BABY, EU ME ESCOLHO

O lugar era mais iluminado do que eu esperava. As luzes coloridas dançavam nas paredes como se o karaokê fosse uma boate disfarçada de diversão inocente. Minhas colegas riam alto, empolgadas com os microfones brilhantes e a lista de músicas antigas.

Eu devia estar empolgada também. Afinal, era minha primeira saída com o grupo das líderes. Mas assim que entrei e meus olhos varreram o salão, meu estômago afundou.

Não era só um rolê de meninas.

Havia garotos ali. Vários. Alguns do nosso colégio. E, no meio deles, como se fosse o centro da órbita, estava ele.

Théo.

Encostado na lateral do sofá, uma perna dobrada apoiando o corpo, ele ria de algo que uma das garotas disse. O cabelo loiro parecia mais claro sob as luzes, e os olhos castanhos, quase dourados, cintilavam com aquele brilho despreocupado. O sorriso solto, como sempre, trazia a maldita covinha que o fazia parecer fofo demais pra ser real. Fofo... até ele abrir a boca.

Porque Théo tinha esse jeito — como se a vida fosse uma grande brincadeira onde ele era sempre o vencedor.

"Olha quem também veio." — uma das líderes cochichou no meu ouvido, me cutucando com o cotovelo: "Aposto que ele vai olhar pra cá."

Tentei rir, mas minha atenção já estava grudada nele. E, como se tivesse sentido meu olhar, Théo levantou os olhos e me viu.

Por um segundo, ele só me olhou.

E então… sorriu.

Não um sorriso qualquer. Um daqueles sorrisos que bagunçam a cabeça de qualquer garota que esteja tentando manter a pose.

Foi aí que eu percebi: aquela noite ia ser mais longa do que eu imaginava.

Fiquei ali por alguns minutos, tentando me enturmar. Uma das meninas se sentou ao meu lado, puxando conversa sobre um dos garotos da sala, e outra falava animadamente sobre a última festa da escola. Mas parecia que ninguém ali queria, de fato, cantar. Todo mundo só queria paquerar, rir de piadas sem graça e disputar atenção.

Eu olhava pro palco vazio, onde ninguém se arriscava a subir, e sentia uma inquietação crescendo dentro de mim. Que tipo de karaokê era aquele onde ninguém cantava?

Soltei um suspiro, frustrada. Me levantei antes que minha coragem evaporasse, ignorei os olhares surpresos e fui até a tela para escolher a música. Meus dedos deslizaram rápidos pelas opções, até que encontrei. Aquela que sempre me fazia sorrir. Aquela que minha mãe chamava de 'fase de adolescente obcecada'.

 Mas que, pra mim, ainda batia no peito como um abraço.

'Baby', do Justin Bieber.

"Ela vai cantar?" — ouvi alguém cochichar atrás de mim.

"Sério isso?" — outro riu.

Ignorei.

Quando os primeiros acordes começaram a tocar, peguei o microfone com as mãos um pouco trêmulas… mas bastaram os primeiros versos pra que tudo se encaixasse. Como se eu estivesse cantando sozinha no meu quarto, com a escova de cabelo no lugar do microfone.

E foi aí que senti: eu estava viva.

Cantei com vontade, girando pelo palco improvisado, sorrindo como há dias não fazia. Se eles estavam ali pra flertar, ótimo. Eu estava ali pra ser eu mesma.

Quando terminei, o silêncio foi quebrado por alguns aplausos — tímidos, mas reais. E foi então que meus olhos se encontraram com os dele.

Théo.

Dessa vez, ele não sorriu debochado.

Ele me olhava diferente.

Como se, por um instante, eu não fosse só a garota nova tentando se encaixar.

Eu era a garota que teve coragem de ser quem era.

Depois que desci do palco, algo mudou no ar. Era como se alguém tivesse finalmente apertado o botão de 'ligar' na festa. De repente, todos queriam cantar. Um grupo correu pra fila da máquina, escolhendo músicas animadas dos anos 2000, enquanto outros começaram a dançar ao redor do pequeno palco improvisado. Até as meninas que antes só cochichavam passaram a rir alto e brincar com os microfones.

Sentei numa mesa no canto, com um hot dog na mão e o coração ainda acelerado. Talvez não tivesse sido uma performance perfeita, mas tinha sido libertadora. Pela primeira vez desde que entrei no colégio, senti que podia... simplesmente existir.

Levei o lanche à boca, distraída, quando uma voz soou atrás de mim:

"Nada mal, Bieber girl."

O susto foi tanto que engasguei no primeiro pedaço de pão. Comecei a tossir desajeitada, os olhos lacrimejando enquanto tentava recuperar o ar. Théo apareceu do meu lado num segundo, rindo, mas com uma expressão de leve preocupação.

"Ei! Calma, respira. Quer água?"

Fiz que sim, ainda tossindo, enquanto ele me estendia uma garrafinha. Tomei um gole e respirei fundo, piscando algumas vezes até a garganta parar de arder.

"Você tem o dom de aparecer nas horas mais ridículas da minha vida." — falei com a voz rouca, mas um sorriso sem graça nos lábios.

Ele riu de verdade, jogando o cabelo loiro pro lado.

"É um talento. Mas valeu o show. Você surpreendeu."

"Você também surpreende."— retruquei: "Achei que só se interessava por skate e garotas ao seu redor em modo fã."

Ele ergueu uma sobrancelha, fingindo indignação.

"Ouch. Isso foi direto."

"Só uma observação." — dei de ombros, mordendo de novo o hot dog com mais cuidado desta vez.

Ele olhou pra mim com um sorriso solto, a covinha aparecendo do lado esquerdo. E, mesmo com a pose de quem acha que a vida é uma grande brincadeira… tinha algo nos olhos castanhos dele — meio dourados sob a luz do karaokê — que me deixava curiosa.

E, pela primeira vez, percebi que talvez... ele não fosse só mais um garoto bonito com um skate e um séquito de admiradoras.

"Você vai ficar até o final?" — ele perguntou, inclinando-se para perto de mim.

Eu dei uma olhada ao redor. A festa estava ficando agitada, e as meninas continuavam se jogando na pista de dança, mas eu já tinha me cansado. O lugar estava começando a perder a graça. Quase todo mundo parecia estar ali só para paquerar, e a energia divertida que tinha me animado no início já estava se dissipando.

"Talvez, mas não sei... A minha diversão já deu o que tinha que dar."— dei de ombros, tentando parecer indiferente: "Mas, quem sabe, se você me acompanhar até em casa, eu fico mais um tempo por aqui."

Ele pareceu gostar da ideia e sorriu.

"Claro, posso te acompanhar. Eu também estou começando a ficar entediado aqui."

Concordei, mas não fiquei ali por muito tempo e voltei para as minhas amigas.

Mais tarde comecei a andar pela festa, mexendo no celular, esperando que ele chegasse até mim logo para irmos embora. A cada minuto que passava, minha ansiedade aumentava. Eu nem percebia o quanto tinha começado a esperar por aquele momento até que, quando olhei de novo para o centro da festa, meus olhos encontraram algo que me fez parar.

Lá estava ele, com a mesma postura descontraída, mas dessa vez envolvido com outra garota. Ele estava beijando-a com uma naturalidade assustadora, como se nada tivesse acontecido entre nós, como se aquele papo sobre me acompanhar para casa fosse apenas mais uma conversa qualquer.

A raiva que tomou conta de mim foi instantânea e forte. Meu estômago embrulhou. Fiquei ali, parada, observando-os enquanto a sensação de desprezo se instalava. Ele era exatamente o tipo de garoto que eu mais odiava.

Os meninos como ele, que se divertem jogando com os sentimentos dos outros, que não têm a mínima consideração pelo que alguém possa estar sentindo. Como pude ser tão idiota a ponto de achar que ele era diferente?

Me virei, sem olhar mais uma vez para ele, e fui em direção à saída. Quando passei pela porta, não me importei com mais nada. Não queria mais saber das desculpas dele, não queria mais me iludir com suas palavras vazias.

Jamais vou dar bola mais uma vez para os papos furados desse tipo de garoto, - pensei, enquanto a raiva me consumia por dentro.

Eu não sabia se ele sequer havia me visto sair, e sinceramente, naquele momento, isso não importava. Eu tinha aprendido algo valioso naquela noite: nunca mais deixaria alguém me fazer de idiota.

E, mais importante ainda, eu não precisava de um garoto como ele na minha vida.

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Comments

Jeizy

Jeizy

poxa 😕 theodor sempre dando mancada

2025-05-09

1

Gatita 😽

Gatita 😽

nem me fala /Doge/

2025-05-10

0

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