Cap 04: Difícil Despedida

Parecia estar perdida em um deserto chamado solidão. Despedir-se de alguém que vai embora dói, mas encontramos paz na certeza de que, em algum momento, essa pessoa voltará e poderemos matar a saudade. Mas e quando elas se vão para sempre? Quando temos que lidar com a certeza de que nunca mais as veremos? Como se conformar com isso? Parece que vou enlouquecer. Sinto que perdi a razão, porque essa dor que invadiu meu peito é tão terrível que a única vontade que tenho é de voltar para o ventre da minha mãe.

— Amiga, eles precisam fechar o caixão. Solta a mão dele — pediu Mia, acariciando suavemente minhas costas.

— Ele vai ficar sozinho lá. Ele não gosta de ficar sozinho, amiga — falei, tentando, de alguma forma, convencê-los a não fecharem o caixão.

— Ele não estará sozinho, é só o corpo do Simon, amiga. A alma dele já está no paraíso — disse Victoria, tentando desprender minha mão da dele.

— Se fecharem esse caixão, nunca mais vamos vê-lo. Nunca mais — disse entre lágrimas.

— Olha para mim, Serena — pediu Guto, e então encarei seus olhos. — O Simon precisa descansar. Você quer que ele fique atormentado? Já chegou o momento de deixá-lo partir. Se você continuar assim, a alma dele sofrerá. Vem, solta a mão dele.

Hesitante, soltei a mão do meu Simon. Guto me abraçou e, em seguida, as meninas também me envolveram num abraço, enquanto um homem pegava a tampa do caixão e a fechava.

E então chorei. Chorei como uma criança. Meu mundo, que antes era feito de sorrisos, agora era um verdadeiro naufrágio de lágrimas. Nenhuma palavra de consolo das pessoas ali presentes surtiu efeito. Nada, absolutamente nada, parecia capaz de diminuir aquela dor.

No cemitério, desceram o caixão na cova. Fechei os olhos, incapaz de suportar aquela cena. Em seguida, o padre fez a oração final:

— Concedei, Senhor, o repouso eterno e brilhe para ele a vossa luz. Que a alma de Simon e as almas de todos os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém.

Quando o padre finalizou a oração, cada pessoa presente pegou um punhado de terra e começou a jogá-la sobre o caixão. Nesse momento, um desespero incontrolável tomou conta de mim. A dor que já era insuportável ficou dez vezes pior. Queria arrancar meus cabelos, me jogar naquela cova e ser enterrada junto com ele.

Quando pegaram a pá e começaram a cobrir o caixão, foi ainda mais terrível. Tentei impedir, mas Guto me segurou. Gritei, desesperada:

— Quero meu amor de volta! Por favor, não joguem essa terra! Ai, meu Deus! — Minhas palavras saíram como uma súplica. Minhas pernas perderam as forças, meus olhos escureceram, e então tudo se apagou.

Quando abri os olhos lentamente, vi os rostos preocupados dos meus amigos ao meu redor.

— Serena, está me ouvindo? Como está se sentindo? — Thaisa perguntou, a voz carregada de preocupação.

— Simon morreu... Me sinto sem vida — respondi, olhando ao redor, vendo as pessoas deixando o cemitério.

Olhei à frente e vi a mãe de Simon ajoelhada sobre o monte de terra que cobria seu corpo. Ela também sofria. Não sei medir a dor dela, mas com certeza estava devastada, assim como eu. Imagino que o remorso a consumia, pois estava brigada com Simon. Nunca aceitou nosso casamento. Na cabeça dela, uma atendente de balcão não era digna de seu filho.

Mas Simon nunca se importou com classe social. Ele amava as pessoas, amava a vida. Era cheio de amor e generosidade. Brincalhão. Foi assim que ele me conquistou, indo todos os dias à cafeteria onde eu trabalhava. Sempre que eu levava seu café, ele sorria e perguntava:

— Tem amor nesse café?

Quinze dias depois...

Antes, eu conseguia ver meu futuro. Nele, Simon e eu estávamos em nossa casa, sentados em duas cadeiras de balanço, conversando enquanto nossos filhos corriam pelo jardim. Nosso lar seria cheio de amor e sorrisos.

Simon, e agora? Minha vida, meus sonhos... tudo foi construído com você, para você. Agora, não consigo olhar para frente. Não vejo um futuro. Não consigo imaginar um mundo onde você não exista. Não há vida sem você, apenas um vazio—um grande e insuportável vazio.

Os dias passam, e a dor no meu peito só cresce. Às vezes, é sufocante. E quando finalmente consigo dormir, o pior momento é acordar e perceber que será mais um dia sem você.

Querido Simon, como seguir em frente sem você?

Estou cansada de todos me dizerem que preciso levantar e seguir em frente. Como todos já conseguiram se conformar em viver sem você? Eu não consigo. A dor não passa com o tempo, como dizem. Só piora e piora, e eu não suporto mais. Nem por um segundo.

Por isso, meu amado Simon, tomei uma decisão difícil para aqueles que ficam, mas que, para mim, é o único caminho para me libertar dessa dor. Vou me encontrar com você. Vamos viver juntos, eternamente.

— Moça? Ei, moça, o que está fazendo aí? — uma voz grave ecoa atrás de mim.

— Moça, você vai cair! Desça, por favor! — insiste.

— Vou encontrar meu Simon — murmuro, com a visão embaçada pelas lágrimas que enchem meus olhos.

— Eu não sei o que aconteceu, mas, por favor, desça. Vamos conversar — pede ele. Eu nego com a cabeça e continuo olhando para baixo.

— Qual o seu nome? O meu é Davi — ele se apresenta.

— Davi, a vida não tem mais sentido para mim. Só desejo morrer, então me deixe morrer — minha voz sai embargada.

— Me diga seu nome, por favor — ele insiste.

— Serena. Meu nome é Serena.

— Serena, o que você está prestes a fazer não é a solução. Por favor, me dê a sua mão e vamos conversar — diz ele, e eu finalmente olho para ele.

— Já amou tanto alguém ao ponto de não conseguir viver sem essa pessoa? Eu não posso viver em um mundo onde Simon não existe. Essa é a melhor decisão — digo, voltando meu olhar para o chão lá embaixo.

— Não, não é — ele responde, sua voz mais próxima agora. — Eu perdi meu pai. Foi uma dor terrível e devastadora. Ainda dói, mas aprendi a viver com essa dor. Você ainda é jovem e pode viver fazendo coisas que Simon gostaria que você fizesse.

Sinto suas mãos agarrarem minha cintura. Luto para me soltar.

— Me deixa morrer — imploro, mas não tenho forças. Faz dias que apenas sobrevivo com água, mal conseguindo comer.

— Não desista da vida, moça — ele fala, me segurando firme. — Tem alguém da sua família para quem eu possa ligar? Alguma amiga?

— Eu só quero morrer...

— Olha, vou te levar para casa. A essa hora da madrugada, é perigoso você estar sozinha. Vem comigo. Me diz seu endereço — ele pede.

Aquele homem não me deixaria morrer. Tentaria outra hora. Meio hesitante, aceitei sua ajuda e dei o endereço da Mia.

Durante o caminho, ele ligou para sua esposa, avisando que ia demorar para chegar em casa. Depois, encerrou a ligação.

— Ele morreu no dia do nosso casamento — murmuro, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. — O dia mais feliz da minha vida se tornou um terrível pesadelo.

— Sinto muito, Serena. Imagino como deve estar sendo difícil, mas você não pode desistir da vida. A vida é feita de tristezas e alegrias. Hoje você chora, mas tenho certeza de que amanhã encontrará a felicidade novamente — ele diz.

Mas eu não acredito.

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Comments

Irá

Irá

Nossa eu sei bem o qt essa dor nos destrói, qd perdir meu filho com apenas 10 aninhos de vida, nossa essa dor qt mais tempo passa mais a dor só aumenta 😭😭🥹😭🥹😭🥹😭🥹🥹🥹😭😭🥹🥹

2025-05-26

2

Cleidilene Silva

Cleidilene Silva

eu estou em prantos

2025-05-26

0

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