Na manhã seguinte, Paola foi despertada pelo som do celular vibrando sobre o criado-mudo. Abriu os olhos devagar, ainda confusa com o novo ambiente. O quarto era amplo, com cortinas grossas de veludo azul-marinho que barravam a luz do sol. No chão, um tapete macio aquecia seus pés quando ela levantou, contrariada. Respirou fundo. Mais um dia naquela casa que mais parecia uma prisão dourada.
Ao descer, encontrou Felipe já à mesa, trajando um terno escuro impecável. Ele tomava café enquanto lia algumas folhas. Nem ergueu os olhos quando ela entrou.
— Sente-se. Coma. Você vai trabalhar hoje — disse, direto.
Paola hesitou por um segundo, mas se sentou, pegando uma torrada. O silêncio entre eles era cortante. Ele bebia café com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo, enquanto ela se perguntava o que exatamente significava "trabalhar".
Depois do café, ele se levantou e lançou um olhar por cima do ombro.
— Vista-se. Coloque algo decente. Você vai à empresa comigo. Vai começar a exercer sua função.
— Que função? — ela perguntou, de forma quase desafiadora.
Ele virou-se devagar, com um leve sorriso frio nos lábios.
— A de me acompanhar. Você será minha assistente pessoal. Vai cuidar da minha agenda, atender às minhas ligações, organizar meus compromissos... e manter a boca fechada sobre o que não for da sua conta.
Paola respirou fundo. Sabia que aquilo era apenas mais uma forma de controle. Mas parte de si também sabia que, quanto mais perto dele estivesse, mais teria acesso ao mundo sombrio que ele escondia.
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Na empresa, tudo parecia luxuoso, moderno e... frio. O prédio de vidro reluzia sob o sol, e todos os funcionários pareciam andar como engrenagens bem ajustadas de uma máquina sem alma.
Felipe a guiou até seu andar exclusivo, onde uma enorme sala de vidro dava visão para toda a cidade. Lá dentro, móveis de madeira escura, telas enormes e o cheiro amadeirado do ambiente davam o tom de poder absoluto.
— Aqui você vai trabalhar — disse ele, apontando uma mesa de frente para a porta de sua sala. — Qualquer pessoa que chegar, você atende. Qualquer ligação, você filtra. Se errar, volta a trabalhar na cafeteria.
Ela assentiu, engolindo a resposta atravessada.
— E você me chamará de “senhor Albuquerque” aqui dentro — completou ele, olhando nos olhos dela com autoridade.
— Claro, senhor Albuquerque — respondeu, fria, mas com o rosto firme.
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Os dias passaram em um ritmo tenso. Paola acordava cedo, tomava café com ele sob um clima de silêncio ou ordens secas, vestia as roupas que ele mandava preparar e o acompanhava até o trabalho. Na empresa, executava tudo com perfeição. Era observadora, discreta, educada. Mas por dentro, cada dia a corroía mais.
À noite, quando voltavam, ela mal tinha tempo de descansar. Felipe exigia que ela limpasse a casa, organizasse o quarto dele, arrumasse o banheiro, dobrasse suas roupas. Ela lavava o chão da cozinha ajoelhada, com os dedos doendo e os olhos cansados, como se fosse uma empregada, e não uma jovem cheia de sonhos. E ele a observava, sempre em silêncio, sempre no controle.
Certa noite, ao terminar de limpar o corredor, ouviu risadas vindas da sala. Quando se aproximou, viu Felipe no sofá com uma mulher loira, de vestido colado e decote exagerado. A mulher ria alto, apoiando-se no peito dele como se já conhecesse bem aquele corpo. Paola parou, o balde ainda na mão, sentindo o rosto queimar de raiva e humilhação.
Felipe cruzou os olhos com os dela e sorriu com cinismo.
— Já terminou aí, Paola? Pode subir. Aqui embaixo você não tem mais nada pra fazer — disse ele, como se falasse com uma qualquer.
A loira virou o rosto e a encarou com desprezo.
— É a empregada nova? — perguntou, rindo.
Paola não respondeu. Apenas se virou e subiu as escadas com os olhos marejados. Trancou-se no quarto e se jogou na cama, mordendo o travesseiro para não chorar alto.
Naquela noite, não dormiu.
Naquela noite, fez uma promessa.
Ela suportaria. Seria forte. Mas um dia, tudo aquilo mudaria. Um dia, Felipe Albuquerque sentiria na pele o gosto da própria humilhação.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Maria Aparecida Monteiro Firmino Cida
oxente ela não tem porque se sentir humilhada foi escolha dela tá assim trabalhando pra ele e pagar a divida do pai
será que já tá apaixonada?
2025-05-09
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