Em meu castelo de pedra, a luz da lua atravessa as altas janelas ogivais como dedos prateados, tocando cada canto do salão com uma serenidade fria. O silêncio sempre foi meu aliado, uma presença constante que dialoga comigo há séculos. E, no entanto, esta noite, há algo de inquieto nesse silêncio.
Um nome não dito. Um olhar âmbar que persiste em minha mente.
Izamura.
Um nome rude para um homem ainda mais indomado. Conhecido por sua arrogância lasciva, pela violência que carrega nos músculos e no olhar — e ainda assim, é justamente essa selvageria crua que me desperta.
Não é elegância. É instinto. É carne viva que desafia minha calma secular.
Seus cabelos curtos e escuros, a pele morena marcada por tatuagens que imploram por serem decifradas… Um corpo desenhado não pela vaidade, mas pela sobrevivência. Uma beleza brutal, feita de cicatrizes e orgulho.
E eu, um lorde imortal, de sangue nobre e modos refinados, estou... intrigado.
Ele mente. Diz que seu coração não acelera ao me ver. Que não é por minha causa aquele tremor em sua voz. Que o rubor em sua pele é apenas o cansaço do dia.
Patético.
E encantador.
O breve toque de seus lábios nos meus — ah, aquele beijo imprudente — despertou algo em mim que julgava adormecido. Algo queimar em meu peito, como se aquele calor humano fosse capaz de incendiar até mesmo um ser como eu, há tanto tempo mergulhado em gelo.
Ele é mais alto que eu. Curioso. Isso nunca me incomodou. Pelo contrário — gosto da diferença. Gosto da maneira como ele tenta não olhar diretamente nos meus olhos, e mesmo assim, se perde neles.
Os meus olhos... vermelhos como a fome antiga.
Os cabelos longos, como o tempo.
Minha pele translúcida que nunca conheceu o sol.
E ele, rude. Vulcânico. Vivo.
Talvez... talvez eu deseje mais do que um brinquedo. Mas essa ideia me é perigosa. Já desejei antes. Já sangrei antes.
Suspiro.
Afasto-me da sala do trono. Preciso do vento, do vazio da noite, da floresta fria além dos portões. Preciso de qualquer coisa que me distraia da lembrança de sua boca contra a minha, da tensão em seu corpo quando o toquei.
Mas nem o ar gélido me alcança. O mundo parece pálido comparado ao calor que ele deixou.
As árvores me recebem com familiaridade, mas esta noite algo é diferente. Caminho até o riacho que corta a clareira, seus sons ecoando suaves sob a luz prateada da lua. Meus cabelos dançam com o vento, os fios alaranjados chicoteando minhas costas nuas. Tirei parte das vestes — um gesto quase ritualístico, como se despir-me pudesse também limpar meus pensamentos.
Mas não.
A lembrança dele continua vívida.
Ardente.
Sinto-o antes que o veja.
O perfume — madeira, couro, e um toque cítrico de algo que não sei nomear. Talvez adrenalina.
Ele não tenta se esconder. Ele nunca tenta. Ainda assim, finjo ignorar sua presença.
Meus sentidos estão acesos, e decido brincar.
Elevo as mãos. Meus olhos brilham, e a água do riacho obedece, elevando-se do chão em uma dança etérea, suspensa entre nós. Sinto o batimento dele acelerar. Tão humano. Tão... vivo.
Ele está encantado. Ou assustado.
Ambos me satisfazem.
Deixo a água cair. Uma risada baixa escapa dos meus lábios, rouca, arrastada — um som que faz parte da noite. Não o chamo. Não me viro. Não hoje.
Mas ele está vendo.
Está aprendendo.
Torno a vestir a parte superior das minhas roupas — uma camisa branca, leve, que delineia as linhas do meu corpo. As calças escuras permanecem, justas, moldando a silhueta com precisão pensada.
Sou um lorde. E sei usar minha aparência como arma.
Brilho os olhos brevemente, apenas para que ele saiba que sei. Que o sinto. Que o ouço.
Que estou no controle.
Então desapareço, deixando-o ali com seus próprios pensamentos, com a respiração ainda presa na garganta.
Retorno ao castelo. O trono me espera, mas esta noite ele parece vazio demais. Caminho pelos corredores, a luz da lua derramando-se sobre os pisos de mármore. Sirvo-me de vinho antigo — um tinto escuro, quase negro. Bebo, mas não sinto prazer.
O sabor não é nada comparado ao gosto da boca dele.
Coloco a taça sobre a mesa. O som ecoa, como um alerta.
Subo para os aposentos.
Passo pelos retratos de tempos esquecidos, pelos espelhos que há muito não mostram reflexos que me interessam.
A cama me aguarda, coberta com sedas importadas. Toco-a. Fria, como minha pele.
Como deveria ser meu coração.
Mas ele... Izamura... ele aquece algo dentro de mim. Algo que pensei ter enterrado.
Sento-me. O luar entra pelas cortinas entreabertas. Olho para ele como quem busca respostas.
E me pergunto — o que sou agora que voltei a sentir?
Ele é perigoso. Ele me provoca. Ele não me respeita.
E eu... quero mais.
Talvez só mais um beijo.
Ou talvez, a eternidade.
Continua....(θ‿θ)
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Atualizado até capítulo 77
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