✧ Laura Campbell ✧
Eu pensei que possivelmente poderia ser feliz longe de Cristian. A verdade é que tentei. Juro por Deus, eu tentei.
Cinco anos atrás, deixei tudo para trás — nossa casa, nossos planos, nossa história. Abandonei Cristian, o homem que sempre foi meu refúgio, minha paz, meu lar, por causa da minha família.
Eles nunca fizeram parte desse mundo aqui. Moravam na cidade, num bairro caro, daqueles em que ninguém suja os sapatos, onde o dinheiro fala mais alto do que qualquer sentimento.
Sempre me trataram como uma boneca de vitrine, esperando que eu casasse com algum executivo engravatado e não com um vaqueiro de alma grande e mãos calejadas.
Minha mãe odiava Cristian desde o primeiro dia. Dizia que ele era um bruto, um homem simples demais para o meu futuro.
— Você merece mais do que um vaqueiro com terra debaixo das unhas e cheiro de cavalo no corpo — ela repetia, como se fosse uma oração.
Meu pai fingia aceitar, mas bastava uma contrariedade, uma vírgula fora do lugar, para ele jogar na minha cara que eu estava “jogando a vida fora”.
— Você foi criada para mais, Laura. Mais do que morar no meio do nada com um homem que vive de cuidar de animal.”
Mesmo assim, eu continuei com ele.
Escolhi Cristian todos os dias. Todos os olhares tortos. Todos os jantares em silêncio. Toda crítica velada. Até o dia em que não consegui sustentar o peso da escolha.
Era véspera do nosso casamento.
O vestido estava pronto, pendurado no guarda-roupa de casa. Um vestido simples, delicado, com detalhes de renda que eu mesma escolhi pensando nele. Estávamos felizes. Ansiosos.
Naquela noite, meu pai passou mal. Uma crise de pressão alta, dores no peito. Quase um infarto.
E no hospital, com as luzes frias e o cheiro de desinfetante, minha mãe me olhou nos olhos com toda a frieza que carregava e disse:
— Você tá matando seu pai. Se casar com aquele homem vai acabar com a sua família. É isso que você quer?
Aquela frase me cortou por dentro.
Passei a madrugada em uma cadeira dura, tremendo, culpada, quebrada.
Quando voltei para casa, já sabia o que ia fazer. Não conseguia respirar só de imaginar subir naquele altar com o peso de ser a causa da desgraça da minha família.
Subi as escadas com as pernas bambas. Entrei no quarto que era nosso pela última vez. Ele não estava, estava na cidade. Sentei na beirada da cama onde dormimos tantas vezes entrelaçados, e escrevi uma carta com as mãos trêmulas.
“Desculpa. Preciso ir. Não posso me casar com você. Se cuide”.
Dobrei o papel e deixei sobre a mesa de cabeceira.
E fui embora. Sem coragem de olhar para trás.
...✧ ✧ ✧ ✧ ✧ ...
Duas semanas depois, descobri que estava grávida. Era do Cristian. Só podia ser dele.
Meus pés fraquejaram quando vi o teste positivo. Sentei no chão frio do banheiro da casa dos meus pais na cidade grande, e chorei como uma criança.
Chorei por mim, por ele, pelo bebê e pelo amor que joguei fora.
Pensei em ligar. Escrever. Voltar.
Mas o orgulho…
Ah, o maldito orgulho me amarrou.
E como sempre, minha mãe fez questão de envenenar tudo:
— Esse filho vai ser só seu. Não precisa daquele homem. Ele ia te prender naquela vida pobre, naquela fazenda suja. Você merece mais. E se pensar em ligar para ele, vou tomar essa criança de você, e deixar em um orfanato por aí.
E mais uma vez fiquei calada, pelo bem do meu bebê.
Miguel nasceu nove meses depois.
Pequenininho, pele clara, olhos castanhos profundos. Tinha o mesmo jeitinho de franzir a testa quando algo incomodava, o mesmo silêncio teimoso. Ele era Cristian em miniatura.
E, ainda assim, eu escondi a verdade.
Não coloquei o nome do pai na certidão.
Não contei para ninguém.
Fingi força quando só existia medo.
E a cada vez que Miguel me olha, eu vejo o pai que ele não conhece.
O pai que tirei dele.
Agora, cinco anos depois, estou de volta.
De volta ao lugar onde tudo começou.
Com o meu filho ao lado, segurando minha mão com inocência, sem saber o quanto seu rostinho pode partir corações — especialmente o do homem que um dia foi meu.
Fui convidada para o leilão no Rancho Lone Star. Dizem ser o maior da região. Aceitei sem pensar muito. Talvez por impulso, por saudade. Talvez, no fundo, eu soubesse que ele estaria lá.
Me vesti com simplicidade. Calça jeans, blusa branca, cabelo solto.
Nada além da verdade.
E fui.
Assim que cheguei, senti tudo me invadir de uma vez: O cheiro de terra quente, o som dos cavalos, a poeira que dançava com o vento, as vozes arrastadas, os chapéus altos, as botas batendo firme no chão de cascalho.
E então… Eu o vi.
Cristian.
Meu coração falhou uma batida.
Não mudou nada. Ou melhor, mudou sim.
Está mais homem. Mais firme. Ombros mais largos. Olhar mais duro.
O tempo não o envelheceu. Lapidou. Mas os olhos… os olhos não tinham mais a mesma doçura. Não havia ternura. Não havia esperança. Somente frieza. Talvez fosse pela dor de ter perdido o pai há dois anos, ou pela minha partida.
Eu queria correr até ele. Dizer tudo.
Mas ele me olhou como se eu fosse nada.
Como se o amor que tivemos fosse só um borrão no passado dele. E aquilo doeu.
Segurei mais forte a mão de Miguel, tentando me manter firme. Ele nem percebeu. Brincava com o próprio chapeuzinho de brinquedo, distraído com os cavalos que relinchavam ao longe.
Mais tarde, já na pousada simples onde estou hospedada com Miguel, esperei ele dormir.
Depois de um banho morno e uma história mal contada, ele apagou.
Peguei meu celular. Abri a galeria.
Rolei as fotos até encontrar aquela.
Miguel com dois aninhos, em cima de um cavalo pônei, sorrindo de lado, segurando uma palha de grama na boca, do jeito que o pai fazia.
Toquei a tela. Uma lágrima caiu.
Cristian merece saber.
Miguel merece saber.
Mas… e se ele me odiar?
E se ele olhar para mim com aquele mesmo olhar de hoje, como se eu fosse só uma mulher qualquer?
Como se tudo o que vivemos não tivesse valido nada?
Meus dedos apertaram o celular com força.
A verdade é que estou com medo.
Medo do que causei.
Medo de não conseguir consertar.
Medo de ter passado tempo demais.
Medo de que ele esteja certo em me odiar.
Mas acima de tudo… Tenho medo de Miguel crescer e perguntar:
— Mamãe, quem é meu pai?
E eu não saber o que responder. Ou pior… Ter que mentir. Eu ainda o amo tanto, nunca deixei de amá-lo, nunca deixei outro homem entrar em minha vida, não por falta de opções, mas porque meu coração ainda pertence àquele homem que foi meu primeiro em tudo.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Tânia Campos
Foi uma burra e aceitar a chantagem da mãe,
mais burra ainda quando descobriu a gravidez e não voltou e não contou a ela.
2025-05-27
5
vilma assis
infelizmente são escolhas que fazemos entendo ela no momento em que escolheu pela vida do
mais ela deveria contar pra Cristan estava grávida explicado o que aconteceu o que estava acontecendo
2025-05-29
1
Rosilene Narciso Lourenco Lourenco
então foi a família dela que fez ela abandonar o amor de sua vida com chantagens emocional.
2025-05-27
1