C.02

– Eu sou Elena Duarte

Não sei se alguém está lendo isso ou se, um dia, vai se importar. Mas eu gosto de colocar as ideias no papel. Sempre ajudou a organizar a bagunça aqui dentro.

Meu nome é Elena Duarte. Tenho 26 anos. Sou formada em Administração com ênfase em Gestão Estratégica e um MBA interrompido por... falta de grana, basicamente. Vim de uma cidade pequena, cresci entre livros do ensino público e as dívidas da casa. Minha mãe era costureira e meu pai... bem, meu pai desapareceu no mapa quando eu tinha sete anos. Não sinto falta.

Tenho um irmão mais novo, Leo, que hoje faz faculdade de Engenharia com uma bolsa. Ele é meu maior motivo. Se eu estou aqui, tentando me firmar no meio de gigantes, é por ele. Sempre foi.

Sou aquela garota que ouviu “você é muito para isso” e também “você nunca vai ser o suficiente”. Aprendi a não baixar a cabeça cedo demais. A vida não dá espaço pra quem hesita.

**

Agora, sobre esse novo trabalho...

A empresa Valmont é um império. A cadeira de onde o Sr. Matteo Valmont comanda, parece feita de gelo e ferro. Tudo nele exala poder e silêncio. Quando me sentei na frente dele, pela primeira vez, tive a sensação de estar diante de um homem que já viveu o suficiente para ter desaprendido a confiar nas pessoas.

Ele não é simpático. Não oferece sorrisos. Não faz perguntas pessoais. E se existe algo dentro dele além de frieza e controle, eu ainda não vi.

Mas... alguma coisa nele chama a atenção.

Não é só a aparência (vamos ser honestas, ele é bonito de um jeito perigoso). É a forma como ele entra num ambiente como se já soubesse tudo o que vai acontecer. É o silêncio que pesa quando ele observa. É a segurança que transmite, mesmo que seja difícil entender o que pensa.

Em três dias, já percebi que trabalhar com Matteo Valmont é como andar num campo minado. Mas, ao mesmo tempo, é como escalar uma montanha que desafia cada parte do seu ser — e eu adoro um desafio.

Não quero ser apenas uma sombra atrás da mesa dele. Quero mostrar que tenho valor. Que posso estar à altura.

Se ele acha que vou obedecer a tudo sem contestar, vai se surpreender. Tenho princípios. Tenho voz. Mas também sei quando calar. Sei quando observar. E sei a hora exata de agir.

**

Sonhos?

Quero abrir minha própria empresa um dia. Quero construir algo que leve meu nome, minha marca. Talvez um dia o mundo conheça o que uma Duarte é capaz de fazer. E se eu tiver que aprender ao lado do homem mais difícil da cidade... então que assim seja.

Não sei onde isso vai dar. Mas uma coisa eu sei: não vim até aqui para ser só mais uma funcionária. E ele vai descobrir isso — cedo ou tarde.

**

---

O relógio marcava 8h em ponto quando Elena entrou na sala envidraçada com a pasta azul-clara nos braços. Usava um blazer bege por cima do vestido preto simples e sapatos baixos — nada extravagante, mas o suficiente para se sentir segura. Ainda estava se acostumando ao ritmo da Valmont Corporation, onde todos andavam rápido, falavam pouco e obedeciam demais.

Matteo Valmont estava na mesma posição de sempre: atrás da mesa, camisa branca com as mangas dobradas, o olhar fixo nos números da tela. Não ergueu os olhos de imediato. Só quando ela se aproximou e disse com firmeza:

— Relatórios prontos. Organizei conforme os setores com maior índice de retorno.

Ele a olhou como quem analisa um quebra-cabeça complexo.

— Você reestruturou o material da diretoria?

— Sim. Achei a divisão original desorganizada.

Silêncio.

Ele a fitou por um longo segundo, depois pegou a pasta, folheou, mas não disse nada. Elena cruzou os braços atrás do corpo, mantendo-se firme. Ele não agradeceu. Não elogiou. Mas também não criticou.

Para Elena, aquilo já era uma pequena vitória.

— Prepare uma nova pauta com foco em expansão para o setor logístico. Preciso dela às 14h.

— Claro. Mas você sabe que o departamento ainda não fechou os dados do primeiro trimestre. Vai querer com projeções?

— Sim. De preferência realistas. — A forma como ele disse a palavra carregava uma crítica velada.

— Então você vai ter as melhores — rebateu ela, com um leve sorriso.

Ele ergueu uma sobrancelha.

Ela se virou para sair, mas antes que alcançasse a porta, ele disse:

— Senhorita Duarte.

Ela parou, de costas.

— Sim?

— Tem se adaptado?

Ela se virou devagar, surpresa pela pergunta.

— Estou aprendendo. Observando. E me ajustando.

— Sabe que esse cargo exige mais do que organização e pontualidade.

— Eu sei. Também exige coragem para dizer o que ninguém quer ouvir.

O olhar de Matteo se fixou nela. Pela primeira vez, Elena viu algo diferente em seus olhos. Algo que poderia ser respeito... ou desafio.

— Está disposta a pagar o preço por isso? — ele perguntou.

— Estou disposta a ser fiel a mim mesma, Sr. Valmont. O resto a gente negocia.

E então ela saiu, sem abaixar os olhos.

Matteo permaneceu em silêncio, os dedos entrelaçados sobre a mesa. Pela primeira vez em muito tempo, alguém não apenas o encarava — mas o provocava, de forma sutil, firme e direta.

E aquilo o incomodava.

E, de algum modo estranho... também o intrigava

---

Aeroporto de Milão. Seis da manhã. Matteo Valmont não gostava de atrasos. Nem de filas. Nem de aeroportos. Na verdade, havia poucas coisas no mundo que ele gostava — e Elena começava a suspeitar que nenhuma envolvia seres humanos.

Ela estava com um tablet em mãos, já com a agenda do dia aberta, lendo os tópicos da conferência que eles participariam em Genebra. Usava um blazer azul-marinho, calça de alfaiataria e um coque improvisado que revelava sua nuca delicada. Matteo, como sempre, impecável de terno escuro e olhar impaciente.

— Espero que saiba que odeio voar. — ele disse, ao se sentarem na primeira classe.

— Acho que o mundo inteiro adivinha isso só de olhar pro seu humor matinal. — Elena respondeu, sem desviar os olhos da tela.

Matteo arqueou uma sobrancelha. Estava acostumado a secretárias que sorriam e concordavam. Elena sorria... mas era como se zombasse dele com estilo. E, por alguma razão, ele ainda não a demitira. Talvez por estar levemente intrigado.

Durante o voo, ele fez perguntas secas sobre a agenda, testando seu preparo. Elena respondia com segurança, mas entre uma resposta e outra, deixava escapar comentários sarcásticos:

— O painel de amanhã começa às nove, senhor Valmont. Mas se quiser manter sua fama de Magnata Sombrio, podemos chegar quinze minutos atrasados e entrar em câmera lenta. — disse ela, fingindo digitar em seu tablet.

Ele soltou um leve suspiro, que — para qualquer um que conhecesse Matteo — era quase uma gargalhada.

Em Genebra, o hotel cinco estrelas era discreto e elegante. Matteo ocupava a suíte presidencial, e Elena, claro, estava no quarto ao lado. Por medidas de segurança e também por praticidade. Ao menos foi isso que Matteo disse.

Naquela noite, houve um jantar com investidores. Matteo, como sempre, era impecável nas palavras. Mas quando um dos empresários tentou menosprezar a jovem assistente, Matteo surpreendeu até a si mesmo:

— Elena é mais útil em um dia do que alguns de vocês em uma semana. Se quiserem falar de negócios, falem comigo. Se quiserem testar a paciência, testem a dela.

Elena quase engasgou com o vinho. Aquele foi o maior elogio que já ouvira dele — e o mais ácido também.

Ao fim da noite, quando estavam sozinhos no elevador do hotel, o silêncio era confortável e tenso ao mesmo tempo.

— Está começando a me achar menos detestável, Valmont? — ela provocou, com um sorrisinho.

Ele não respondeu de imediato. Apenas olhou para ela, como se estivesse tentando decifrar o que exatamente o fazia não conseguir afastá-la.

— Você ainda é insuportável. — murmurou. — Mas pelo menos é eficiente.

Elena sorriu, encostando-se na parede do elevador. E naquele instante, algo entre eles mudou. Um campo magnético silencioso, que nem o terno impecável dele, nem o sarcasmo dela, podiam mais esconder.

E aquilo era apenas o começo.

---

Fim de capítulo !

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🖤 Um beijo e tchauuu

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Comments

Lucia Sathler

Lucia Sathler

aí já tô ansiosa pra ver eles juntos

2025-05-09

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