Quando Te Amei?

Quando Te Amei?

PRÓLOGO

O cheiro de cola quente ainda grudava nas minhas mãos. Passei o dia todo com a Bianca montando arranjos para a festa de sábado. Minhas costas doíam, e tudo o que eu queria era um banho demorado e silêncio por alguns minutos.

O céu do fim da tarde pintava a casa com tons alaranjados, e o vento trazia o som dos passarinhos voltando para seus ninhos. Minha caçula, Sol dormia no meu colo, com a boquinha entreaberta e os cílios longos descansando na pele rosada. Ela sempre parecia em paz… como se o mundo fosse seguro só porque eu estava por perto.

Ouvi o portão bater. Em seguida, o som apressado da mochila sendo jogada no chão e passos subindo as escadas.

"Lunna?" — chamei, mas ela não respondeu.

O quarto dela se fechou com um baque seco. Aquele tipo de silêncio que só uma adolescente magoada sabe fazer.

Suspirei e me levantei devagar com Sol ainda no colo. Antes que eu pudesse subir, Theodor apareceu na porta da cozinha, com a barba por fazer e o olhar cansado, mas doce.

"Deixa que eu pego a Sol. Vai falar com a nossa drama queen."— disse com um meio sorriso.

Assenti com um pequeno sorriso de volta e entreguei Sol nos braços dele. Ela nem se mexeu, tão tranquila que até doía de ver.

Subi as escadas devagar, sentindo o coração apertado. Bati na porta do quarto.

"Filha? Posso entrar?"

Mesmo com nenhuma resposta, resolvi abrir a porta e meu coração doeu ao ver ela com o rosto no travesseiro.

"Lunna… fala comigo, por favor."

"O Luan vai embora mãe ." — Lunna diz enquanto se sentava na cama .

Levanto os olhos para ela. Está com a expressão dura, mas seus olhos denunciam o que sente. Dói nela. Dói como só o primeiro amor sabe doer.

"Achei que... que o meu primeiro amor fosse pra sempre. Mas acho que o amor não é pra mim." — continua, depois de limpar uma lágrima solitária: "Eu... Eu só queria que tivesse sido como o seu e do papai. Leve. E terminado com um feliz para sempre, mas acabou antes de começar."

E foi então, ali parada, de pé diante da porta do quarto da minha filha, que eu me dei conta de como o tempo passava rápido. E de como, às vezes, o primeiro amor que parece leve… foi forjado na dor, na perda e na coragem de recomeçar.

"Lunna..." — chamo com carinho.

Eu me sento ao seu lado e ela recosta a cabeça no meu ombro. Respiro fundo. A história pulsa dentro de mim, esperando para ser contada.

"Você acha que o meu amor com o seu pai sempre foi fácil?" — perguntei em voz baixa, mais pra mim do que pra ela: "Nem de longe. Mas se você quiser… eu posso te contar como tudo começou."

Ela não responde com palavras, só fecha os olhos e assente devagar.

Então eu começo...

^^^Fevereiro de 2012^^^

Se alguém me dissesse que aquele dia mudaria tudo, eu teria colocado outro tênis. Um mais confortável. Um que não doesse tanto a cada passo no pátio lotado do Colégio Saint Claire.

"Isso aqui parece uma passarela e a gente tá desfilando pra morrer de vergonha." — Bianca resmungou ao meu lado, ajeitando os óculos no rosto: "Eles realmente têm um lugar só pros bolsistas pegarem uniforme? Me senti marcada como gado."

"Pelo menos você não foi empurrada pra ser líder de torcida." — falei, segurando a alça da mochila como se fosse um escudo.

Minha mãe tinha decidido por mim que eu estudaria aqui, mesmo eu não passando nas provas finais, ela deu um jeito de eu entrar em seu antigo colégio.

"Vai te fazer bem, Rosana. Socializar. Dançar. Se destacar. Você tem presença. Aproveita."

Tudo isso enquanto eu tentava só... respirar.

Bianca ganhou uma bolsa por ser uma das melhores alunas de sua antiga escola.

Eu vim porque minha mãe achava que aqui era onde filhas bem-educadas e promissoras deveriam estudar. E, aparentemente, também onde deveriam dançar com pompons e sorrisos coreografados.

Mas eu sabia que desde de pequena que esse sempre foi o sonho dela, que foi interrompido por mim, quando ela engravidou.

Então esse era o jeito de fazer ela se orgulhar de mim.

O som de rodinhas no concreto chamou minha atenção.

O pátio estava cheio, mas um grupo de garotas se agrupava num canto, perto da pista de skate improvisada ao lado da quadra. No centro, um garoto deslizava no skate, subia na mureta e girava no ar como se desafiasse a gravidade.

As meninas riam alto, algumas puxavam o cabelo pra frente, ajeitavam a roupa. Ele parecia não se importar. Ou talvez soubesse exatamente o efeito que causava.

"Quem é esse?" — perguntei, sem perceber que estava olhando tempo demais.

"Não sei. Mas parece saído de um comercial de perfume." — Bianca respondeu, irônica: "Aposto que tem o ego proporcional à habilidade de flertar."

Ele aterrissou com precisão e sorriu — um daqueles sorrisos que parecia fácil demais. O tipo que vem de alguém que já ouviu mais 'sim' do que 'não' na vida.

"Você acha que ele é também do primeiro ano?" — perguntei, ainda olhando.

"Espero que não. Porque se for, esse colégio acabou de subir perigosamente o nível de distrações para nós."

Dei um passo à frente, mas quase tropecei na beirada do tapete do pátio. Ótimo começo.

Do nada, o alto-falante do colégio chiou:

— Alunas interessadas em se inscrever para a equipe de líderes de torcida, dirijam-se à quadra após o intervalo. Treinamento obrigatório começa amanhã.

Olhei para Bianca.

Nós nos conhecemos á pouco tempo, na prova obrigatória para entrarmos no colégio. Mas desde o primeiro olhar sabia que seríamos amigas, e desde então ela tem sido meu suporte.

"Vem comigo?"

Ela ergueu uma sobrancelha.

"Claro, mas depois precisamos ir a biblioteca para pegar nosso livros."

Suspirei. Eu precisava dela para me encorajar.

E então eu fomos.

Eu ainda não sabia se gostava de dançar. Mas tinha um estranho pressentimento de que, de alguma forma, aquele lugar... ia mudar tudo.

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Comments

Gatita 😽

Gatita 😽

amei q irá ter a segunda parte 😻🙀

2025-05-10

0

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