O céu estava alaranjado quando Clara chegou à pequena praça da cidade. O som das crianças brincando ao longe contrastava com a paz que ela sentia pela primeira vez em anos. O dispositivo mágico pairava ao seu lado, oculto dos olhares comuns, mas presente como uma extensão de sua própria consciência.
— Onde ele está? — perguntou em voz baixa.
A esfera brilhou levemente e respondeu em um tom suave:
— Na casa branca, no fim da rua de paralelepípedos. Capitão Elias Fernandes. Viúvo. Três filhos. Mora sozinho com eles desde a morte da esposa, há dois anos. A solidão pesa. A dor, também.
Clara assentiu e caminhou. A cada passo, uma mistura de nervosismo e propósito tomava conta de si. Não se tratava apenas de escapar da morte ou do passado sombrio com Júlio. Era sobre construir algo novo. Melhor. Verdadeiro.
Chegando à casa, ela hesitou por um segundo. Era simples, com jardim malcuidado e brinquedos espalhados no quintal. Um balanço balançava sozinho com o vento. Havia marcas de uma família real ali — uma que havia sofrido, sim, mas que ainda resistia.
Ela respirou fundo e bateu à porta.
Alguns segundos depois, a porta se abriu. Um homem alto, de expressão fechada e olhar desconfiado, a encarou. Usava uma camiseta cinza, calça militar e carregava um dos filhos no colo — um garotinho de olhos grandes e assustados.
— Posso ajudar? — perguntou o homem, sem qualquer traço de simpatia.
— Você é o Capitão Elias? — ela perguntou, tentando manter o tom calmo.
— Sim. E você é...?
Clara hesitou. Como dizer que voltou do futuro para evitar a própria morte e mudar de destino?
— Meu nome é Clara. Eu… soube da sua história. Da sua perda. E estou buscando um novo começo também. Disseram que você precisava de alguém para ajudar com as crianças.
Elias arqueou a sobrancelha.
— Quem te disse isso?
Clara olhou para o nada por um breve instante — onde apenas ela via o brilho sutil da esfera.
— Digamos que foi… uma intuição muito forte.
O silêncio se instalou entre os dois. O garotinho no colo de Elias apertou o ombro do pai, desconfiado. Dentro da casa, vozes infantis discutiam algo sobre um brinquedo quebrado.
Elias analisou Clara por mais um momento. Ela não parecia perigosa. Tinha um ar calmo, firme, mas também gentil. Ainda assim, tudo parecia… estranho.
— Você aparece aqui, do nada, querendo ajudar com meus filhos?
— Eu sei que parece loucura. Mas só me escute. Me dê uma chance. Uma semana. Se não funcionar, eu vou embora. Mas eu juro: eu não tenho más intenções.
Elias olhou para o filho, depois para o interior da casa, onde as vozes infantis continuavam. Suspirou.
— Uma semana. E só porque a babá cancelou hoje e eu preciso ir ao batalhão pela manhã. Mas qualquer coisa estranha… qualquer coisa, eu te coloco pra fora.
Clara assentiu.
— Combinado.
Ele deu um passo para o lado, abrindo espaço para ela entrar. Clara atravessou a porta sentindo o coração acelerar. Lá dentro, o cheiro de vida, de caos infantil, de saudade, de esperança.
E naquele momento, ela soube: havia escolhido o caminho certo.
No canto da sala, a esfera flutuou discretamente, registrando tudo.
— Primeiro contato realizado. Segunda vida iniciada. Caminho alternativo ativo.
— Probabilidade de amor verdadeiro: 72% e subindo.
E o futuro começava a mudar, uma escolha de cada vez.
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Atualizado até capítulo 41
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