A casa de Elias era aconchegante, embora marcada por sinais de correria e saudade. Havia brinquedos espalhados pelo chão, uma meia pendurada no braço do sofá, e desenhos infantis decorando a parede da sala. Clara respirou fundo. Aquilo era um lar — imperfeito, vivo, real.
Elias a guiou até a cozinha, onde o aroma de arroz recém-feito ainda pairava no ar.
— Crianças, venham aqui um instante — chamou ele, com a voz forte, mas sem dureza.
Três pares de passos ecoaram pelo corredor de madeira. O primeiro a aparecer foi Daniel, o mais velho, de 10 anos. O olhar dele era maduro, sério demais para sua idade. Observou Clara com cautela, os braços cruzados, como se quisesse protegê-los de qualquer novidade.
Atrás dele vinha Helena, com seus cachos castanhos soltos, olhos brilhantes de curiosidade e um caderninho de desenhos em mãos. Ela se aproximou com passos leves, como se dançasse com o próprio silêncio. Seus olhos pousaram em Clara com uma mistura de timidez e encantamento.
E, por fim, surgiu o pequeno Lucas, de apenas 4 anos, agarrado a um coelhinho de pelúcia. Seus olhos eram grandes, escuros, e pareciam mergulhados em um mundo interior onde ainda existia a lembrança viva da mãe. Ele se escondia parcialmente atrás das pernas da irmã.
— Esta é a Clara — disse Elias. — Ela vai ficar conosco por um tempo. Ajudar com a casa, com vocês. Quero que sejam educados.
Daniel não disse uma palavra. Helena acenou timidamente. Lucas se limitou a desviar o olhar e se esconder ainda mais.
Clara se agachou, ficando na altura deles, e sorriu com leveza.
— Eu sei que pode parecer estranho alguém novo aqui. Mas só quero ajudar. Prometo fazer panquecas amanhã no café da manhã.
Helena arregalou os olhos.
— Com mel?
— Ou calda de chocolate, se você preferir.
Lucas ergueu o olhar, como se a palavra “chocolate” tivesse atravessado sua fortaleza de silêncio.
Daniel continuava firme, desconfiado.
— Você é parente de alguém? Como soube da gente?
— Não sou parente, não. E não conheço vocês. Mas… também estou começando de novo. E queria tentar fazer parte de algo bonito. Mesmo que seja só por um tempo.
Helena se aproximou um pouco mais, tocando o vestido de Clara.
— Você sabe contar histórias?
— Sei sim. E posso até inventar uma agora, se quiserem.
Lucas, ainda sem falar, deu um passo tímido para o lado da irmã, aproximando-se um pouco. Era quase imperceptível, mas Clara viu: uma brecha no muro.
Daniel suspirou.
— Só estamos deixando você ficar porque meu pai mandou. Mas se você machucar meus irmãos, eu vou saber.
— Justo — respondeu Clara com gentileza. — Eu respeito muito quem cuida dos outros.
Elias, que observava da porta, pareceu surpreso com a interação. Não esperava que Clara fosse tão hábil com crianças — ainda mais as dele, tão fechadas desde a morte da esposa.
— Pode mostrar o quarto de hóspedes pra ela, Helena — disse ele. — E depois, todo mundo pro banho.
Enquanto Helena puxava Clara pela mão com empolgação, Lucas a seguia de perto, sem dizer palavra. Daniel ficou parado por um tempo, pensativo, antes de subir lentamente as escadas.
Na sala silenciosa, a esfera mágica flutuava escondida entre as sombras, emitindo um brilho suave.
— Primeiro contato completo. Laços iniciados. Barreiras emocionais parcialmente quebradas. Progresso positivo.
Clara, agora no corredor, olhou brevemente para o teto, como se sentisse a presença da magia que a acompanhava.
Ela sorriu. Um passo de cada vez.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 41
Comments