Inglês, Improvisos e um Certo Olhar

Ada olhou pro céu nublado com a mesma energia de quem encara um boletim com cinco vermelhos.
ada
ada
— Nada como um clima deprimente pra combinar com meu humor de faxina — disse, puxando a mochila com uma força desnecessária.
Assim que entrou no colégio, foi recebida pela visão reconfortante: Juju e Lia discutindo sobre qual cor de caneta traz mais inteligência.
juju
juju
— É a azul! Tem estudo! — Juju insistia.
lia
lia
— Estudo de quem? Da BIC? — Lia rebateu, de braços cruzados.
ada
ada
— Eu só quero sobreviver até o intervalo — Ada se meteu, jogando o corpo sobre a carteira.
lia
lia
— E depois da aula? — perguntou Lia. — Faxina again?
ada
ada
— É. E dessa vez vou tentar não tropeçar no balde. De novo.
O professor de inglês entrou. A turma murmurou em uníssono aquela prece não verbal: "por favor, não tenha preparado nada difícil hoje."
professor
professor
— Bom dia, turma. Hoje vamos treinar conversação — disse ele, com um sorrisinho cruel. — Então, me respondam: como vocês se apresentam em inglês?
Silêncio.
Ada cochichou:
ada
ada
— I am sad
Lia mordeu o lábio pra não rir.
professor
professor
— Repeat after me — disse o professor. — “Good morning, my name is…”
Juju levantou a mão teatralmente e disse:
juju
juju
— “Good mornin’, "Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup d’État in Brazil”
A turma caiu na gargalhada. O professor bufou.
professor
professor
— Muito engraçado. Agora com seriedade…
Lia levantou e falou com voz aguda:
lia
lia
— "Off the King the power demanded the bastard, the king the ferry goes ma'am"
Ada se jogou na carteira, chorando de rir. O professor riu de canto.
professor
professor
— Vocês vão rir muito agora, mas na prova, quero ver…
A aula seguiu com erros, sotaques inventados e vergonha alheia coletiva. Mas foi leve. Foi divertido. Do jeito que Ada gostava das coisas. Depois das aulas, ela passou na diretoria, pegou o balde e o pano como de costume e foi até a sala silenciosa.
Theo já estava lá. Dessa vez, não com uma pilha de pastas ou fones nos ouvidos. Estava sentado na janela, olhando pra fora. Calmamente.
ada
ada
— Você chegou cedo — Ada comentou, tentando soar casual.
Theo
Theo
— Eu gosto do silêncio aqui. É… tranquilo.
Ela assentiu. Começou a varrer o chão, fingindo que não estava consciente da presença dele. Mas sentia. Como se cada passo que dava estivesse dentro de um campo magnético. Depois de um tempo, Theo se levantou e foi até o canto da sala.
Theo
Theo
— Deixa que eu seguro o balde — disse, do nada.
Ela parou, surpresa.
ada
ada
— Vai me ajudar?
Theo
Theo
— Só estou segurando o balde — disse ele, sem olhar pra ela, mas com um leve sorrisinho no canto da boca.
ada
ada
— Uau. Solidariedade de um metro quadrado.
Eles ficaram ali, em silêncio. Ele segurando o balde, ela limpando devagar, o som da água pingando no chão recém-passado. Até que, do nada, Theo disse:
Theo
Theo
— Você não é o que eu pensei que fosse.
Ada ergueu os olhos, encarando ele. A frase ficou no ar como uma bolha prestes a estourar.
ada
ada
— E o que você pensou?
Theo
Theo
— Que você era só… barulho.
Ela sorriu, sem graça.
ada
ada
— ok?
Ele olhou pra ela. Sem pressa. Com um olhar firme e sincero.
Theo
Theo
— Que o silêncio também combina com você.
Ada ficou sem palavras por dois segundos inteiros — o que, para ela, era um recorde mundial.
ada
ada
— isso foi um elogio?
Theo
Theo
— Talvez.
A campainha final tocou como uma libertação celestial. Ada saiu da sala com o cabelo preso torto, mochila num ombro só, e o coração ainda tropeçando na lembrança do "Talvez" que Theo tinha dito. Ela estava prestes a sair pela porta da escola quando ouviu alguém chamar:
???
???
— Ei, Ada!
Ela virou e viu Anthony encostado na grade, com uma barra de cereal na mão e expressão despreocupada como sempre. O sol da tarde batia de lado, dourando seus cabelos bagunçados. Uma cena digna de dorama.
ada
ada
— Nossa, você existe fora da sala? — Ada falou, rindo.
Anthony
Anthony
— Às vezes me aventuro no mundo real — respondeu ele, dando uma mordida exagerada no cereal. — Vai pra casa?
ada
ada
— Vou. Mas antes preciso lutar contra a vontade de me jogar na lixeira da escola. Faxina cansa o espírito.
Anthony acompanhou o passo dela enquanto atravessavam o portão.
Anthony
Anthony
— Você que causou o boato do Theo ser casado com um colega?
Ada travou.
ada
ada
— Causou é uma palavra forte. Eu diria que... fui uma engrenagem inocente na máquina do mal-entendido.
Ele riu, com aquele jeito despreocupado que fazia parecer que nada no mundo era realmente um problema.
Anthony
Anthony
— Sabe que depois disso eu prestei mais atenção em você?
Ela virou o rosto, desconfiada.
ada
ada
— Espera… isso foi um elogio ou uma ameaça?
Anthony
Anthony
— Um elogio. Mas se você quiser considerar uma ameaça pra ficar interessante, tudo bem.
ada
ada
— Deus me livre e me guarde — respondeu ela, mas não conseguiu esconder o sorriso.
Andaram por algumas quadras em silêncio confortável, até passarem em frente a uma barraquinha de tacos.
Anthony
Anthony
— Já comeu daqui? — perguntou ele, parando.
ada
ada
— Sim, uma vez. Tive uma experiência mística e intestinal.
Anthony fez um gesto dramático, como quem aceita um desafio.
Anthony
Anthony
— Então é aqui mesmo que vamos parar.
ada
ada
— Agradeço pela tentativa de me matar com carboidratos, mas tenho uma família que me ama.
Ele riu e comprou dois tacos mesmo assim, entregando um pra ela.
Anthony
Anthony
— Considera um presente de consolação por ter limpado a sala. E por ser “barulho” — disse, com um sorrisinho maroto.
Ada arqueou uma sobrancelha, surpresa.
ada
ada
— Você ouviu isso?
Anthony
Anthony
— Ouvi tudo. Eu finjo que durmo durante as aulas, mas sou um ótimo espião.
Sentaram no meio-fio, com os pés balançando e os tacos quase desmoronando nas mãos.
ada
ada
— Isso é bem mais gostoso do que faxinar — ela comentou, com a boca cheia.
Anthony
Anthony
— E você é mais engraçada do que eu pensava.
Ela sorriu. Um daqueles sorrisos involuntários que escapam sem permissão. Por alguns minutos, o mundo pareceu desacelerar. O barulho dos carros, o vento leve, o gosto picante do taco. Nada demais. Mas tudo… no lugar certo.
O quarto da Ada era um caos organizado. Ou um campo de guerra com luzes de LED, dependendo do ponto de vista. Ela estava jogada na cama, o celular apoiado no peito, enquanto o ventilador de teto fazia um toc-toc-toc insistente. Vestia um pijama de coelhinhos e uma meia rasgada que se recusava a ser jogada fora por "motivos emocionais".
ada
ada
— O que foi isso hoje? — sussurrou pra si mesma, encarando o teto.
De um lado, Theo com sua fala calma, o olhar sério e aquele “você não é só barulho” que ainda ecoava no fundo da mente. Do outro, Anthony rindo fácil, comprando taco pra ela, e dizendo que a achava mais engraçada do que pensava.
ada
ada
— Não estou vivendo um triângulo amoroso… estou no meio de um triângulo de confusão emocional — murmurou, colocando o travesseiro na cara.
O celular vibrou. Era a Juju.
juju
juju
Juju: “Tá viva depois da faxina ou foi confundida com uma mendiga?”
ada
ada
Ada: “qual é a pira por mendigos.”
lia
lia
Lia: “eles são chutáveis, é brincadeira.”
Ada soltou uma risada abafada.
ada
ada
— Minhas meninas…
Ela continuou deitada, lembrando dos detalhes pequenos. O jeito que Theo a olhou. O jeito que Anthony sorriu. O silêncio entre eles. O riso fácil. Tudo estava quieto, mas a mente dela era um karaokê de pensamentos fora do tom. Levou uma mão ao coração, dramaticamente.
ada
ada
— Deus… tô ferrada, né?
O ventilador continuava seu toc-toc-toc. Ela fechou os olhos. Um meio sorriso nos lábios. Um quentinho no peito.
ada
ada
— talvez está ferrada…é bom.
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Không quan tâm🧚‍

Không quan tâm🧚‍

Mal posso esperar pelo próximo capítulo, é uma tortura!

2025-05-10

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