O som suave da chuva batendo na janela foi a primeira coisa que Isabela notou ao acordar naquela manhã. Era uma terça-feira fria, e o calor aconchegante da cama de Henrique, ao lado dela, fazia com que fosse difícil sair debaixo das cobertas. Ela sentia o corpo cansado, ainda recuperando-se dos dias difíceis que vivera, mas o espírito parecia mais leve agora, em meio à proteção e carinho que ele lhe oferecia.
Henrique havia sido um apoio constante, e, de alguma forma, ela sentia que sua vida estava aos poucos tomando forma novamente. Ainda estava assustada, o medo de estar vulnerável, mas ele tinha sido paciente, respeitando seus tempos e suas necessidades. Isso a confortava.
Enquanto ele ainda dormia, Isabela se levantou silenciosamente e foi até o banheiro. Olhou-se no espelho, mas não conseguiu mais ver a mulher quebrada de antes. As marcas de seu passado ainda estavam visíveis, mas elas não eram mais o centro de sua vida. Ela havia começado um processo de cura, e um dos primeiros passos para isso seria a terapia.
Naquela manhã, Isabela se preparou para sua segunda sessão. Não sabia o que esperava, mas sentia que precisava muito daquelas conversas, de olhar para dentro de si mesma e entender tudo o que havia passado. Ao chegar na clínica, ela foi recebida por uma terapeuta calmante e acolhedora, a Dra. Beatriz. Como antes, a sala estava decorada de maneira simples, com móveis de madeira escura e plantas, mas o ambiente parecia convidativo, como um refúgio.
"Como você está se sentindo hoje, Isabela?" a Dra. Beatriz perguntou com uma voz suave.
Isabela respirou fundo, sentando-se na cadeira confortável, tentando organizar seus pensamentos. "Eu... estou tentando me reconstruir", ela começou, com um leve tremor na voz. "A cada dia parece um passo, mas, ao mesmo tempo, a sensação de estar sendo carregada por tudo o que aconteceu ainda está muito forte."
A terapeuta assentiu, encorajando-a a continuar.
"Tenho medo de que eu nunca vá ser capaz de ser a pessoa que eu era antes. Eu me perdi um pouco, e agora estou tentando entender como me reencontrar. Às vezes, sinto que não sei nem por onde começar."
Dra. Beatriz sorriu de forma gentil. "Este é um bom começo, Isabela. O simples fato de você estar aqui, buscando ajuda e reconhecendo o que precisa ser curado, já é um grande passo."
Isabela passou a maior parte da sessão falando sobre os últimos meses, sobre os abusos e sobre a confusão emocional que sentia. Também falou sobre o apoio de Henrique, sobre como ele tinha sido fundamental para sua recuperação e como ela se sentia confortável ao seu lado. A conversa terminou com a recomendação de continuar com o processo terapêutico e de começar a escrever como forma de autoterapia. Um livro, talvez.
"Escrever sempre foi uma maneira de você se expressar, Isabela. Quem sabe isso ajude você a entender mais sobre o que está sentindo", sugeriu Dra. Beatriz.
Saindo do consultório, Isabela sentiu-se estranhamente mais leve. A escrita parecia ser uma válvula de escape válida. Por que não tentar? Quem sabe não poderia escrever sobre sua própria jornada, sobre tudo o que ela estava vivendo, transformando a dor em palavras.
Quando chegou em casa, ela se sentou na mesa de trabalho e, com a tela do computador aberta diante de si, começou a escrever. As palavras saíam de forma fluída, quase como se ela estivesse deixando tudo o que estava dentro dela se derramar para fora.
O dia passou rápido, mas ao final da tarde, ela se sentia mais em paz, mais centrada. Como se, de alguma forma, tivesse dado um pequeno passo para recuperar o controle sobre sua vida.
Mais tarde, quando Henrique voltou do trabalho, encontrou Isabela na sala, com os olhos cansados, mas uma leve expressão de realização. Ele a olhou por um momento, como se tivesse notado algo novo nela, uma mudança. Uma mudança positiva.
"Como foi o seu dia?" ele perguntou, com uma suavidade que sempre a tocava.
"Foi bom. Eu comecei a escrever. A terapeuta sugeriu, e... parecia certo. Eu acho que posso transformar isso em algo... maior." Ela sorriu timidamente, com os olhos brilhando de uma esperança que ela não sentia há muito tempo.
Henrique a observou por um momento, admirando sua coragem. "Estou muito orgulhoso de você, Isabela. Você está se fortalecendo a cada dia."
Naquela noite, depois do jantar, Henrique fez algo que Isabela não esperava. Ele se ofereceu para acompanhá-la enquanto ela procurava emprego. Ele sabia o quanto ela estava hesitante, ainda receosa de se expor ao mundo lá fora, mas ele queria que ela soubesse que não precisava passar por isso sozinha.
"Eu vou te ajudar com isso. Quero que você saiba que, se precisar de mim, estarei ao seu lado, sempre."
Isabela olhou para ele, sentindo um calor que não estava ligado à proximidade física, mas à confiança que eles estavam construindo. "Eu não sei o que seria de mim sem você, Henrique."
Na manhã seguinte, eles foram a algumas entrevistas e olharam algumas opções de emprego. Embora Isabela estivesse insegura no início, a presença dele ao seu lado, firme e apoiadora, fez com que ela se sentisse mais confiante. A sensação de poder começar a nova fase de sua vida, mais independente e com um futuro mais claro à frente, começou a tomar forma.
Naquela tarde, enquanto ela ainda refletia sobre as entrevistas, o telefone dela tocou. Era Larissa, sua melhor amiga, com quem ela havia se afastado por tanto tempo, por causa do controle do ex-namorado.
"Isabela, onde você está? Eu preciso te ver. Eu sinto muito. Eu deveria ter estado ao seu lado, e agora entendo o quanto te deixei sozinha." A voz de Larissa estava trêmula, cheia de arrependimento.
Isabela sentiu um nó na garganta, mas ao mesmo tempo, sentiu uma onda de alívio. Ela sabia que a amiga estava se desculpando de coração, mas mais do que isso, queria restabelecer essa amizade, recuperar a confiança.
"Eu sei que você fez o que podia, Larissa. Eu só... precisei de tempo para entender tudo. Mas sim, quero te ver. Vamos conversar."
Elas marcaram um encontro para a noite, e, enquanto isso, Isabela sentiu uma sensação de reconciliação. Não apenas com Larissa, mas consigo mesma. Ela estava aos poucos voltando a ser quem era, ou talvez, se reinventando para ser ainda mais forte.
O dia estava terminando, mas ela sentia que o amanhã traria mais passos para sua recuperação, mais avanços, mais vitórias pessoais. Era um longo caminho pela frente, mas ela não estava mais sozinha. Henrique estava ali, e agora, Larissa também estava voltando. Juntas, ela sabia que poderia reconstruir sua vida, com a força que sempre teve, mas agora com o apoio daqueles que verdadeiramente a amavam.
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Atualizado até capítulo 35
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