Coração Compartilhado

Coração Compartilhado

Cap 01: O Dia Mal

Florianópolis SC, 20 de Outubro de 2019.

O dia mal não avisa quando vai chegar, e não somos ensinados a esperar por coisas ruins. É sempre assim: estamos em extrema felicidade e, quando menos esperamos, somos esmagados por uma terrível notícia.

Oito horas antes...

— Te vejo no altar, minha linda futura esposa.

— Te vejo no altar, meu lindo e amado futuro marido.

— Eu te amo!

— Eu também te amo!

— Serena, vem desligar esse celular e vamos aproveitar sua despedida de solteira. — Thaisa me chama. — Diz para o Simon que amanhã você será todinha dele — ela diz alto enquanto puxa minha mão, me arrastando de volta para dentro de casa.

— Ai, tá bom, Thai. Meu amor, vou desligar. Se comporta, viu? Não deixe o Guto te embebedar.

— Pode deixar, minha deusa, vou estar sóbrio amanhã para dizer: SIM!!! — Ele fala alto do outro lado da linha, me arrancando um sorriso bobo.

Minha despedida de solteira estava rolando a todo vapor. Vitória já estava tão bêbada que beijava de língua o boneco inflável. Letícia estava jogada no sofá e Tendy lambia a boca dela.

— Não, Tendy, vá deitar — mando, e ele corre para dentro da casinha dele.

Já passava das duas da manhã. A casa da Mia estava uma total bagunça, e eu era a única que não estava caindo pelas pernas, porque todo álcool que me serviam eu regava nas plantas da Mia.

Tomei um banho relaxante e fui dormir naquela cama macia e superconfortável da Mia. Essa cama deve ter custado uma fortuna! Não demora para que o sono chegue, fecho os olhos e me aconchego com o coração transbordando de alegria. Em algumas horas, estarei no altar dizendo sim para o amor da minha vida.

— Amiga, acorda, que hoje é seu grande dia! — Mia me desperta toda empolgada.

— Bom dia! Não sei como você consegue ter tanta energia depois de todo o álcool que ingeriu ontem — falo sonolenta, passando a mão no rosto.

— Sou a energia em pessoa — ela diz. — Agora levanta, vamos reagir, tomar um café reforçado, que daqui a pouco você vai se casar. — Ela rodopia pelo quarto, depois agarra meu braço e começa a andar fazendo o som da marcha nupcial.

Uma hora antes…

— Você está perfeita, é a noiva mais linda de toda Floripa — diz Thaisa, olhando para mim com um sorriso largo no rosto. Ela tem uma energia tão positiva; é aquela amiga com quem é impossível ficar triste.

— Obrigada, amiga — respondo.

— Eu nem acredito que você será a primeira de nós a se casar — Letícia comenta.

— Passo minha vez para a Victória. Deus me livre de casar! — Mia fala.

— Diz isso porque ainda não achou um macho para te pegar de jeito, até você ficar arriada aos quatro pneus — Victoria provoca, e Mia bate na mesinha de madeira três vezes e depois faz o sinal da cruz. Todas rimos dela.

Finalmente, eu estava pronta. Minhas melhores amigas também estavam todas lindas, vestidas em seus vestidos de madrinhas.

De frente para o espelho, olhava meu reflexo. Nunca me achei tão linda como hoje. Toco de leve os bordados do vestido e sorrio para mim.

— Vamos! Vamos casar, nossa linda Serena! — Thaisa comemora.

Do lado de fora, uma limusine nos espera, presente da Mia para o meu casamento. Ela disse: "Minha melhor amiga não vai chegar na igreja de carro comum, vai de limusine!"

Entramos, e, nessa hora, senti um aperto no peito, seguido de um medo que não sei explicar.

— Está bem, amiga? — Letícia pergunta, tocando de leve minha mão. Respiro fundo, afirmo com a cabeça que sim e depois sorrio para tranquilizá-la.

— Estou. É só nervosismo — respondo.

— É normal, não dizem que toda noiva fica nervosa? — Mia explica.

A limusine começou a seguir para o nosso destino, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro. Meu coração batia forte no peito, e a ansiedade tomava conta de mim. Minha mente era inundada por todas as lembranças que Simon e eu vivemos até chegar nesse grande dia: quando ele me pediu em namoro em um luau na praia, nossos passeios e aventuras, a primeira vez que fizemos amor na barraca quando fomos acampar.

Foram momentos lindos e especiais que vivemos, e hoje daríamos um passo importante em nossas vidas. Simon é o ser humano mais lindo que conheço, ele é tão perfeito que, às vezes, me pergunto se ele não é um anjo na Terra.

Meus pensamentos são interrompidos pelo som do celular da Letícia tocando.

— É o Guto — ela diz, mostrando a tela do celular e, em seguida, atende. — Fala, idiota! — ela brinca.

De repente, Letícia fica em silêncio e parece nervosa. Ela põe a mão no peito, como se tivesse recebido uma notícia muito ruim.

— Letícia, está tudo bem? — Mia pergunta, e, com lágrimas nos olhos, ela balança a cabeça negativamente.

Mia pega o celular da mão de Letícia e o leva à orelha.

— O que foi, Guto? O que você disse para a Letícia? — Mia pergunta e, assim como ela, começa a chorar.

— Meu Deus! Guto, isso não pode ser verdade! — Mia grita, desesperada.

— O que está acontecendo? — Thaisa, Victoria e eu perguntamos ao mesmo tempo. Meu coração se aperta, e eu pego o celular da mão de Letícia.

— Guto, o que está acontecendo? — Ele chora do outro lado da linha, e o desespero em seu choro me amedronta. Temo o que ele vai dizer. — Guto, onde está o Simon? — insisto.

— Ele se foi, Serena… O Simon… ele… se foi — sua voz chorosa me assusta ainda mais. Talvez me negando a entender o verdadeiro sentido do que ele diz, pergunto:

— Como assim ele se foi? Para onde?

— Serena… ele está morto… Estamos aqui, perto da igreja… Íamos atravessar a rua quando um carro em alta velocidade o atingiu, Serena… — Guto diz entre lágrimas.

Sinto como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Fico ali, imóvel, sem conseguir falar. As lágrimas simplesmente começam a escorrer, e Thaisa pergunta aflita. Então, chorando, Letícia diz:

— O Simon morreu…

Ouvir essas palavras foi o suficiente para minha ficha cair.

— Não, meu Deus! Meu Simon não pode ter morrido! Não! Não! — grito, desesperada. Aquelas palavras cortam meu coração como uma faca, me fazendo sangrar por dentro.

Nesse momento, a limusine para.

— Manda esse motorista seguir mais rápido para a igreja, agora! — grita Thaisa.

Mia aperta o botão, abrindo a cabine para falar com o motorista.

— Senhora, o trânsito está parado — ele informa.

O desespero toma conta de mim. Preciso ver o Simon! Sem pensar, abro a porta da limusine e saio correndo a pé em direção à igreja, que está a três quadras dali.

Meus olhos estão embaçados pelas lágrimas. Ouço os gritos das minhas amigas atrás de mim, pedindo para que eu espere, mas simplesmente corro. Corro, negando acreditar que meu amor… meu Simon… esteja morto.

Atravesso a rua sem olhar, e um carro freia em cima de mim, mas não paro, corro. Um vento forte passa, levando meu véu. Arranco as sandálias, deixando-as para trás. Descalça, corro e só paro quando chego na rua da igreja e vejo aquela multidão.

Parei ali, sentindo como se o mundo caísse sobre mim. Começo a empurrar as pessoas que, ao me verem vestida de noiva naquela situação, abrem espaço.

E então vejo aquela cena horrível: meu Simon, ensanguentado no chão. Guto está em cima dele, chorando.

Caio de joelhos ali mesmo, olhando para o céu, e grito, esvaindo todo o ar do meu pulmão.

Guto vem chorando até mim e pega em meus braços, mas eu o empurro. Me arrasto, deitando sobre o corpo de Simon, onde choro, desejando morrer também.

Serena

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Comments

⭐𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐅𝐫𝐞𝐢𝐭𝐚𝐬💫

⭐𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐅𝐫𝐞𝐢𝐭𝐚𝐬💫

Comecei a ler hoje por indicação da autora Magia e já estou chorando 28/05/25

2025-05-28

1

Cleidilene Silva

Cleidilene Silva

começando a ler 25/05/25 Valença RJ eu achei que Simon tinha abandonado ela no altar, que triste 😢

2025-05-26

0

Jocemira Castro

Jocemira Castro

ah que triste

2025-06-01

0

Ver todos

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