Encontro com o desastre

O ônibus estava lotado e, como sempre, Ada estava em pé, equilibrando a mochila com uma mão e a dignidade com a outra. "Eu só quis fazer um comentário engraçado", ela pensou. "Agora tô pagando meus pecados limpando a sala dos professores e sendo olhada como se fosse uma peste ambulante." Chegando em casa, jogou o tênis num canto, entrou no banho e ficou lá, olhando pro nada com a água caindo no rosto como em cena de novela. "É como dizem... quem casou, casou... burra", ela resmungou. Saiu enrolada na toalha, deitou na cama e desbloqueou o celular.
Grupo: cabaré 67
ada
ada
Ada: Acabou. Virei a maria da penha das Empreguetes.
lia
lia
Lia: Oi? Já?
juju
juju
Juju: Não acredito que a diretora te botou pra limpar sala por causa de uma fofoca.
ada
ada
Ada: Uma fofoca que envolveu um PRIMO, Juju. Ele queria me matar com os olhos hoje.
lia
lia
Lia: Mas e aí? Ele ainda é bonito bravo?
ada
ada
Ada: Infelizmente... talvez até mais.
juju
juju
Juju: Isso é doença, Ada.
lia
lia
Lia:Isso é romance.
ada
ada
Ada: Isso é o início da minha ruína emocional.
As três mandaram áudios rindo, e Ada, mesmo exausta, sorriu pela primeira vez no dia. Deitou de lado, abraçando o travesseiro. A cabeça ainda doía um pouco. Não do castigo. Do olhar que Theo lançou antes de se sentar. Frio. Irritado. Mas... não exatamente indiferente.
ada
ada
Ela suspirou. "Se isso é o começo, o fim vai me destruir."
E com o coração um pouquinho mais leve e a vergonha ainda colada na alma, ela adormeceu.
No outro dia
Ada caminhava até a escola com a mesma energia de uma idosa... e a vontade de viver. A mochila pesava nas costas, mas não tanto quanto o peso da vergonha de ter espalhado sem querer que Theo era comprometido com outro garoto.
ada
ada
Ela suspirou alto ao subir os degraus da escola. primeiro dia limpando a maldita sala da diretora... meu destino é virar zeladora mesmo.
Ao entrar na sala, encontrou Lia tentando fazer um penteado impossível com dois lápis e um prendedor de papel, e Juju tentando equilibrar um pacote de biscoito na cabeça.
juju
juju
Aee, chegou a Maria da penha da escola! disse Juju, sem nem olhar, como se já tivesse ensaiado a frase.
lia
lia
Já tá com cheiro de produto de limpeza ou ainda é só desespero mesmo? Lia, soltando o penteado maluco. completou
Ada jogou a mochila com força na cadeira e se jogou por cima da mesa.
ada
ada
Gente, juro... se hoje aquela sala tiver uma zona, eu deixo ele fazer a ronda e vou embora. Não aguento mais.
lia
lia
Você ainda nem fez a faxina! Lia começou a rir.
a conversa estava tão alta que até o professor da sala ao lado deu um pigarro.
ada
ada
Vocês não prestam! Mas obrigada... agora eu vou encarar o esfregão com menos vontade de chorar.
lia
lia
Vai com fé, amiga! E cuidado com a vassoura... dizem que ela tem ciúmes quando a gente olha pro rodo disse Lia, séria como se fosse uma superstição real.
Ada saiu da sala rindo sozinha, já com mais ânimo pra encarar mais um dia de castigo... e quem sabe, mais um olhar atravessado de Theo.
Ada entrou na sala dos professores com o uniforme um pouco torto e um coque desajeitado no topo da cabeça. Carregava um balde, uma vassoura e a vergonha do mundo. Theo já estava lá.
Sentado na mesa do canto, com os braços cruzados e o olhar enterrado no celular. Nem se deu ao trabalho de levantar a cabeça.
ada
ada
"Bom dia pra você também, raio de sol", Ada murmurou, pegando o espanador.
Nenhuma resposta. Ela começou limpando a mesa da coordenadora, tentando não derrubar nada. Claro que derrubou. Uma caneta rolou e caiu perto do pé de Theo. Ele olhou pra caneta, depois pra ela. Não se mexeu.
Ada engatinhou até a caneta, pegou com dignidade zero e voltou ao trabalho.
ada
ada
"Você vai ficar aí só olhando mesmo?", ela arriscou.
Theo
Theo
"Sim."
ada
ada
"Você sabia que observar alguém em silêncio é crime?"
Theo
Theo
Theo levantou os olhos, entediado. "Você devia ficar quieta. Vai fazer essa semana passar mais rápido."
Ada bufou, mas ficou quieta. Por cinco segundos.
ada
ada
"Você sempre foi assim? Ou é só comigo?"
Theo
Theo
"É só com você."
ada
ada
"O que me faz especial, hein?"
Theo
Theo
Theo olhou pra ela por um momento longo. "Você inventou que eu era gay pra escola inteira."
ada
ada
"Foi um mal-entendido! A culpa foi do toque de rosto! Isso confunde qualquer pessoa emocionada!"
Ele voltou a encarar o celular.
Ada varreu com mais força, resmungando sozinha. A sala ficou cheia de sons: da vassoura, do balde, do silêncio que pesava entre os dois.
Quarenta minutos depois, ela terminou. Suando, descabelada, com uma marquinha de poeira na bochecha.
ada
ada
"Pronto", disse, limpando as mãos na calça."primeiro dia de glória."
Theo se levantou e foi até a porta. Abriu.
ada
ada
"Obrigada, porteiro do meu cativeiro", ela ironizou, passando por ele.
Nada. Nenhuma reação. Só o mesmo olhar indiferente. Mas quando ela já estava no corredor, ouviu a voz dele baixa, quase imperceptível.
Theo
Theo
"Você esqueceu o espanador."
Ela voltou correndo, pegou o espanador com um sorriso meio culpado.
ada
ada
"Obrigada", disse. "Viu? Sabia que você não era tão insensível assim."
Theo não respondeu. Mas... pela primeira vez, não pareceu com raiva.
Depois do castigo com Theo, Ada voltou para a sala bufando e suando, parecendo uma mistura de empregada doméstica e guerreira asteca. A sala estava meio vazia aula vaga. Ela entrou distraída, limpando a poeira do rosto com a manga do uniforme, até que ouviu uma voz vinda do fundo:
Anthony
Anthony
"Você brigou com um mendigo ou foi atropelada por um caminhão de lixo ?"
Ada congelou. Virou lentamente e viu Anthony, encostado na carteira, braços cruzados, aquele olhar que parecia sempre analisar tudo e todos com tédio e julgamento.
Era a primeira vez que ele falava com ela. E claro, foi pra insultar sua dignidade.
ada
ada
"Na verdade", Ada respondeu, sem perder o tom, "eu estava limpando a sala dos professores com a vassoura da vergonha. Missão que fui obrigada a aceitar depois de, talvez, espalhar uma fofoca... sem querer."
Anthony
Anthony
Anthony arqueou uma sobrancelha. "A fofoca do Theo?"
ada
ada
Ela arregalou os olhos. "VOCÊ TAMBÉM JÁ SABE?"
Anthony
Anthony
"Todo mundo sabe. Parabéns, virou o assunto top um na escola. Tem até vídeos da história rolando nos stories."
ada
ada
Ada enterrou o rosto nas mãos. "Eu sou a praga da minha própria existência."
Anthony não riu. Mas o canto da boca tremeu. Quase.
Anthony
Anthony
"Você é... interessante."
ada
ada
Ela levantou a cabeça. "Isso é tipo chamar alguém de 'gente boa' quando você esqueceu o nome dela?"
Anthony
Anthony
"Não. 'Gente boa' é neutro. 'Interessante' é confuso."
ada
ada
Ela estreitou os olhos. "Você é confuso."
Anthony
Anthony
"Você é barulhenta."
ada
ada
"Você é metido."
Anthony
Anthony
"Você é dramática."
ada
ada
Ela apontou o dedo. "E você parece aqueles meninos do Discord que fica digitando no computador que odeia o mundo."
Anthony
Anthony
Anthony deu um leve sorriso, um desses quase invisíveis. "Talvez eu só odeie gente que fala demais."
ada
ada
"isso foi uma indireta por acaso", ela disse com um sorriso vitorioso. "então já pode começar a me odiar."
Ele encarou ela por uns segundos. E pela primeira vez, pareceu realmente curioso.
Anthony
Anthony
"A gente vai se dar muito mal."
ada
ada
"Espero que sim", Ada respondeu.
O sinal tocou.
Ela passou por ele com um leve empurrão no ombro, e pela primeira vez... sentiu que tinha encontrado alguém que sabia jogar o mesmo jogo que ela.
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Comments

elayn owo

elayn owo

Obrigada autora por me transportar para esse mundo fantástico!

2025-05-07

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