Prólogo

Há coisas que não se dizem.

Coisas que, se faladas em voz alta, ganham forma. Peso. Realidade.

E realidade, pra mim, sempre foi sinônimo de dor.

Fui criado assim. No silêncio.

A dor era um idioma — o primeiro que aprendi com Charlie.

Não havia consolo. Não havia colo.

Só ordens, socos e um tipo torto de sobrevivência.

Por muito tempo, achei que não havia nada em mim além de frieza.

Nada além das cicatrizes invisíveis que carrego no peito.

Aprendi a fechar portas, apagar rastros, calar sentimentos.

Amar? Isso era coisa que os fracos inventaram pra sofrer com propósito.

E então ela apareceu.

Cattleya.

Trombou em mim como quem desafia o mundo — e o meu mundo parou.

Uma flor no meio do concreto, estrangeira como eu, com os olhos pesando histórias que eu ainda não conhecia… mas reconheci.

Dor reconhece dor. Silêncio reconhece silêncio.

Eu a queria.

Não do jeito que costumo querer as coisas — rápido, direto, descartável.

Eu a queria como quem precisa.

Como quem sente fome depois de anos em jejum.

Mas o que fazer quando o que você tem a oferecer é um abismo?

Quando a verdade do seu nome esconde sangue, mentiras e escuridão?

Não sei se ela vai me aceitar quando descobrir quem eu sou.

A única coisa que sei…

É que, pela primeira vez, estou disposto a tentar ser alguém melhor.

Por ela.

Ou talvez… apesar de mim.

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Comments

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Hum já estou empolgada com isso autora!!

2025-09-22

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