O GOSTO AMARGO DA VERDADE

O barulho da cantina estava mais alto do que nunca. O cheiro de comida estava se misturando com conversas e risadas, enquanto todos se espalhavam pelas mesas. Eu estava com a cabeça cheia, tentando processar tudo o que tinha acontecido naquela noite, e sem dúvida, a raiva ainda estava me queimando por dentro.

Eu me sentei com Bianca, que me olhou com uma expressão curiosa assim que me viu sentando à sua frente.

"E aí, como foi a festa?" — ela perguntou, pegando seu prato de salada.

Eu respirei fundo e comecei a contar tudo, sem poupar palavras.

"Não sei nem por onde começar, Bia... Aquela festa... eu pensei que ia ser diferente, mas na verdade só foi um desastre. Ele..." — dei uma pausa, tentando controlar o tom da minha voz: "Ele me convidou para ir embora com ele, mas quando eu olhei para ele na pista, ele estava beijando outra garota."

Bianca me olhou, surpresa, com os olhos arregalados.

"O quê?! Você está falando sério? Ele te deixou esperando e foi beijar outra?"

Eu assenti, sem conseguir disfarçar a raiva que ainda borbulhava em mim.

"Sim, e o pior é que eu fui ingênua o suficiente para achar que ele realmente se importava. Achei que ele queria me acompanhar, mas... enfim, já deu. Eu não vou mais me importar com ele. Ele não merece nem um pingo da minha atenção."

Bianca ficou em silêncio por um momento, pensativa. Então ela abriu um sorriso.

"Você é forte, Rosana. Sério. E pelo menos agora você viu quem ele realmente é, né?"

Eu ri amargamente.

"Não sei se posso chamar isso de sorte, mas enfim... É, agora sei o que esperar dele."

Foi quando eu ouvi uma voz doce e animada se aproximando.

"Ei, Rosana, você está sozinha aqui? A gente estava pensando em chamar você para se juntar a nós. Vem cá!"

Olhei para a voz que vinha de trás e vi as líderes de torcida se aproximando. Elas estavam todas sorrindo, e eu não pude deixar de notar que uma delas, a mais alta e loira, me observava com um olhar curioso.

Eu olhei para Bianca, que me deu um leve sorriso de incentivo. Eu não estava totalmente certa se queria me misturar mais com aquelas meninas, mas algo me dizia que, se quisesse realmente me sentir parte deste lugar, talvez fosse uma boa ideia aceitar o convite.

"Claro, por que não?" — respondi, me levantando da mesa.

As meninas sorriram ainda mais e me conduziram até a mesa delas. Quando me sentei, uma delas começou a conversar comigo, perguntando sobre o meu treino e como eu estava me adaptando à equipe. Senti um pouco de desconforto no começo, mas logo as conversas começaram a fluir de forma mais natural.

Eu estava começando a entender um pouco mais sobre elas, e talvez, só talvez, essas meninas pudessem se tornar uma boa companhia. Claro que a ideia de ser líder de torcida ainda não me empolgava tanto, mas ver as outras meninas empolgadas e se divertindo me dava uma sensação estranha de pertencimento.

"Como está indo o treino? Está se saindo bem?" — perguntou uma delas.

Eu sorri, tentando não deixar transparecer minha insegurança.

"Eu estou tentando... mas ainda tenho um longo caminho pela frente."

Elas riram e me deram palavras de encorajamento. Algo em mim se acendeu. Talvez eu ainda estivesse longe de me sentir completamente à vontade com elas, mas, naquele momento, eu estava começando a me encontrar em meio àquelas conversas e risadas. Talvez esse lugar não fosse tão ruim assim.

Mas ainda havia algo em mim que me dizia que eu deveria me manter atenta, não deixar que o brilho do lugar me cegasse novamente.

Eu estava começando a relaxar um pouco na mesa com as meninas, quando uma sombra se projetou sobre nós. Levantei os olhos e vi Théo se aproximando, com aquele sorriso largo que ele sempre usava. Ele parecia decidido a falar comigo, e, por um momento, meu estômago se revirou.

"Posso falar com você um minuto?" — ele disse, olhando diretamente para mim.

As meninas ao redor me observaram com um sorriso curioso, mas eu apenas respirei fundo, me sentindo desconfortável. Como se não bastasse o que já tinha acontecido na festa, agora ele queria me abordar aqui, no meio da cantina, no momento em que eu finalmente tentava me distrair.

"Não sei se é uma boa ideia agora, Théo."— falei, tentando manter a calma.

Ele olhou para as meninas e deu um passo atrás, aparentemente surpreso com a minha resposta, mas ainda assim insistindo.

"Eu te esperei ontem. Fiquei lá na porta esperando você vir, mas você não apareceu. Eu queria te acompanhar para casa..."

Ele fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas, mas eu já sabia o que ele estava tentando fazer. Não queria mais cair nessa. O que ele tinha feito na festa me feriu, e agora ele vinha com essa história de querer me acompanhar para casa?

Olhei para ele com um sorriso que não alcançou os meus olhos.

"Eu preferi ir embora sozinha, Théo."— disse, minha voz mais firme do que eu imaginava: "Eu não estava interessada em companhia. E, se fosse para estar acompanhada, preferiria estar com boas pessoas, e não com quem só quer aparecer."

Ele me olhou por um momento, tentando entender o que eu estava dizendo. As meninas ao meu redor começaram a sussurrar, mas eu nem liguei. Eles podiam achar o que quisessem.

"O que você quer dizer com isso?" — ele perguntou, um pouco irritado, mas eu já estava cansada.

"Só estou dizendo que se você queria me acompanhar, deveria ter sido mais honesto e não simplesmente fazer o que fez na festa. Eu não sou um brinquedo que você pode pegar e largar a hora que quiser." — Eu dei uma pausa, para ele digerir minhas palavras: "E, honestamente, meninos como você são os piores."

Aquelas palavras pareciam cortar o ar, e o silêncio entre nós se estendeu por um momento. As meninas ao meu redor estavam observando, e eu senti um leve arrependimento por ter sido tão direta, mas, ao mesmo tempo, senti uma estranha satisfação. Eu precisava colocar as coisas em perspectiva e fazer ele entender o que estava acontecendo.

Theodor parecia chocado, como se estivesse tentando juntar as peças da situação. Ele abriu a boca, mas antes que pudesse dizer algo, eu me levantei da mesa.

"Acho que isso é tudo o que tenho para dizer, Théo."— disse, sem olhar para ele enquanto me afastava, sentindo um peso sair dos meus ombros.

As meninas me olharam com expressões mistas de surpresa e curiosidade, e eu simplesmente me afastava da cena. Eu sabia que não seria fácil me livrar da presença dele, mas, por agora, eu precisava deixar claro o que eu pensava.

Enquanto caminhava de volta para o meu lugar, com a mente ainda agitada, uma coisa estava clara: eu não estava mais disposta a ser enganada.

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