– A Confusão de Sentimentos
O voo de volta foi tranquilo, mas no avião, a tensão estava no ar. Elena, sentada do outro lado do corredor, parecia distante, perdida em seus próprios pensamentos. Ela estava ciente da forma como Matteo a observava, mas fazia questão de manter uma certa distância — não apenas física, mas emocional. Para ele, ela era uma colaboradora, alguém para ajudá-lo a gerenciar sua vida de magnata, não alguém para afetá-lo de maneira pessoal. Ele se dizia convicto disso, mas algo dentro dele estava se quebrando.
Quando o avião aterrissou e eles saíram juntos do terminal, Elena notou a forma como Matteo, de repente, parecia diferente. Havia uma tensão nas suas posturas, como se ele estivesse lutando com algo mais profundo do que simplesmente a responsabilidade de dirigir uma empresa.
— Você está bem? — Elena perguntou, quebrando o silêncio.
Ele não respondeu de imediato, mas a observou com um olhar que ela não soubera identificar. Era uma mistura de frustração e algo mais.
— Eu não gosto de ficar fora da minha zona de controle. — ele disse finalmente, sua voz baixa, quase desconfortável.
Elena riu, a leveza de sua risada ecoando no corredor do aeroporto. Não era zombaria, mas uma forma de libertar a tensão que pairava entre os dois.
— E quem gosta? — ela brincou, tentando aliviar o peso do momento. — Se você fosse tão confortável com tudo, isso significaria que você está aceitando as regras do jogo. E você não parece ser do tipo que aceita.
Ele a olhou, surpreso pela resposta. Por um segundo, parecia que ele estava prestes a dizer algo, mas a conversa foi interrompida por uma mensagem no celular de Elena. Ela olhou rapidamente para a tela e percebeu que era uma notificação de um cliente, um lembrete de uma reunião importante para o próximo dia.
— Bom, vou aproveitar o tempo livre enquanto posso. — ela disse, guardando o celular na bolsa.
Matteo se inclinou levemente para frente, mais uma vez olhando para ela com uma intensidade que a desconcertava.
— Você parece ser mais do que uma simples secretária. — ele murmurou.
Elena riu novamente, mas dessa vez, a risada tinha um tom mais suave.
— Acho que ainda não viu o melhor de mim, Matteo. — respondeu ela com um sorriso, antes de se afastar.
Quando ela se virou para ir embora, ele ficou parado, a sensação de algo incompleto tomava conta dele. Algo em sua presença mexia com ele de maneiras que ele não estava pronto para entender.
---
Os dias que se seguiram foram uma mistura de rotina e olhares furtivos entre eles. Matteo ainda mantinha sua fachada rígida e impassível, mas Elena começava a perceber pequenas rachaduras. Ele a procurava mais vezes no escritório, conversava com ela de maneira que antes não fazia, e às vezes até se pegava pensando nas palavras dela, em seu sorriso irreverente, em como ela o desafiava sem medo.
Mas algo mais estava crescendo dentro dele, algo que ele não queria aceitar: a sensação de que Elena estava entrando em sua vida de uma maneira que ele não podia controlar. Cada dia com ela parecia um jogo, um teste constante entre manter o controle e se perder nos sentimentos que ela despertava nele.
Por fim, Elena percebeu que a linha entre profissional e pessoal estava se tornando perigosamente tênue.
---
No escritório, a tensão entre eles estava mais palpável do que nunca. Matteo, sempre impecável em seu traje formal, parecia ainda mais frio do que de costume, mas Elena sabia que ele estava lutando contra algo maior.
Ela estava mais atenta às pequenas mudanças em seu comportamento. Ele não estava apenas sendo difícil, estava... diferente. As reuniões mais tensas, as longas conversas sobre o futuro da empresa — tudo agora parecia um jogo de disfarces, onde nenhum deles queria se expor.
Foi durante uma dessas reuniões, quando Elena estava prestes a sair, que ele a parou.
— Elena, eu... — Matteo começou, hesitante.
Ela olhou para ele, sua expressão imutável.
— Sim? — ela perguntou, seus olhos encontrando os dele.
Ele hesitou por um momento antes de falar.
— Estou começando a me perguntar se posso confiar em você para mais do que apenas trabalho. — disse ele, a voz baixa e quase inaudível.
Elena não disse nada imediatamente. Ela sabia que, em qualquer outra situação, a resposta mais fácil seria afastar-se, manter o profissionalismo. Mas, no fundo, ela sabia que não seria tão simples com Matteo. Havia algo entre eles que não podia ser ignorado, algo que ele e ela precisavam enfrentar.
— A questão não é se você pode confiar em mim, Matteo. — ela respondeu finalmente, a voz firme. — A questão é se você vai se permitir confiar em alguém, seja no trabalho ou fora dele.
E com essas palavras, ela se afastou, deixando Matteo com um sentimento que ele não sabia como lidar: a dúvida. E, talvez, pela primeira vez, a necessidade de algo mais do que controle.
---
O Orgulho de um Pai e o Início de uma Mudança
O escritório de Matteo Valmont era uma verdadeira fortaleza. As paredes de vidro refletiam a vista de tirar o fôlego do alto do edifício, e dentro, tudo era minimalista, elegante e controlado — como ele.
Matteo andava de um lado para o outro, tenso, enquanto Elena organizava documentos para a reunião com um grupo de investidores estrangeiros. Ela mantinha sua expressão profissional, mas seus olhos acompanhavam cada passo dele, observando como até seu nervosismo era contido, medido.
— Elena, os relatórios estão prontos? — ele perguntou, sem encará-la.
— Estão na pasta preta sobre sua mesa, junto com as anotações que pedi para o financeiro. Também imprimi a versão traduzida. — respondeu com calma.
Matteo parou. Finalmente a olhou. Aquilo era novo. Ele estava acostumado com assistentes que tremiam ao som da sua voz. Elena... não.
E, naquele momento, a porta do escritório se abriu sem cerimônia.
— Espero não estar interrompendo nada importante. — disse Adam Valmont, entrando com um leve sorriso e o charme intacto, apesar dos cabelos mais grisalhos e da expressão madura.
Elena endireitou-se, surpresa. Era impossível não reconhecer Adam Valmont, o homem que dominava manchetes e negócios há décadas. Matteo virou-se com uma expressão automaticamente mais serena.
— Pai. — disse com um tom menos duro, que poucos presenciavam. — O que faz aqui?
— Senti falta do meu neto. Mas, como sei que está em boas mãos com a mãe, resolvi visitar meu outro filho. — Adam riu, indo direto até Matteo e dando-lhe um breve abraço viril, mas afetuoso.
Elena ficou de pé, ajeitando-se com discrição.
— Essa deve ser Elena. — Adam voltou-se para ela com interesse nos olhos. — A assistente que meu filho teima em dizer que é “competente”, mas que a equipe toda descreve como uma revolução ambulante.
Elena sorriu com elegância.
— Um prazer, senhor Valmont. E revolução? Bom... às vezes, um pouco de caos também organiza a ordem. — brincou.
Adam soltou uma gargalhada, olhando de relance para Matteo.
— Viu só? Em poucos segundos, ela já conseguiu te desarmar. E você nem percebeu. — provocou.
Matteo lançou um olhar breve ao pai, depois a Elena. Mas nada disse. Ele estava ciente. Muito mais do que gostaria.
— Sabe o que acho? — Adam continuou. — Que você precisa de alguém assim ao seu lado, filho. Alguém que não te tema. Porque o mundo já teme demais os Valmont. E, às vezes, a gente precisa mesmo é de alguém que não abaixe a cabeça, que nos encare nos olhos... e mostre onde estamos errando.
Matteo franziu o cenho, incomodado. Mas era o tipo de incômodo que ele respeitava — vindo do único homem no mundo que ele admirava cegamente.
— Elena é uma profissional. E temporária. — disse Matteo, defensivo.
Adam sorriu com malícia.
— Claro, claro. Temporária. Como sua mãe era temporária pra mim também. E veja só no que deu. — ele piscou e se afastou em direção à saída.
Antes de sair, virou-se uma última vez.
— Gostei de você, Elena. Continue sendo exatamente assim. Com o tempo, vai ver que o coração do Matteo só parece gelado. Ele só precisa da temperatura certa pra derreter.
E saiu, deixando no ar a provocação e o silêncio entre os dois.
Matteo se virou devagar, encarando Elena. Ela, ainda com um leve sorriso, respondeu com um simples:
— Só estou fazendo meu trabalho.
Mas ambos sabiam que, naquele ambiente, havia muito mais sendo construído do que relatórios e reuniões.
---
Os dias com Elena no escritório estavam começando a se tornar... diferentes.
Matteo não diria mais fáceis. Mas havia uma nova ordem nas coisas. Ela sabia quando ficar em silêncio, quando interromper com uma sugestão firme, e quando simplesmente colocar uma xícara de café no canto da mesa dele, com açúcar na medida exata.
E o pior — ou o melhor — era que ela não tentava agradá-lo. Fazia porque era boa. Porque se importava. E Matteo, acostumado a pessoas com segundas intenções, começava a se incomodar com aquela honestidade clara nos olhos dela.
— Elena, revise o contrato da Norvik antes de enviar ao jurídico. — ele disse, sem levantar os olhos da tela.
— Já revisei. Três cláusulas precisavam de ajuste. Marquei em amarelo e enviei para o departamento há uma hora. — respondeu, com naturalidade.
Ele parou. Levantou os olhos. Observou-a por alguns segundos em silêncio.
— Você anda sempre três passos à frente? — ele questionou, curioso e irritado ao mesmo tempo.
— Quando o chefe é imprevisível, a secretária tem que ser rápida. — ela sorriu, com aquele humor leve que o desarmava.
**
Na hora do almoço, Matteo desceu ao refeitório reservado aos diretores. Elena preferiu continuar trabalhando em sua sala, mas ele — sem admitir nem para si mesmo — estranhou sua ausência.
No fim do expediente, chamou-a ao seu escritório.
— Amanhã temos uma reunião com a empresa do grupo Avelar às nove. Preciso que esteja comigo.
— Claro. Mas… — Elena hesitou. — Tenho um compromisso pessoal às oito. Posso chegar diretamente à reunião, já com tudo preparado.
Ele a observou, os olhos estreitos. Por um segundo, algo parecido com ciúme — ou desconfiança — passou pelo olhar.
— Muito bem. Espero que o compromisso seja pontual. — disse com frieza.
Ela assentiu e saiu, e Matteo ficou parado, desconfortável. Ele nunca se importava com compromissos pessoais de suas assistentes. Mas com Elena... ele queria saber mais.
**
Na sexta-feira, ao final do expediente, Matteo surgiu na sala de Elena.
— A nova campanha publicitária da Valmont Maison será lançada semana que vem. E quero que esteja presente. Não como assistente. Como parte da equipe estratégica.
Ela ergueu os olhos, surpresa.
— Isso é sério?
— Você tem opinião. Inteligência. E lealdade. Quero pessoas assim ao meu redor. — disse, seco, e virou-se para sair, mas antes de atravessar a porta, acrescentou, com voz baixa: — E você é a única que tem coragem de me dizer quando estou sendo idiota.
Elena mordeu o sorriso. A cada dia, Matteo Valmont deixava escapar mais pedaços do homem que havia por trás da couraça. E ela... começava a gostar demais de descobrir.
---
Fim de capítulo !
🖤 Gostou ?
🖤Curti comenta e compartilha!!!
🖤 Um beijo e tchauuu
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments
Livia Pereira
ah esse casal, será que dona Leonor terá que vir e dar um empurrão nesses dois? 🥰🖤🤣😂🤣
2025-05-09
0
Cecília Gazzaneo
❤️❤️
2025-05-10
0