Daniela subia os degraus em silêncio, com o coração batendo forte. Domenico havia chegado horas antes, vindo direto dos vinhedos da fronteira sul. O conflito nos arredores tinha terminado, a LME saíra vitoriosa mais uma vez, e o traficante conhecido como Caveira fora finalmente capturado. Ela sabia onde o pai estava — provavelmente assistindo, ou até mesmo participando, da tortura. Era o modo dele de garantir que nenhuma ameaça pairasse sobre a família.
Isso significava que o caminho estava livre. E ela precisava falar. Agora.
Chegou à suíte dos pais e bateu na porta entreaberta. Luciana estava recostada na poltrona próxima à janela, lendo uma revista de fofocas. Assim que viu a filha parada ali, com os olhos inquietos, fechou a revista devagar e sorriu com suavidade.
— Você já está pronta pra me contar o que está acontecendo? — perguntou com a voz calma, mas firme.
Daniela parou no centro do quarto, o coração acelerado. Hesitou por um segundo, depois assentiu.
— Sim, mama. É sobre o leilão... lembra do colar de rubis?
Luciana franziu o cenho, confusa.
— O colar que você quis, aquele que seu pai quase arrematou por uma fortuna?
— Esse mesmo.
— Você sabe que ele daria qualquer coisa pra vocês, mas aquele valor era um absurdo. Com tanta gente carente ao nosso redor, não podemos viver cercados só de luxo, filha.
— Eu sei. Não é isso… É que aconteceu algo estranho. Depois que o colar foi arrematado por outro homem, um desconhecido apareceu na minha mesa. Ele me entregou o colar… como se fosse um presente.
Luciana se endireitou na poltrona, surpresa.
— Como assim, um presente? Quem era esse homem?
— É isso que eu não sei, mama. Nunca o vi antes. Ele chegou do nada, colocou o colar diante de mim e disse que me imaginava usando “apenas o colar”.
Luciana arregalou os olhos.
— Ele disse o quê?!
— Isso mesmo que ouviu. Eu perdi a paciência. Levantei e dei um tapa nele na frente de todo mundo. Ele só sorriu e disse que por enquanto se contentaria com aquilo… mas que não ia desistir. Depois sumiu no meio da multidão. Eu não contei a ninguém, só a Dayana sabia.
Luciana levou a mão ao peito, tentando conter a irritação.
— Mas como ele teve coragem de…
Daniela a interrompeu, os olhos fixos nos da mãe.
— Mama… lembra aquele dia que você estava instruindo a Eleonora a se vingar do Domenico? Por causa do castigo que ele deu nela?
Luciana piscou algumas vezes, surpresa com a lembrança repentina. Um sorriso enviesado surgiu no canto dos lábios.
Daniela continuou, encarando-a com cumplicidade:
— Você ajudou a nora a sequestrar seu próprio filho e o prendeu na máfia Mastranhoni. Amarrado numa cadeira de ferro, só pra Eleonora usar e abusar do corpo dele como quisesse.
Luciana não conseguiu conter a risada maliciosa diante da memória.
— Ah, aquele dia… Foi um ótimo plano, admito.
— Então… naquele mesmo dia chegou uma encomenda aqui em casa. Era o colar, mama. Ele foi ousado o suficiente pra me enviar o colar, sabendo que eu não teria como devolver. Ficamos com medo. Eu e Dayana levamos o colar até o Arthur. Ele disse que cuidaria disso. Mas aí os ataques começaram, o traficante apareceu… e até agora Arthur não nos deu resposta nenhuma.
Luciana se levantou, andando de um lado para o outro, aflita.
— Isso é sério. Muito sério. E você está certa, não podemos mais ignorar. Eu prometi ao seu pai que esconderia algumas coisas pra proteger vocês, mas nesse caso… talvez não dê mais pra omitir.
— Eu não queria preocupá-lo… ele já está tão tenso, com esses sintomas no coração.
Luciana suspirou e segurou o rosto da filha com carinho.
— Eu também acho que o problema dele não é o coração… É a pressão. Sobe demais quando ele se estressa, e acaba afetando o coração. O medo dele é ter algo igual ao pai dele… Mas sabe de uma coisa?
Ela sorriu com doçura, puxou Daniela para perto e cochichou algo em seu ouvido. Daniela ficou paralisada por um instante, depois arregalou os olhos e colocou as duas mãos sobre a boca, boquiaberta.
— Você tem certeza disso, mama?
— Certeza eu não tenho… Mas estou desconfiada. Não era pra acontecer, mas… já que aconteceu…
Ela deu de ombros, sorrindo com um brilho no olhar.
— Então vamos ter muito mais a comemorar do que a lamentar. Agora se acalma, minha filha. Eu vou cuidar disso. Confia em mim.
Daniela assentiu, aliviada. Pela primeira vez em semanas, sentia que não carregava sozinha aquele fardo. Mas ao mesmo tempo, uma parte dentro dela dizia que o homem misterioso não havia terminado.
E, em algum lugar da cidade, o verdadeiro dono do colar observava uma imagem congelada em sua mente: os olhos de Daniela naquele leilão, o tapa em seu rosto, o desafio no olhar.
E aquilo só tornava tudo mais irresistível.
Salvatore estava em seu escritório, envolto na penumbra suave da noite. O silêncio era quebrado apenas pelo crepitar da lareira e o som discreto do seu celular vibrando sobre a mesa.
Ele atendeu com calma, apoiando o telefone no ouvido.
Salvatore atendeu o telefone com calma, a voz feminina do outro lado soando firme e segura.
— Está tudo pronto. Amanhã de manhã começo a agir.
Ele sorriu, satisfeito.
— Ótimo. Mas escute com atenção: você pode até ser percebida, mas ninguém deve desconfiar que está agindo. Tudo precisa parecer natural, uma simples amizade. Nem a minha família, nem a família Castellazzo Ferrari podem suspeitar da sua real missão.
— Pode ficar tranquilo, Salvatore — respondeu ela, com convicção. — Vou me aproximar da Daniela e da Dayana, fingir ser amiga delas. Assim, vou conseguir informações valiosas para você, e criar oportunidades para que vocês se encontrem.
— Exato. — Ele fez uma pausa, pensando no plano que elaborou. — E se meu avô descobrir, diremos que você é uma infiltrada na LME. Isso vai justificar sua presença, evitar levantar suspeitas e proteger você.
— Está tudo sob controle. Vou agir com cautela e inteligência. Ninguém vai perceber que sou parte do seu jogo.
— Perfeito. Amanhã tudo começa. Essa é a chance que temos para virar o jogo.
Eles desligaram, cada um imerso em seus pensamentos. O plano estava em movimento, e agora nada poderia impedir o caminho de Salvatore rumo ao seu objetivo.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Leandra Carla De Oliveira
Esse veio vai dá trabalho, pelo jeito dona Luciana viu algo aí nessa conversa com a filha.
2025-05-18
3
Claudia Teixeira
ahhh autora, quanto suspense...ansiooooosaaaa até as tampas kkkkkk
2025-05-17
1
Marli Batista
Meu Deus eu não aguento mais esses mistério anciedade a mil 😱😱😱😱😱
2025-05-22
0