C.05

– Frestas de Gelo

Os dias com Elena no escritório estavam começando a se tornar... diferentes.

Matteo não diria mais fáceis. Mas havia uma nova ordem nas coisas. Ela sabia quando ficar em silêncio, quando interromper com uma sugestão firme, e quando simplesmente colocar uma xícara de café no canto da mesa dele, com açúcar na medida exata.

E o pior — ou o melhor — era que ela não tentava agradá-lo. Fazia porque era boa. Porque se importava. E Matteo, acostumado a pessoas com segundas intenções, começava a se incomodar com aquela honestidade clara nos olhos dela.

— Elena, revise o contrato da Norvik antes de enviar ao jurídico. — ele disse, sem levantar os olhos da tela.

— Já revisei. Três cláusulas precisavam de ajuste. Marquei em amarelo e enviei para o departamento há uma hora. — respondeu, com naturalidade.

Ele parou. Levantou os olhos. Observou-a por alguns segundos em silêncio.

— Você anda sempre três passos à frente? — ele questionou, curioso e irritado ao mesmo tempo.

— Quando o chefe é imprevisível, a secretária tem que ser rápida. — ela sorriu, com aquele humor leve que o desarmava.

**

Na hora do almoço, Matteo desceu ao refeitório reservado aos diretores. Elena preferiu continuar trabalhando em sua sala, mas ele — sem admitir nem para si mesmo — estranhou sua ausência.

No fim do expediente, chamou-a ao seu escritório.

— Amanhã temos uma reunião com a empresa do grupo Avelar às nove. Preciso que esteja comigo.

— Claro. Mas… — Elena hesitou. — Tenho um compromisso pessoal às oito. Posso chegar diretamente à reunião, já com tudo preparado.

Ele a observou, os olhos estreitos. Por um segundo, algo parecido com ciúme — ou desconfiança — passou pelo olhar.

— Muito bem. Espero que o compromisso seja pontual. — disse com frieza.

Ela assentiu e saiu, e Matteo ficou parado, desconfortável. Ele nunca se importava com compromissos pessoais de suas assistentes. Mas com Elena... ele queria saber mais.

**

Na sexta-feira, ao final do expediente, Matteo surgiu na sala de Elena.

— A nova campanha publicitária da Valmont Maison será lançada semana que vem. E quero que esteja presente. Não como assistente. Como parte da equipe estratégica.

Ela ergueu os olhos, surpresa.

— Isso é sério?

— Você tem opinião. Inteligência. E lealdade. Quero pessoas assim ao meu redor. — disse, seco, e virou-se para sair, mas antes de atravessar a porta, acrescentou, com voz baixa: — E você é a única que tem coragem de me dizer quando estou sendo idiota.

Elena mordeu o sorriso. A cada dia, Matteo Valmont deixava escapar mais pedaços do homem que havia por trás da couraça. E ela... começava a gostar demais de descobrir.

---

A noite caiu sobre a cidade como um manto de veludo negro salpicado de luzes. Matteo estava em seu escritório, como de costume, digitando com concentração. Elena, no sofá da antessala, organizava relatórios no tablet, quando ouviu a porta se abrir.

— Você ainda está aí? — ele perguntou, encostado à porta, com o blazer já pendurado no ombro.

— Sim, só estou terminando de montar os dados que pediu. Posso entregar amanhã cedo, se preferir — ela respondeu, sem levantar os olhos.

Matteo a observou por alguns segundos, silencioso. Ela tinha algo que o desconcertava. Não era beleza apenas — embora fosse bonita — mas era algo mais... um tipo de segurança que se escondia atrás dos olhos irônicos e da voz firme.

— Vamos sair um pouco — disse, de repente. — Hoje você não vai trabalhar até meia-noite.

— Isso é um convite ou uma ordem, chefe? — Elena arqueou uma sobrancelha.

— Os dois.

Ela riu e levantou. Quinze minutos depois estavam em uma cafeteria discreta, longe do circuito dos olhares curiosos. Era a primeira vez que dividiam tempo fora das paredes da empresa. Ali, Matteo estava diferente. Mais humano. Menos aço.

— Meu pai queria me apresentar um projeto novo hoje... — Matteo começou, mexendo no café. — Algo para integrarmos jovens aprendizes na sede da fundação.

— Isso é maravilhoso — ela disse, animada. — Talvez seja uma forma de... mostrar que o magnata Matteo também tem coração.

Ele franziu o cenho.

— Eu tenho coração.

— Eu sei. Mas você o tranca a sete chaves.

Silêncio. E depois, um riso breve.

— Meu pai diz que você é impossível. E ao mesmo tempo, a única que conseguiu me deixar sem respostas.

— Seu pai é incrível. Tem um olhar que entende as pessoas — ela disse com carinho. — E ele ama você com tudo o que tem.

Matteo olhou para ela, os olhos perdendo um pouco da rigidez de sempre.

— Ele sempre foi meu alicerce. Mas... às vezes, eu penso que não quero ser só uma cópia dele. Quero fazer as coisas à minha maneira, mesmo que siga os mesmos passos.

— E vai conseguir — ela respondeu, firme. — Porque você não é só um nome, Matteo. É um homem. E diferente do que tenta mostrar... um homem bom.

Ele não respondeu. Apenas pegou a pequena caixa do bolso.

— Comprei isso hoje. É só uma lembrança. Por estar me ajudando, mesmo quando sou intragável.

Elena abriu a caixinha e encontrou um colar delicado, com um pequeno pingente em forma de estrela.

— Matteo...

— Não precisa dizer nada. Só... obrigada por estar aqui.

Ela sorriu, tocando o pingente.

— Eu é que agradeço. Por me deixar ver que até magnatas têm alma.

Naquela noite, algo invisível se firmou entre eles. Ainda não era amor. Mas era algo mais forte do que apenas respeito. Era o início de um vínculo que nem mesmo Matteo conseguiria ignorar por muito tempo.

---

Era final de tarde quando Elena desceu para a cafeteria do prédio. Matteo ainda estava em uma reunião importante, e ela aproveitou para tomar um café e responder alguns e-mails longe da pressão do escritório. O ambiente estava mais cheio que o habitual, e ela logo foi abordada por um rapaz alto, com blazer claro e sorriso fácil.

— Você trabalha com Matteo Valmont, não é? — perguntou o homem, com tom amigável. — Vi você entrando com ele esses dias.

— Sim. Sou assistente dele temporariamente — ela respondeu, mantendo a postura profissional.

— Sou Marcel. Cuido do setor de investimento internacional do grupo. Estive fora nos últimos meses — disse, estendendo a mão. — E confesso que estou impressionado... Você não parece alguém que se deixa intimidar fácil.

— Não sou — ela sorriu, simpática. — Principalmente quando o assunto é trabalho.

Enquanto isso, Matteo observava de longe, ao sair do elevador. Parou ao ver Elena sorrindo para o tal “Marcel”. O aperto no estômago veio sem explicação. Uma parte dele queria simplesmente voltar e ignorar. Mas outra... outra já estava caminhando até lá sem pedir permissão.

— Algum problema aqui? — a voz dele surgiu, mais firme do que deveria.

Elena se virou, surpresa, e Marcel levantou as mãos.

— Nenhum, senhor Valmont. Só conversávamos.

— A próxima reunião está para começar. Preciso de você agora, Elena.

Ela arqueou a sobrancelha, mas se despediu educadamente de Marcel e seguiu Matteo até o elevador. O silêncio ali dentro era denso.

— Você sempre trata funcionários assim quando eles conversam com alguém? — ela questionou, com leve ironia.

— Só quando estão em horário de trabalho e... distraídos demais.

Ela cruzou os braços, sem se intimidar.

— Está com ciúmes, Matteo?

Ele a encarou. Rígido. Desconcertado.

— Não me coloque nesse tipo de joguinho. Ciúmes não combinam comigo.

— Talvez você esteja apenas descobrindo que não é tão de pedra quanto pensa — ela disse, e sorriu antes de sair do elevador assim que ele parou.

Matteo ficou parado. O ego ferido. Mas o coração... batendo mais rápido do que gostaria de admitir.

E pela primeira vez... Matteo Valmont percebeu que perder o controle não era apenas sobre negócios. Era sobre ela.

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Fim de capítulo !

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