.
Ariana se aproximou mais, abaixando o tom da voz.
— Disse também que o menino não tem nome de pai na certidão. Que ela criou sozinha. E agora… agora quer contar a você, como se fosse um presente. Ou melhor… como se fosse uma obrigação sua. — Fez uma pausa curta, depois completou: — Me parece um plano muito bem pensado, se quer saber. Some por cinco anos, aparece com uma criança, espera ver como você reage… e, de repente, começa a espalhar que o menino é seu. Para mim, tá claro. Ela quer jogar essa responsabilidade nas suas costas.
Meu sangue ferveu.
Fechei os olhos por um segundo e respirei fundo. Mas o controle me escapava pelas mãos.
— Você tem certeza do que ouviu?
— Não ouvi palavra por palavra, mas ouvi o suficiente para entender. Ela tava dizendo que precisava contar. Que não dava mais para esconder. Cristian… — ela continuou, firme — conheço esse tipo de mulher. Fui criada entre elas. Laura sumiu, foi viver a vida dela, e agora quer voltar fazendo papel de coitadinha.
— Coitadinha? — repeti, sentindo o estômago embrulhar.
— É isso que todo mundo já tá comentando. Que ela voltou com um filho de pai desconhecido, se hospedou numa espelunca e tá esperando você “assumir”. Como se fosse sua obrigação. Como se você tivesse culpa dela ter sumido.
Soltei a escova no chão e me afastei do cavalo.
A raiva me queimava por dentro.
Cinco anos. Cinco anos sem uma palavra.
Sem uma mensagem, sem uma carta. E agora isso?
Entrei em casa com passos pesados, sem falar mais com Ariana. Ela ficou ali fora, provavelmente satisfeita por ter me “ajudado”.
Subi até meu quarto, lavei o rosto e encarei o espelho. O reflexo que me encarava parecia mais com o homem que aprendeu a viver sem ela do que com o que acreditou no amor dela.
“Seu filho.”
As palavras ecoavam na minha cabeça como um trovão.
E se fosse? Se aquele moleque fosse mesmo meu?
Mas ela não teve coragem de me contar. Não confiou em mim para dividir isso. E agora, ao invés de vir até mim como uma mulher de verdade, fica dizendo por aí… contando para todo mundo?
— Covarde. — falei, sozinho no quarto. — Você continua sendo uma covarde.
A imagem do menino veio à mente.
A forma como ele andava. Os olhos escuros.
O jeito calado de observar tudo ao redor.
Meu peito apertou.
Bati a porta do quarto, desci as escadas de uma vez e entrei na caminhonete. Girei a chave com força. Se ela quer fazer da minha vida um circo… Então vou ser o leão dessa arena. E dessa vez, ela vai me ouvir.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Rosilene Narciso Lourenco Lourenco
essa cobra 🐍 se fazendo de amiga dele, com certeza tá interessada em ter uma vida boa as custas dele.
2025-05-27
4
Kelly Sousa
Que mulherzinha mais insuportável
com certeza ela quer o Cristian mais ele nunca deu bola pra ela e agora ficar infernizando
2025-05-28
1
Andreia Cristina
gente essa dai é amiga nunca vai ver ela tá interessada nele fica de leva e trás
2025-05-27
1