Capítulo 3
A decisão de Alessandro reverberou pelo imponente salão, silenciando os sussurros e os olhares curiosos dos homens que haviam trazido Mariana. Para eles, a jovem de semblante frágil e olhar assustado era apenas mais um ativo, uma forma de quitar uma dívida incômoda. A ideia de que o chefe da máfia italiana a acolheria sob sua proteção era algo inédito, uma anomalia que desafiava a lógica fria e transacional do seu mundo.
Mariana, por sua vez, sentiu um fio tênue de esperança se enroscar em seu coração. A proteção de um homem como Alessandro, por mais enigmático e perigoso que ele parecesse, era preferível à incerteza sombria que a aguardava. Seus olhos encontraram os dele por um breve instante, buscando decifrar a motivação por trás daquela decisão inesperada, mas a frieza impenetrável em seu olhar não revelava nada.
Os dias que se seguiram à sua chegada à mansão foram estranhos e desorientadores. Mariana foi instalada em um quarto luxuoso, com móveis de madeira escura e pesadas cortinas de veludo que bloqueavam a luz do sol. Era uma prisão dourada, onde suas necessidades básicas eram atendidas por empregados silenciosos e solícitos, mas onde a liberdade era uma miragem distante. Ela passava as horas explorando os livros na estante, tentando se distrair da angústia e da incerteza que a consumiam. A ausência de notícias de Ana e a culpa paralisante em relação ao ato de seu pai eram um fardo pesado demais para suportar sozinha.
Alessandro era uma figura esquiva em sua nova realidade. Ele aparecia esporadicamente, geralmente à noite, seus encontros breves e formais. Ele a observava com um olhar distante, como se estivesse avaliando algo além de sua presença física. Suas palavras eram poucas, geralmente ordens concisas aos seus subordinados em relação ao bem-estar de Mariana, mas sem dirigir-se diretamente a ela de forma pessoal.
Em meio a essa atmosfera de tensão silenciosa, Mariana começou a perceber a dinâmica complexa que regia a mansão. Homens armados circulavam pelos corredores com uma discrição ameaçadora, sussurros em italiano ecoavam pelas paredes e reuniões privadas aconteciam em salas fechadas, exalando um ar de segredo e poder. Ela estava imersa em um mundo que sempre vira de longe, nos filmes e nos noticiários, mas que agora a engolia com sua brutalidade fria e calculista.
Uma noite, um dos empregados a informou que Alessandro desejava vê-la na biblioteca. Mariana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Era o primeiro contato real desde sua chegada, e ela não sabia o que esperar. Ao entrar na biblioteca, um vasto salão com estantes que se perdiam de vista e um cheiro inebriante de livros antigos, encontrou Alessandro parado junto à janela, observando a escuridão lá fora.
"Prepare-se", disse ele, sem se virar. "Esta noite, você irá a um evento."
Mariana sentiu o coração acelerar. "Que tipo de evento?"
"Um baile", respondeu ele, finalmente se voltando para encará-la. Seus olhos azuis eram frios e diretos. "Um baile onde negócios são feitos e alianças são formadas. Você estará comigo."
O medo e a confusão se misturaram em Mariana. Ela não entendia por que Alessandro a levaria a um evento daquele tipo. Ela era apenas uma prisioneira, o pagamento de uma dívida. Qual seria o seu papel naquele mundo de poder e intriga?
"Eu não tenho roupas adequadas", murmurou ela, sentindo-se deslocada e vulnerável.
Um leve sorriso, frio e quase imperceptível, curvou os lábios de Alessandro. "Isso não será um problema."
Naquela noite, Mariana foi apresentada a um mundo de opulência e perigo que excedia sua imaginação mais sombria. Foi levada a um salão de festas deslumbrante, adornado com lustres de cristal, tapeçarias suntuosas e uma orquestra que tocava melodias suaves, contrastando ironicamente com a atmosfera tensa que pairava no ar. A elite do submundo estava ali reunida: homens e mulheres elegantemente vestidos, ostentando joias caras e sorrisos calculados, seus olhares carregados de segredos e ambições.
Alessandro a conduziu pelo salão com uma mão firme em sua cintura, sua presença imponente abrindo caminho entre a multidão. Mariana sentia os olhares curiosos e avaliadores sobre ela, sussurros que a seguiam como sombras. Ela se sentia como uma estranha em um planeta desconhecido, tentando decifrar os códigos silenciosos e as dinâmicas de poder daquele universo.
Foi então que ela a viu. Uma senhora idosa, sentada em um trono improvisado em um canto do salão, cercada por um séquito de homens que a tratavam com uma reverência quase religiosa. Seu rosto era marcado por rugas profundas que contavam histórias de poder e crueldade, e seus olhos escuros observavam tudo com uma intensidade feroz. Ela usava um vestido preto elegante e ostentava anéis de ouro maciço em cada dedo. Era uma figura imponente, que emanava uma aura de autoridade inquestionável.
Quando os olhos da senhora se fixaram em Mariana, a jovem sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia um misto de desprezo e curiosidade naquele olhar, como se ela fosse um inseto sendo examinado sob uma lente de aumento. Alessandro se aproximou da senhora, curvando-se levemente em um gesto de respeito.
"Donatella", disse ele, sua voz carregada de um tom formal. "Permita-me apresentar Mariana."
A velha senhora avaliou Mariana de cima a baixo, seu olhar demorado e inquisitivo. "Mais uma das suas acompanhantes, Alessandro?", perguntou ela, sua voz rouca e carregada de um sotaque forte. Havia um tom de escárnio na sua pergunta, como se Mariana fosse apenas mais um troféu descartável.
Mariana sentiu o rosto corar de humilhação. Ela não era uma acompanhante, não estava ali por vontade própria. Mas sabia que naquele mundo, sua voz não tinha peso algum.
Alessandro manteve a compostura. "Mariana está sob minha proteção, Donatella. As circunstâncias de sua presença aqui são... diferentes."
Donatella ergueu uma sobrancelha fina, seu olhar ainda fixo em Mariana. "Diferentes, é? Todos os seus casos são 'diferentes', Alessandro. Mas no final, todos eles desaparecem."
O comentário ácido atingiu Mariana como uma flecha. Ela percebeu o desprezo daquela mulher poderosa, a forma como ela a via como insignificante e passageira. Mas em vez de se encolher, algo dentro dela se acendeu. Uma faísca de orgulho ferido, uma recusa silenciosa em ser definida pelas circunstâncias.
Naquela noite, Mariana aprendeu algumas lições cruéis sobre o mundo em que havia sido jogada. Ela percebeu que a opulência escondia uma brutalidade fria, que os sorrisos eram máscaras para ambições sombrias e que o poder era exercido sem escrúpulos. Ela era uma estranha naquele baile de serpentes, uma figura deslocada entre o brilho do ouro e a escuridão das sombras. Mas, sob o olhar avaliador de Donatella e a proteção enigmática de Alessandro, uma nova determinação começava a germinar em seu coração. Ela sobreviveria. Ela descobriria o seu lugar naquele mundo perigoso, mesmo que isso significasse desenterrar segredos obscuros e enfrentar inimigos poderosos. Mal sabia ela que aquela velha senhora, com seu olhar penetrante e suas palavras venenosas, guardava a chave para o seu passado esquecido, um passado que a ligava de forma inesperada à própria essência daquele submundo.
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Atualizado até capítulo 40
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