Clara encarava o vestido de noiva como quem olha para um fantasma. Branco, delicado, com rendas cuidadosamente costuradas por mãos que acreditavam em promessas — promessas que ela sabia que terminariam em dor. Seu coração disparava, mas não era de emoção. Era medo. Era urgência.
A porta se abriu com um estalo. Sua mãe entrou com um sorriso nervoso, os olhos marejados de orgulho.
— Está quase na hora, minha filha. Você está tão linda… Está pronta?
Clara engoliu em seco. Aquela pergunta, tão comum em dias de casamento, tinha agora um peso gigantesco. "Você está pronta?" Pronta para morrer? Para apagar sua própria história?
— Não — respondeu firme.
A mãe parou. O sorriso murchou em segundos.
— Como assim?
— Eu não vou me casar.
Silêncio. A frase pairou no ar como uma bomba prestes a explodir. A mãe se aproximou, como se Clara tivesse acabado de dizer que o mundo estava prestes a acabar — e, de certa forma, estava. O mundo que todos conheciam, ao menos.
— Querida, você deve estar nervosa. Toda noiva fica assim. Mas Júlio é um bom rapaz, tem um futuro…
— Ele vai me matar — disse, com os olhos fixos nos da mãe.
A mulher recuou um passo, o rosto pálido.
— Isso… isso é loucura.
Clara se aproximou, pegou a mão da mãe com delicadeza e olhou fundo nos olhos dela.
— Por favor, acredita em mim. Eu vi o que ele vai fazer. Já vivi isso. E não vou repetir.
A mãe hesitou. Quis argumentar, mas algo no olhar da filha a silenciou. Algo ali era diferente. Aquela não era a mesma menina insegura de sempre. Era uma mulher que havia cruzado o inferno e voltado.
No andar de baixo, os convidados começavam a se impacientar. Júlio caminhava de um lado para o outro, tenso, mas tentando manter as aparências. Quando finalmente a porta do quarto se abriu, ele olhou com expectativa — e frustração.
Clara desceu as escadas vestida com uma calça jeans e uma blusa azul-marinho. Sem maquiagem, sem buquê, sem véu. Todos se calaram.
— Não vai haver casamento — ela anunciou, firme.
Murmúrios tomaram o salão. Júlio avançou, confuso.
— Isso é algum tipo de piada?
— Não, Júlio. Isso é um adeus.
Ele tentou tocar no braço dela, mas Clara recuou.
— Se me tocar, eu grito. E desta vez, alguém vai ouvir.
Havia algo em sua voz que congelou o gesto dele. Um tom que dizia: "não brinque comigo".
Júlio trincou o maxilar, os olhos faiscando de raiva.
— Você vai se arrepender disso.
— Já me arrependi uma vez. Não vou repetir.
Horas depois, o salão estava vazio. A cerimônia cancelada virou o assunto da cidade. Clara caminhava pela rua, com o vestido casual, o rosto limpo e a cabeça erguida. O dispositivo pairava ao seu lado, quase invisível, emitindo uma luz suave que só ela podia ver.
— Primeira escolha feita — disse a voz da esfera. — Agora, novos caminhos se abrirão.
— Estou pronta — sussurrou.
— Há um homem, viúvo, com três filhos. Sofrendo. Perdido. Mas com um coração que pode te amar. Você quer conhecê-lo?
Clara parou. Pensou. Respirou fundo.
— Quero.
A esfera brilhou mais forte.
E então, uma nova jornada começou.
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Atualizado até capítulo 41
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