Capítulo 3 — O Don Juan do Hospital
Ricardo Monterão era um nome que circulava em sussurros pelos corredores do hospital. Dono de uma beleza que parecia esculpida com perfeição, ele carregava uma autoconfiança que transbordava a cada passo firme que dava com seu jaleco branco impecável. Alto, de ombros largos e sorriso torto que parecia sempre carregar um segredo, Ricardo não precisava de muito para fazer corações acelerarem por onde passava.
As enfermeiras ajeitavam o cabelo quando sentiam seu perfume amadeirado se aproximar, as médicas disfarçavam a admiração atrás dos prontuários e até as recepcionistas mais duronas se pegavam sorrindo feito adolescentes quando ele lançava um olhar. Era como se todo o hospital estivesse em torno dele — e ele sabia muito bem disso.
Ricardo não fazia questão de esconder seu lado galanteador. Já tinha colecionado casos com enfermeiras, médicas recém-formadas e até com a recepcionista novata que, no início, dissera que jamais cairia em conversa de médico mulherengo. Bastaram dois encontros casuais e um jantar regado a vinho para que ela também se rendesse ao charme irresistível dele. Era sempre assim: começava com uma brincadeira, um elogio bem colocado, e terminava em noites que nenhuma delas esquecia tão cedo.
Mas com Cíntia era diferente. Ricardo sabia dos limites. Ela também era residente, colega de plantão, e mais do que isso: era namorada de Pedro, um dos poucos caras que Ricardo respeitava. Por isso, apesar da beleza da colega — cabelos lisos, olhar firme e postura determinada —, ele nunca passou da linha com ela. No máximo, soltava uma piada ou outra só para provocar, vendo o jeito como ela revirava os olhos e cruzava os braços. E aquilo, no fundo, o divertia.
— E aí, doutora Cíntia, já cansou de salvar vidas ou vai me dar mais uma chance de brilhar hoje? — ele brincou, encostado no balcão da enfermagem com aquele sorriso que já era a marca registrada dele.
Cíntia soltou um suspiro impaciente, sem conter um pequeno sorriso no canto da boca.
— Brilhar? Você? Só se for no setor de reclamações, doutor Ricardo.
Ele riu, levantando as mãos em rendição.
— Maldade. Eu sou o orgulho deste hospital. Pergunta ali pra enfermeira Cláudia — apontou com o queixo para a mulher que, do outro lado da sala, ficou vermelha só de ouvir o nome dele.
Cíntia balançou a cabeça e voltou para seu plantão, enquanto Ricardo se empurrava da bancada e seguia para a sala de descanso, recebendo piscadelas e sorrisos pelo caminho. Era assim sempre. Ele mantinha todos por perto, mas sem se prender a ninguém. E, no fundo, era exatamente isso que ele queria: liberdade.
Depois que abandonou a casa dos pais aos 23 anos, Ricardo fizera um pacto consigo mesmo de nunca mais aceitar que alguém mandasse em sua vida. Filho de Alberto Monterão, o magnata dono da maior rede de hospitais privados da região, e de Juliana Monterão, uma socialite conhecida nas colunas de fofoca, Ricardo tinha crescido cercado de luxo, mas sufocado por expectativas. Sua irmã mais velha, Stephanie, havia seguido o script: casou-se com Douglas Ketuk, selando a união entre duas das famílias mais poderosas. Mas o casamento era de fachada, sem amor, sustentado apenas pelo interesse mútuo dos pais.
Ricardo sempre odiou aquela farsa. Observava os sobrinhos gêmeos, Lorran e Lorraine, correndo pelos jardins da mansão Monterão sem sequer perceberem a frieza que dominava a casa. E prometeu que nunca, jamais, aceitaria um destino como aquele. Por isso saiu de casa, trocou o conforto por um apartamento modesto e se jogou de cabeça na residência médica num hospital público, longe dos holofotes e das pressões familiares.
Agora, com 25 anos, ele estava exatamente onde queria estar: livre, desejado e sem amarras. Os casos passageiros eram parte do jogo, uma distração bem-vinda em meio à rotina pesada dos plantões. Mas nada que chegasse perto de algo sério. Compromisso, para Ricardo Monterão, era sinônimo de prisão — e ele já tinha fugido de uma uma vez.
No hospital, ele era o Don Juan que todas comentavam, e ele adorava manter essa fama viva. Mas no fundo, por trás do sorriso fácil e das brincadeiras, havia um homem que sabia exatamente o que não queria da vida: um casamento sem amor, um futuro programado por outros e uma vida vazia dentro de uma mansão fria.
E era por isso que, mesmo cercado de olhares e oportunidades, Ricardo Monterão seguia sozinho. Por escolha. Por orgulho. E, talvez, por medo de um dia acabar se vendo preso na mesma teia que jurou evitar.
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Atualizado até capítulo 45
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