CAPÍTULO 04

Horas depois

Eu sou Noah Castelli, carrego um sobrenome que causa medo nos inimigos.

   Sou filho de Damián Castelli, o ex dom da máfia de Nova York. Meu pai largou tudo anos atrás pra viver uma vida "normal", como se isso fosse possível depois de ter o mundo aos pés. Ele entregou o trono pro primo Louis, o atual chefe. Eu cresci longe dos bastidores da máfia, mas não me iludo. Tá no meu sangue, tá na minha essência. Tudo o que sei desse submundo aprendi observando os passos dos meus primos... e ouvindo histórias que não contam nos livros.

   Meu pai tem uma construtora gigante. Minha mãe cuida dos negócios ao lado dele. Eles são o casal exemplo que todo mundo respeita. Já eu? Eu tô longe de ser exemplo pra alguém. A expectativa é que um dia eu assuma os negócios da família, que honre o legado do sobrenome... mas, pra ser sincero? Isso não faz meu sangue ferver. Não agora. Porque minha cabeça... tá em outro lugar.

      A Ferrari rasgava as ruas de Nova York feito um animal selvagem fora da coleira. Os prédios passavam borrados pelas janelas, mas eu não via nada. Só ouvia as palavras da Bella martelando na minha mente como se fossem tiros à queima-roupa. Eu cravava os dedos no volante com tanta força que os nós ficaram brancos. No banco ao lado, o presente que comprei pra ela parecia me encarar com deboche. A raiva me consumia por inteiro. Raiva dela. Raiva de mim. Raiva dessa maldita situação.

Sempre fomos grudados desde moleques, mas aí crescemos. Até que, dois anos atrás... algo mudou. O olhar dela passou a me queimar de um jeito que eu não consegui ignorar. Não era mais só carinho de primo. Não era só amizade. Era desejo. Era algo sujo, perigoso, incontrolável. E essa merda só cresceu.

   Bella é uma garota de apenas dezessete anos, e filha do Louis. O atual dom da máfia. E se tem uma coisa que esse homem não permite... é que cheguem perto demais da princesinha dele. Ele é protetor. Extremamente. E se soubesse o que eu sinto por ela... se soubesse que eu sonho com ela toda noite... que o cheiro dela ficou impregnado na minha alma... ele arrancaria meu coração com as próprias mãos. Pra não causar guerra na família, e pelos resquícios de decência que ainda me restam por causa da idade da Bella, eu me afastei. Me escondi atrás de copos de uísque, festas, corridas clandestinas e noites vazias com mulheres que eu nem lembro o nome.

Mas não dá pra correr de um sentimento quando ele corre mais rápido que você.

Peguei o celular e disquei o número do Jasper, meu parceiro de loucura, sangue bom e meu irmão de outra vida. Se tem alguém que entende quando o mundo parece querer te engolir, é ele.

— Fala, Castelli! — atendeu com a voz animada, como sempre.

— Tira a nave da garagem, irmão... hoje a gente vai rasgar o asfalto. Vamos decolar essa porra como se não houvesse amanhã.

O silêncio dele durou dois segundos. Ele entendeu tudo. Não precisava de mais explicações.

— Me dá vinte minutos. Manda a localização e prepara o palco, porque hoje eu vou fazer o inferno bater palma.

— Convoca o pessoal. Quero todo mundo lá. A noite vai ser longa, e eu tô com gasolina na alma e pólvora nas veias.

Ele riu, daquele jeito que só quem nasceu pra quebrar regras sabe rir.

— Considera feito.

Desliguei. Joguei o celular no banco do passageiro e encostei a cabeça no apoio. Respirei fundo. Eu precisava disso. Corrida. Adrenalina. Barulho de motor gritando. A estrada como única companhia e o perigo como combustível. Nada acalma uma mente fodida como o som dos pneus cantando no asfalto.

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   O ponto de encontro era sempre o mesmo. Um armazém velho, pichado e esquecido pelo tempo. Mas quem conhece sabe: é ali que a mágica acontece. As Ferraris, Lamborghinis, Porsches e McLarens se alinham como predadores prontos pra caçar. Luzes de neon. Música eletrônica estourando nos alto-falantes. Gritos, apostas, fumaça. Gente que vive no limite e ama o risco.

Estacionei. Saí do carro e fui recebido pelos olhares e cumprimentos. Todo mundo sabia quem eu era. Ninguém ousava desrespeitar um Castelli. O nome basta. O nome pesa.

Jasper se aproximou com um copo na mão e o sorriso de sempre.

— Tá com o demônio nos olhos hoje, hein?

— Tô com o inferno inteiro na cabeça — respondi seco, encarando o carro dele. Uma McLaren preta fosca, impecável.

— Vai correr comigo ou vai ficar aí desabafando?

— Eu corro por cima do teu cadáver, Jasper.

Ele gargalhou. A multidão começou a se agitar. Alguém gritou que a pista tava pronta.

Alinhei a Ferrari. Ajustei os espelhos. Apertei os dedos no volante de novo. O coração batia forte, mas era bom sentir algo assim. Qualquer coisa... menos a merda que eu senti minutos antes.

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