Capítulo 5
Os dias na mansão Moretti escorriam lentos e carregados de uma tensão latente. Para Mariana, a descoberta das fotografias e a reação evasiva de Alessandro haviam plantado uma semente de curiosidade que florescia em uma necessidade urgente de respostas. Ela passava horas contemplando os rostos nas imagens amareladas, tentando desesperadamente encontrar algum traço familiar, alguma pista que pudesse lançar luz sobre seu passado esquecido. A beleza melancólica da mulher e a inocência do bebê a assombravam, alimentando a sensação persistente de que um véu espesso a separava de sua própria história.
Enquanto Mariana se debatia com os fragmentos de um passado oculto, um fantasma de seu presente anterior começava a se agitar nas sombras. Mateu, seu ex-namorado, o rapaz de sorriso fácil que escondia um lado sombrio e problemático, não havia conseguido seguir em frente após o desaparecimento abrupto de Mariana. A notícia de que ela havia sido "vendida" a mafiosos e agora vivia sob a proteção de outro homem o consumiu com uma mistura tóxica de raiva, ciúme e uma possessividade doentia.
Na época em que namoravam, Mariana via em Mateu o reflexo de suas próprias inseguranças e a promessa de um afeto que ela ansiava. Ele a cortejava com palavras doces e gestos aparentemente gentis, mas por trás da fachada de namorado atencioso, escondia vícios e envolvimentos perigosos. Ele a pressionava sutilmente a ultrapassar seus limites, ignorando seu desconforto e sua falta de prontidão para intimidade física. Mariana, com sua natureza compassiva, acreditava que poderia ajudá-lo a superar seus demônios, que seu amor seria suficiente para guiá-lo para um caminho melhor. Ela se agarrava à esperança de um futuro juntos, apesar dos sinais тревоcedores que ocasionalmente emergiam da escuridão que o cercava.
Quando Mariana desapareceu repentinamente de sua vida, levada pelas circunstâncias cruéis do acordo de seu pai, Mateu se sentiu ultrajado e rejeitado. Sua mente distorcida interpretou o silêncio forçado de Mariana como uma traição, uma prova de que ela o havia abandonado por um mundo mais "interessante" e perigoso. A ideia de que ela estava agora ao lado de outro homem, um mafioso poderoso, inflamou ainda mais sua raiva e alimentou um sentimento possessivo e obsessivo. Em sua visão deturpada, Mariana lhe pertencia, e ela havia sido injustamente tirada dele.
Consumido por essa fixação doentia, Mateu começou a investigar o paradeiro de Mariana, mergulhando em um submundo sombrio e perigoso que ele mal compreendia. Ele ouviu boatos sobre uma jovem que havia sido entregue a Alessandro Moretti como pagamento de uma dívida, e a descrição vaga coincidia com a de Mariana. A confirmação, ainda que indireta, o lançou em um espiral de fúria e desespero.
A ideia de Mariana vivendo sob o mesmo teto de outro homem, desfrutando de um luxo que ele jamais poderia oferecer, era insuportável para seu ego ferido. Ele se agarrava à memória dos momentos em que Mariana demonstrava afeto por ele, ignorando as vezes em que ela se mostrava hesitante ou desconfortável com suas investidas mais insistentes. Em sua mente, ele era o único que realmente a amava, o único que a merecia.
Obcecado pela ideia de "recuperar o que era seu por direito", Mateu começou a planejar um ato desesperado e perigoso: sequestrar Mariana. Ele acreditava que, uma vez em suas mãos, ele poderia convencê-la a voltar para ele, a "enxergar a verdade" sobre seus sentimentos. Sua mente perturbada não conseguia conceber a ideia de que Mariana pudesse estar sofrendo, que ela havia sido vítima de uma situação terrível. Ele via apenas a si mesmo como a vítima, o homem injustamente abandonado.
Enquanto Mateu urdia seus planos sombrios, Mariana tentava se adaptar à sua nova realidade na mansão. As festas ocasionais promovidas por Alessandro a expunham a um mundo de riqueza extravagante e de moralidade questionável. Ela presenciava a superficialidade das relações, a troca constante de acompanhantes e o cinismo nos olhos daqueles que viviam à sombra do poder. As mulheres que circulavam ao redor de Alessandro eram exatamente como Donatella as havia descrito: figuras vaidosas e interesseiras, que competiam pela atenção do chefe da máfia, ostentando joias caras e sorrisos forçados. Mariana as observava com uma mistura de curiosidade e repulsa, percebendo a fragilidade e a insegurança por trás de sua ostentação.
Essas mulheres, muitas delas ex-amantes ou amigas com benefícios de Alessandro, viam Mariana com desconfiança e ciúme. Elas a consideravam uma intrusa, uma ameaça potencial ao seu acesso aos recursos e à influência do mafioso. Seus olhares eram carregados de hostilidade velada, e seus comentários, quando dirigidos a Mariana, eram invariavelmente ácidos e condescendentes. Mariana, com sua educação simples e sua altivez natural, respondia a essas provocações com uma elegância fria, sem se rebaixar ao nível delas, mas deixando claro que não se intimidaria. Em algumas ocasiões, quando as investidas se tornavam mais agressivas, Mariana demonstrava uma firmeza surpreendente, defendendo-se com palavras afiadas e, se necessário, com uma determinação física que surpreendia suas antagonistas. Ela não era uma donzela indefesa, e a experiência de sua vida a havia ensinado a se defender quando necessário.
Em uma dessas ocasiões, durante um jantar oferecido por Alessandro a alguns de seus associados, uma mulher loira e exuberante, chamada Isabella, que havia sido uma amante de Alessandro por um breve período, dirigiu-se a Mariana com um sorriso venenoso. "Então, a novata ainda está por aqui? Pensei que Alessandro já teria se cansado de você."
Mariana a encarou com calma. "Minha presença aqui não é da sua conta, Isabella."
Isabella riu, um som estridente e falso. "Ah, mas é claro que é da minha conta. Todas nós nos preocupamos com o bom gosto de Alessandro, não é mesmo?" Ela lançou um olhar significativo para as outras mulheres presentes, que riram em uníssono.
Antes que Mariana pudesse responder, outra mulher, morena e com um olhar calculista, chamada Sofia, se aproximou. "Não se iluda, garota. Alessandro sempre volta para o que é familiar. Você é apenas um passatempo."
Mariana manteve a compostura. "O tempo dirá quem é o passatempo aqui." Sua voz era firme e seu olhar desafiador, surpreendendo as mulheres que esperavam vê-la intimidada.
A tensão no ar se intensificou, mas Alessandro, que observava a cena de longe, lançou um olhar frio para suas ex-acompanhantes, um aviso silencioso para que cessassem o assédio. As mulheres, conhecendo bem o temperamento de seu anfitrião, recuaram com sorrisos amarelos.
Esses pequenos incidentes serviam para fortalecer a determinação de Mariana. Ela não permitiria que aquelas mulheres invejosas e superficiais a definissem. Ela era mais do que a garota que havia sido vendida como pagamento de uma dívida. Ela possuía uma força interior que ainda não havia sido totalmente despertada, e ela estava aprendendo a navegar naquele mundo perigoso com uma resiliência surpreendente.
No entanto, a sombra de Mateu se aproximava, impulsionada por uma obsessão perigosa e um desejo distorcido de posse. Ele estava prestes a irromper na nova vida de Mariana, trazendo consigo os fantasmas de um passado que ela tentava deixar para trás e desencadeando uma série de eventos que testariam sua coragem e sua capacidade de sobrevivência até o limite. O encontro entre o passado e o presente de Mariana seria explosivo e doloroso, marcando um ponto de inflexão crucial em sua jornada.
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Atualizado até capítulo 40
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