Os corredores da emergência pareciam ter um ritmo próprio. Pulsavam. Respiravam. Às vezes, gritavam.
Eu estava ali, com o jaleco ainda engomado, os olhos atentos e o estômago vazio. Era minha primeira noite no plantão e tudo em mim queria dar certo. Mostrar que merecia estar ali. Mostrar que a dor que me trouxe até esse lugar não foi em vão.
— Dra. Dias — chamou uma enfermeira apressada —, temos um caso chegando. Trauma por acidente automobilístico. Homem, 30 anos. Condição instável.
Meu coração disparou. Era cedo demais para um teste assim.
Corri até a sala de trauma. O som das máquinas preenchia o ar antes mesmo do paciente entrar. Era como se o hospital sussurrasse para mim: Você vai aguentar?
E aguentei.
Por instinto. Por treinamento. Por sobrevivência.
— Pressão caindo. Saturação baixa. Fratura exposta. — disse um dos residentes.
Minha voz saiu antes de eu perceber que era minha.
— Comecem a administração de fluidos. Preciso de acesso central. E tragam sangue O negativo, agora.
A equipe me seguiu. Com certa desconfiança no início. Depois, com precisão.
O paciente entrou em cirurgia em menos de quinze minutos. Estável. Por enquanto.
Quando saí da sala, minha testa estava suada, meu peito apertado. Me encostei na parede fria e fechei os olhos.
— Impressionante — disse uma voz às minhas costas.
Não precisei abrir os olhos para saber quem era. A gravidade daquela voz já era algo que meu corpo começava a reconhecer.
Guilherme.
— Costuma fazer ronda pela madrugada ou está me espionando?
Ele riu, baixo. Quase sem som.
— CEO não dorme quando há vidas em risco. Nem quando há talentos sendo testados.
Abri os olhos. Encarei-o. Ele estava com as mangas dobradas, as mãos nos bolsos. Aquele olhar que me despia sem encostar.
— Foi sorte — murmurei.
— Sorte é quando a oportunidade encontra a preparação. E você, doutora, está mais preparada do que aparenta.
O elogio me desconcertou. Não porque eu não o esperasse — mas porque ele parecia vir de um lugar onde raramente alguém me enxergava com verdade.
— Por que está sempre me observando, senhor Montenegro?
Ele se aproximou devagar, mantendo o tom baixo, íntimo.
— Porque reconheço pessoas que carregam dores parecidas com as minhas.
Não havia flerte ali. Havia verdade. Crua. Desnuda.
E isso era muito mais perigoso.
Ele me deixou ali, com o coração batendo alto e o mundo mais silencioso do que nunca.
Naquela noite, aprendi duas coisas: que o hospital era uma selva... e que Guilherme Montenegro era o predador que todos evitavam, mas que eu, por algum motivo, não conseguia parar de encarar.
Em toda a minha vida nunca tinha ouvido ou visto alguém fazer tal coisa, geralmente eles sempre estão em casa descansando e não fazendo vigília em um hospital, talvez seja coisa da minha cabeça não posso esquecer que estou em um país totalmente diferente do meu apesar de não conhecer muito coisa Aqui e bem diferente.
Tenho que focar no meu trabalho não posso me dar o luxo de pensar no que não é do meu interesse.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 111
Comments