O sol ainda nem havia nascido quando Elisa estava de pé. Os olhos pesados não vinham de falta de sono, mas de excesso de pensamentos. A mulher que olhou no espelho naquela manhã não era a mesma da noite anterior.
Ela não chorava. Ela planejava.
Tomou banho com calma, vestiu-se com elegância e maquiagem sutil. Sabia que precisava enfrentar a rotina como se nada tivesse acontecido. Era assim que os jogadores frios agiam — e, agora, ela era uma jogadora.
No caminho para o trabalho, a mente de Elisa girava em torno de uma única certeza: não bastava apenas confrontá-los. Ela queria que todos sentissem o gosto do desprezo que derramaram sobre ela durante anos.
Começaria com silêncio. Com distanciamento. Com frieza.
Mas, para isso, ela precisava de aliados. E sabia exatamente onde encontrá-los.
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O escritório de arquitetura era um dos mais respeitados da cidade. Elisa trabalhava ali há quase dois anos como assistente de projetos — discreta, dedicada, competente. Invisível o suficiente para nunca representar ameaça. Exatamente como todos gostavam.
Mas aquele dia seria diferente.
Assim que entrou na recepção, notou o olhar surpreso de colegas ao vê-la passar — e não era por educação. Era pela postura. Pela segurança. Pelo salto firme e o olhar direto.
— Elisa? — chamou uma voz masculina atrás dela.
Ela virou-se. Era Leonardo Vasconcellos, CEO da empresa. Jovem, rico, inteligente — e até aquele momento, quase inatingível para ela. Um homem envolto em mistério e respeito, conhecido por sua frieza nos negócios e discrição na vida pessoal.
— Bom dia, senhor Vasconcellos.
— Está... diferente hoje — ele comentou, sem o tom sedutor que usava com outras mulheres da equipe. Com ela, havia sempre sido mais... formal. Profissional.
— E será cada vez mais — respondeu com um leve sorriso, antes de segui-lo para o elevador.
Durante a subida, o silêncio pairou. Mas Elisa sabia que havia chamado atenção.
— Tenho uma proposta a lhe fazer — ela disse, encarando-o nos olhos quando a porta do elevador se abriu no último andar.
Leonardo arqueou uma sobrancelha, surpreso.
— Uma proposta?
— Um acordo. Uma aliança que pode ser benéfica para nós dois.
Ele a estudou por um momento, antes de responder:
— Entre. Vamos conversar.
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Enquanto atravessava a porta da sala de reuniões mais reservada da empresa, Elisa sentia o coração pulsar — não de medo, mas de adrenalina.
Ela não era mais apenas uma noiva traída.
Era uma mulher pronta para mudar o jogo.
A sala de reuniões estava silenciosa, fria, quase intimidadora. Mas Elisa não demonstrava nenhum traço de hesitação. Sentou-se diante de Leonardo como uma igual. Ele, por sua vez, ainda intrigado, cruzou os braços, o olhar afiado cravado nela.
— Um acordo de casamento? — ele repetiu, como se ainda processasse o que ouvira.
Elisa assentiu, mantendo a postura firme.
— Um contrato. Um ano. Sem obrigações conjugais, sem interferências em sua vida pessoal ou profissional. Cumprimos o papel social, e depois... cada um segue seu caminho.
Leonardo riu, mas sem humor.
— Isso é loucura.
— Loucura é o que eu faria se seguisse o impulso de me vingar da maneira mais óbvia. — Ela se inclinou para frente, os olhos faiscando. — O que estou propondo é estratégico. E útil para nós dois.
— Útil? — ele ergueu a sobrancelha. — Em que isso me beneficiaria?
Elisa não hesitou.
— Sei que sua família tem pressionado por uma imagem de estabilidade, de casamento, de herdeiros. A sua posição como herdeiro do império Vasconcellos exige uma esposa exemplar. Eu posso ser essa imagem. Temporariamente.
Leonardo a observava em silêncio agora, pensativo.
— E você? O que você ganha com isso?
Ela sorriu, mas não foi um sorriso gentil. Foi calculado.
— Uma nova identidade. Um novo sobrenome. Um novo status. E uma distância segura de tudo que está me arrastando para o fundo. Quero que minha família, meu noivo e minha irmã vejam o que perderam. Quero vê-los digerindo a ideia de que a mulher que ignoraram agora está casada com um dos homens mais poderosos da cidade.
Leonardo se recostou na cadeira, finalmente compreendendo. Havia algo nela que lhe interessava agora — não como mulher, mas como jogadora.
— E você garante que não haverá... complicações?
— Garantido. Nenhum envolvimento emocional. Nenhum ciúme. Nenhuma cobrança. Em um ano, assinamos o divórcio e seguimos em paz.
Leonardo a encarou mais alguns segundos antes de falar:
— Você é mais perigosa do que parece.
— E você mais solitário do que demonstra — retrucou, sem piscar.
Ele riu, dessa vez com um certo divertimento. Levantou-se e caminhou até a janela, pensativo. A cidade se estendia abaixo como um tabuleiro.
— Se eu aceitar... — disse, virando-se para ela — você entra nesse jogo sabendo que ninguém lá fora vai acreditar que é de mentira.
— Perfeito. É isso que eu quero.
Houve um silêncio pesado. Então, Leonardo estendeu a mão.
— Então temos um acordo, senhora Vasconcellos.
Elisa se levantou, firme, e apertou a mão dele.
— Ainda não sou. Mas em breve, todos saberão que sou.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Lucianna
Eita adoro mulher decidida
2025-05-13
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