Capítulo 5

Um mês.

Trinta dias.

Setecentas e vinte horas.

E ela ainda estava nos meus pensamentos — como uma cicatriz que nunca fechava, como uma música que insistia em tocar mesmo quando tudo estava em silêncio.

Eu não liguei. Nem mandei mensagem.

Não porque não quis. Mas porque alguma parte de mim sabia que se me aproximasse dela… não haveria mais volta. E eu já carregava estragos demais.

Mas naquela noite, algo me empurrou até o bar. O mesmo. As mesmas luzes decadentes. O mesmo cheiro de álcool e perfumes doce.

E ela estava lá. Como se me esperasse. Sentada no balcão com um vestido preto curto demais para a inocência e justo demais para o acaso.

Ana.

O nome queimou minha língua antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa.

Ela virou o rosto devagar quando me viu, como quem já sabia que eu viria. E sorriu com os olhos.

— Isaac. — disse como se estivesse dizendo “finalmente”.

Me aproximei, lento, cuidadoso — como um predador faminto, mas ciente de que aquela presa podia devorar.

— Você voltou. — ela disse, cruzando as pernas com provocação.

— Talvez. Ou talvez eu nunca tenha saído daqui.

— Um mês é tempo demais pra desaparecer sem dar sinal. — ela bebeu um gole do copo de vidro, os lábios vermelhos deixando a marca no cristal. — Eu esperei uma mensagem. Uma ligação. Até pensei que tinha inventado você.

— Eu não sou fácil de esquecer.

— Nem de perdoar. — ela sorriu, mas havia algo ácido naquela curvatura.

— Está sozinha?

— Agora não mais.

O silêncio entre nós ferveu por alguns segundos.

Ela se levantou, pegou a bolsa com um movimento calculado e disse:

— Vem comigo. Meu apartamento é aqui perto. Quero te mostrar umas… coisas.

Talvez fosse loucura.

Mas eu já era louco antes mesmo de nascer. E ela sabia disso.

---

O apartamento dela ficava no terceiro andar de um prédio antigo, de arquitetura europeia. As paredes tinham molduras, as janelas eram grandes, e o cheiro era de lavanda com vinho.

Ela abriu a porta como se me abrisse a alma. E me puxou pra dentro.

Sem tempo. Sem pretexto.

O beijo veio rápido. Cru. Úmido. Com gosto de raiva, saudade e desejo mal resolvido.

Minhas mãos voaram para os quadris dela, puxando-a contra mim com força. A respiração dela era um suspiro no meu pescoço.

— Você me deixou esperando — ela murmurou entre beijos.

— Você gostou.

Ela mordeu meu lábio inferior. Doeu. E me deixou mais vivo do que eu queria admitir.

— Quero saber quem é você de verdade, Isaac. — ela disse, com os olhos acesos.

— Você não está pronta pra isso.

— Tenta.

O jogo estava perigoso.

E a Geis queimava de novo na minha nuca.

Como se a presença dela mexesse com os fios do destino. Como se aquela noite fosse mais do que uma transa inconsequente. Como se ela fosse o eco de algo muito maior.

Mas antes que eu pudesse responder, um calafrio percorreu minha espinha.

Alguém estava observando.

Pulei da cama com os sentidos em alerta.

Abri a cortina. Nada. Mas o ar tinha mudado.

Algo estava se aproximando.

Ou melhor… alguém.

---

Na floresta ao norte da cidade, três homens de preto ajoelhavam-se diante de um altar improvisado, feito de pedra e velas azuis.

— O sangue está se movendo. — disse um deles, com a voz áspera.

— A marca arde. — murmurou o outro, tocando o símbolo da Ordem de Lys preso ao peito.

— O filho da escuridão despertou. Está perto de encontrar a Guardiã. Precisamos interceptá-los antes que a Geis se complete.

— E se já estiver completa?

— Não está, ele, ainda não a encontrou.

O fogo das velas explodiu em chamas negras.

E os olhos do líder da Ordem brilharam vermelho.

---

De volta ao apartamento, eu estava de pé na janela, me virei e vi Ana tirando o vestido como quem tira a pele. Lenta. Hipnotizante. E tão errada quanto viciante.

Mas antes que eu pudesse tocá-la novamente, sussurrei:

— Quem é você, Ana?

Ela parou, com a respiração presa.

— Eu poderia te perguntar o mesmo.

A tensão voltou.

Densa.

Quente.

Ela se aproximou, roçando os dedos pela minha nuca. A Geis reagiu como se soubesse que algo estava errado.

— Esse símbolo… é uma tatuagem? — ela perguntou, tocando a borboleta marcada em mim.

— Não. É uma maldição.

Ela sorriu. Mas não era um sorriso comum.

Era o sorriso de alguém que esconde segredos.

— Talvez… eu goste de maldições.

Ela me beijou de novo.

E tudo desapareceu.

Por agora.

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Rosaria TagoYokota

Rosaria TagoYokota

quem e aba

2025-06-14

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