Cap 05 : Ajuda

Estava voltando para casa após visitar um terreno em uma cidade próxima. Quando subi o viaduto do Contorno Viário, próximo às áreas de mata, antes de chegar em Palhoça, avistei ao longe uma figura feminina no parapeito do viaduto. Aumentei os faróis para tentar entender melhor o que estava vendo. Encostei o veículo um pouco distante e, devagar, fui me aproximando.

Chamei-a algumas vezes, mas parecia distante, como se não me ouvisse. Era claro o que ela queria fazer. Afinal, o que uma mulher jovem fazia, naquela hora da madrugada, sozinha, em um lugar tão isolado?

Senti medo, mas também um forte desejo de protegê-la. O que teria levado essa pobre moça a chegar a esse ponto? A tentar contra a própria vida?

Após conversar com ela com todo o cuidado, me aproximei. Num impulso, agarrei-a pela cintura, arrastando-a rapidamente para longe do parapeito. Abraçando-a forte, tentei confortá-la, sem saber o que dizer ou como fazer com que a dor dela fosse mais leve.

— Não desista da vida, moça — digo, segurando-a firme. — Tem alguém da sua família para quem eu possa ligar? Alguma amiga?

— Eu só quero morrer… — ela falava, desnorteada, como se as palavras saíssem sem controle.

— Olha, vou te levar para casa. A essa hora da madrugada, é perigoso você estar sozinha. Vem comigo. Me diz seu endereço — peço, e, após um tempo ainda hesitante, ela acaba cedendo.

Durante o caminho, liguei para Samantha, avisando que ia demorar um pouco mais do que o esperado. Quando chegasse em casa, explicaria a situação para ela. Ao encerrar a ligação, a mulher ao meu lado começou a falar, sua voz trêmula e carregada de dor.

— Ele morreu no dia do nosso casamento — murmurou, a voz embargada. — O dia mais feliz da minha vida se tornou um terrível pesadelo.

Eu a olhei, tentando encontrar as palavras certas, mas a tristeza dela era avassaladora.

— Sinto muito, Serena. Imagino como deve estar sendo difícil, mas você não pode desistir da vida. A vida é feita de tristezas e alegrias. Hoje, você chora, mas tenho certeza de que amanhã encontrará a felicidade novamente — disse, tentando transmitir uma calma que, na verdade, não sentia.

Ela não me respondeu mais, apenas se encolheu no banco do carro e fechou os olhos. Seu corpo tremia muito durante o caminho, e ela claramente precisava de cuidados médicos. Decidi fazer outra proposta a ela.

— Serena, acho melhor levar você ao médico. Lá, podemos ligar para sua amiga. O que acha?

— Não precisa — ela respondeu, a voz fraca. Olhei para ela mais uma vez. Estava visivelmente desidratada.

— Vou te levar ao médico, é o mais certo a fazer — comentei, tentando transmitir alguma segurança.

— Tudo bem, senhor — ela disse, quase sem forças.

Chegando ao hospital, estacionei o carro e contornei rapidamente para abrir a porta para ela. Assim que saiu do carro, deu alguns passos, e foi aí que percebi que ela estava prestes a desmaiar. Corri para segurar seu braço.

— Está bem? — perguntei, preocupado. Ela balançou a cabeça negativamente, e antes que eu pudesse reagir, desmaiou. Eu a peguei no colo e entrei apressado no hospital.

— Me ajuda! Ela desmaiou! — pedi à primeira enfermeira que vi.

— Pode me dizer o que aconteceu com ela? — a enfermeira perguntou, já me guiando para uma sala.

— O nome dela é Serena. Eu a encontrei no viaduto, ela estava passando mal, então a trouxe para o hospital. Quando chegamos, ela desmaiou — expliquei rapidamente, enquanto a enfermeira a deitava na maca e começava a avaliá-la.

— Ela está desidratada — a enfermeira disse após alguns segundos de avaliação. — Serena? Serena, está me ouvindo? — chamou, com um tom suave.

Com dificuldade, Serena abriu os olhos lentamente.

— O que aconteceu? — sua voz saiu fraca, mal conseguindo se manter desperta.

— Você desmaiou, mas vai ficar tudo bem. Vou chamar a médica — a enfermeira respondeu com tranquilidade, antes de sair.

Voltei minha atenção para Serena, tentando garantir que ela soubesse que estava segura.

— Serena, preciso ligar para algum conhecido seu para ficar com você. Lembra de algum número? — perguntei, preocupado.

Ela fez um leve movimento afirmativo e me passou o número. Digitei o contato no celular e, após três tentativas, finalmente alguém atendeu.

— Desculpa te incomodar a essa hora, mas estou com uma amiga sua no hospital, ela se chama Serena.

— Ai, meu Deus! O que aconteceu com ela? Em qual hospital está?

— Fique calma, ela está bem agora, só desidratada. Já vai ser atendida. Eu preciso ir para minha casa, mas ela me disse que você poderia vir ficar com ela — expliquei.

— Sim, claro! Estou indo agora mesmo — ela respondeu, e, após passar o endereço, encerrei a ligação.

Voltei minha atenção para Serena, que parecia um pouco mais tranquila.

— Se quiser ir para sua casa, pode ir tranquilo — ela disse, a voz fraca, mas com um toque de preocupação.

— Não, só saio daqui quando sua amiga chegar — falei, com firmeza, querendo garantir que ela não ficaria sozinha.

— Obrigada, senhor Davi, o senhor tem um bom coração. Meu Simon também era assim... E queria lhe pedir um favor — disse ela, secando as lágrimas.

— Sim, pode pedir.

— Não conte para minha amiga o que eu ia fazer, por favor. Não conte — pediu.

— Fique tranquila, não direi nada. Mas agora, eu é que quero lhe pedir um favor.

— O que quiser. O senhor já me ajudou muito hoje, então pode me pedir o que quiser — respondeu ela.

— Nunca mais tente contra a sua vida. Por favor, não faça mais isso — pedi. Ela abaixou a cabeça, as lágrimas pingando em seu colo.

— Não sei se consigo... Está doendo muito aqui, sabe? Dói muito... — sua voz embargada carregava um sofrimento profundo.

Era de partir o coração. Com certeza, ela amava muito o noivo, e lidar com o luto estava sendo extremamente difícil. Queria poder ajudá-la, mas, infelizmente, não havia muito mais que eu pudesse fazer além do que já fiz hoje.

— Tenho certeza de que o Simon era um homem incrível, porque conquistou um amor tão grande de você, ao ponto de ser difícil viver sem ele. Mas escute o que vou dizer: nos primeiros três anos, você vai apenas sobreviver. Depois, vai aprender a viver com a dor. Sobreviva, mas não tire a sua vida. Ela é preciosa demais, e o poder de dá-la e tirá-la pertence somente a Deus. Esta vida é uma passagem, e o que acontece depois dela é eterno. O Simon apenas foi viver o eterno antes de você. Quem sabe amanhã você terá um motivo para lutar pela vida? — disse.

Ela chorou muito enquanto me ouvia. Por um momento, quis abraçá-la, mas seria estranho, então apenas toquei seu ombro. Nesse instante, outra jovem entrou no quarto, vestindo um pijama. Sem sequer notar minha presença, caminhou direto até Serena e a abraçou.

— O que aconteceu, minha amiga? — perguntou, preocupada.

— Não se preocupe, estou bem. O senhor Davi me ajudou — respondeu Serena, apontando para mim.

— Ah, sim. Muito obrigada por cuidar da minha amiga — disse ela, dirigindo-me um olhar agradecido.

— Não precisa agradecer. Agora que a Serena tem companhia, é melhor eu ir. Foi um prazer conhecê-la, Serena. Se um dia nos encontrarmos de novo, espero ver um belo sorriso em seus lábios — falei.

Ela, ainda chorando, apenas assentiu.

Saí do quarto refletindo sobre tudo o que havia acontecido, me colocando no lugar de Serena. Meu coração doeu só de imaginar viver um dia sem minha preciosa Samantha. Corri até o carro e fui direto para casa.

Ao chegar, encontrei Samantha dormindo profundamente, com um livro sobre como ser uma boa mãe apoiado sobre o peito. Com cuidado, peguei o livro e o coloquei sobre a mesinha ao lado. Não resistindo à vontade de beijá-la, selei seus lábios com um beijo suave.

Mais populares

Comments

Cleidilene Silva

Cleidilene Silva

Que bom que serena encontrou alguém pra salvar ela antes de cometer suicídio,eu acho que ela está grávida, tomara!

2025-05-26

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!