capitulo 03

O motor do jatinho particular roncava como um predador pronto para caçar. Lucca estava recostado na poltrona de couro preto, com um copo de uísque na mão, mas os olhos... estavam distantes. A cidade abaixo era só um borrão de luzes, e o relógio em seu pulso marcava o tempo como uma contagem regressiva.

Aurora.

O nome ecoava em sua mente como um sussurro persistente.

Ele já tinha feito segurança para políticos, empresários e mafiosos poderosos. Mas essa missão era diferente. Porque ela era diferente. Porque no fundo do peito — no lugar onde ele jurava que não existia mais sentimento — algo começou a pulsar. Algo que ele não queria nomear.

Ele revisou mentalmente tudo o que sabia sobre ela.

Vinte e três anos. Se formando em Medicina. Inteligente, discreta, boa demais para o mundo sujo. E naquela noite, ela estaria... em uma boate?

Lucca franziu o cenho e apertou o copo com força. Não parecia o tipo de coisa que Aurora faria. E justamente por isso... algo o incomodava.

Ele pousaria em menos de duas horas.

E enquanto voava em direção ao desconhecido, ela... já estava dentro dele.

Na cidade...

Aurora se olhava no espelho do banheiro da boate com uma expressão de quem claramente não pertencia àquele ambiente. Os olhos  bem delineados com rímel, o batom vermelho mais ousado do que o habitual e o vestido justo até o joelho eram uma tentativa frustrada de parecer à vontade.

Ao lado dela, Fernanda, sua melhor amiga desde o colégio, ajeitava os óculos e passava um pouco de brilho labial com as mãos trêmulas.

— A gente vai embora daqui a pouco, né? — Fernanda perguntou, olhando de canto para Aurora.

— É claro. Só precisamos... fingir por uma hora que somos sociáveis. — Aurora sorriu nervosa, tentando parecer confiante.

— Nerds infiltradas em território inimigo. — Fernanda disse, e as duas riram.

Aurora respirou fundo. Não estavam ali por escolha. Estavam por Natan, o irmão mais velho de Aurora — e dono da boate mais badalada da cidade. Ele praticamente implorou para que ela fosse naquela noite de reinauguração.

Aurora topou... por ele.

Mas agora, cercada por luzes estroboscópicas, música alta e corpos suados dançando, ela se sentia deslocada. Ainda assim, mantinha o queixo erguido. Porque mesmo com o salto incomodando e o vestido a sufocando, ela era teimosa. E Fernanda também.

As duas saíram do banheiro e voltaram para o camarote reservado por Natan. Um segurança enorme com cara de poucos amigos fazia guarda à porta. Elas entraram. Era um espaço um pouco mais afastado da pista, com sofás pretos, uma mesa com bebidas caras e uma vista privilegiada da boate.

Natan ainda não havia aparecido, mas ela sabia que ele estava de olho.

Aurora se sentou, cruzando as pernas, e tentou se distrair observando as pessoas. Era um mundo diferente do que ela conhecia. Mas havia algo naquela noite... uma sensação estranha no ar. Como se algo estivesse prestes a acontecer. Como se os olhos de alguém a observassem de longe.

— Você tá com cara de quem tá sentindo a Matrix colapsar — Fernanda comentou, abrindo uma garrafinha de água com gás.

Aurora riu baixo.

— Não sei... só tô com uma sensação esquisita. Tipo... pressentimento.

Fernanda a olhou de lado.

— Você sabe que isso nos filmes sempre significa que alguém vai morrer ou se apaixonar.

Aurora revirou os olhos.

— Ótimo. Espero que seja a segunda opção. Porque eu não tô com paciência pra lidar com cadáver hoje.

As duas riram, mas Aurora voltou a olhar para a multidão. E seus olhos pararam... sem saber por quê.

No aeroporto...

Lucca desceu do jatinho, o paletó pendurado no braço, e o olhar gelado. Um SUV preto o aguardava na pista. Ele entrou, deu o endereço da boate de Natan e cruzou os braços.

A noite estava apenas começando.

E ele mal sabia... que a mulher que jurou proteger estava prestes a balançar seu mundo inteiro.

Aurora ajeitou o cabelo com dedos trêmulos, os olhos varrendo o camarote com inquietação. Vestia um vestido vinho, colado ao corpo, mas sem exagero — elegante, como ela. O salto lhe dava postura, mas também dor. Nada daquilo fazia parte de quem ela era, e ainda assim, ali estava.

Estava prestes a se formar em medicina — o orgulho da família, a mais nova entre os internos do hospital universitário. Passava os dias em plantões exaustivos, anotando prontuários, atendendo pacientes, lidando com a morte de frente. A boate parecia um universo paralelo.

Ao lado, Fernanda sorvia a água com gás, abraçada a uma almofada do sofá como se aquilo a protegesse da selva lá fora.

— Você acha que o Natan chamou a gente pra essa boate só pra vigiar? — Fernanda perguntou, com um sorrisinho desconfiado.

Aurora bufou.

— Conhecendo meu irmão? Cem por cento de certeza. Ele quer me manter por perto. Mesmo sabendo que a gente vai embora em menos de duas horas.

— Não culpo ele. Você vive no hospital. Já viu mais traumas que eu em todos os episódios de Grey's Anatomy.

Aurora sorriu. Mas o sorriso durou pouco. Algo na atmosfera mudou. Um arrepio lhe subiu pela nuca. Ela se virou instintivamente para a entrada da boate, mesmo sem saber por quê.

E foi quando o viu.

Lucca.

Entrando como se pertencesse à noite.

Paletó escuro, olhar afiado como lâmina. O segurança da porta falou algo, mas ele nem respondeu. Apenas passou, com a postura de quem sabe que ninguém tem coragem de impedi-lo. O blazer pendia do ombro com descuido, revelando os braços fortes sob a camisa. O cabelo castanho escuro estava levemente bagunçado pelo vento do aeroporto, e a barba por fazer reforçava o ar perigoso.

Aurora congelou.

O mundo inteiro pareceu silenciar.

Ela não o via há anos. Desde aquele verão em que ele sumiu da vida dela — depois de trabalhar um tempo para Natan como segurança. Na época, ela era uma garota de 17 anos que olhava para ele como quem olha para um herói de filme de ação. Ele a ignorava com perfeição. Sempre cortês, sempre distante.

Mas agora... ele estava ali. Mais homem, mais sombrio. E os olhos dele — aqueles olhos cinzentos, gélidos — pararam diretamente nos dela.

Ela prendeu a respiração.

O coração, traidor, deu um salto dolorido no peito.

Lucca também parou por um instante. Como se o universo tivesse dado um comando silencioso de pausa. Só os dois. Só aquele olhar. O tempo entre eles parecia não ter passado.

Mas passou.

E cada segundo pesava como chumbo nos ombros de Lucca.

Ele se aproximou devagar, como um predador estudando o território. Aurora tentou desviar o olhar, mas não conseguiu. Era como se os olhos dele tivessem grilhões.

— Aurora — ele disse, com aquela voz grave que ela reconheceria em qualquer lugar, mesmo no meio do caos.

— Lucca. — Ela respondeu, tentando soar firme. Mas havia um tremor em sua voz. E em sua alma.

Fernanda, muda ao lado, parecia hipnotizada com a cena, segurando o copo como se fosse sua única defesa.

Lucca a olhou de cima a baixo, sem esconder. Não como um homem qualquer. Mas como alguém que precisava ter certeza de que ela estava bem. De que ninguém a tocou. De que ela era intocável.

— Seu pai me chamou. Disse que você precisava de proteção.

Aurora ergueu o queixo.

— Proteção de quê?

— Ainda não sei. Mas se alguém quiser encostar em você... vai ter que passar por mim.

Ela engoliu seco. O coração em disparada, a cabeça em confusão.

Afinal, quem era Lucca agora?

E por que, depois de todos esses anos, ele ainda causava esse efeito nela?

Mais populares

Comments

Ana Marta Benedicto

Ana Marta Benedicto

Essa história será perigosa e tudo pode acontecer com esse casal.

2025-05-12

1

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Eita atrás de eita,esses dois serão fogo e gasolina. Kkkkkk !!!

2025-05-12

3

Claudia

Claudia

Úall que reecontro foi esse 🤭🤭🤭🤭🧿♾

2025-05-12

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!