Entre o Amor e a Vingança.
Era uma manhã comum na pequena cafeteria da esquina. O aroma do café recém-passado se misturava ao leve som da chuva batendo contra o vidro da vitrine. Paola Oliveira, de 25 anos, arrumava as mesas com cuidado, usando um pano branco já um pouco gasto. Seus olhos azuis percorriam o salão, atentos, e seu corpo elegante se movia com leveza. Ela sempre gostou de trabalhar ali com o pai, mesmo sendo garçonete. Era sua rotina, seu abrigo.
Mas aquele dia não seria como os outros.
A porta da cafeteria se abriu com um estrondo. O som ecoou pelo ambiente silencioso, fazendo os clientes olharem. Um homem alto, vestindo um terno escuro impecável, entrou sem hesitar. Os sapatos brilhavam mesmo sob a luz opaca. Era Felipe Alburqueque. CEO da Albuquerque Group, uma empresa conhecida por sua ascensão meteórica e por negócios duvidosos nos bastidores.
Seu olhar era firme, direto, gélido. Ele caminhou com passos pesados até o balcão, onde o senhor Oliveira tentava esconder o nervosismo.
— Vim buscar o que me pertence, senhor Oliveira — disse Felipe, em tom seco.
— Eu... eu preciso de mais tempo. Só mais algumas semanas — suplicou o homem, já com os olhos marejados.
— Você teve meses. O prazo acabou. Um milhão e meio não some do dia pra noite. Ou paga... ou paga com a própria vida — respondeu Felipe, sem emoção.
Paola deixou a bandeja cair. O barulho chamou atenção. Ela correu até o pai e ficou entre os dois, com o coração disparado.
— Por favor! Não faça isso com ele! — disse, encarando Felipe com coragem. — Deve haver outro jeito.
— Como o quê? Você vai me pagar com gorjetas? — ele debochou.
Ela respirou fundo, sentindo as mãos suarem.
— Eu vou com você. Faço o que quiser. Trabalho pra você, sirvo, limpo sua casa, viro sua empregada. Só... não machuque meu pai.
Ele a analisou, olhando cada detalhe. A beleza dela, o tom da pele, os olhos azuis, o cabelo dourado... uma oferta tentadora. Sorriu com cinismo.
— Você está se oferecendo?
— Sim. Em troca da dívida. Eu vou com você.
Silêncio.
— Está feito. A dívida está paga. Agora você... é minha.
O silêncio que se instalou após a proposta de Paola foi sufocante. O senhor Oliveira abaixou a cabeça, tomado pela vergonha e culpa. Já Felipe, imóvel, a observava com um olhar indecifrável. Seus olhos castanhos escuros analisavam cada detalhe: a firmeza na voz, a mão que tremia levemente, o olhar determinado escondido atrás da angústia. Ele não esperava por aquilo. Não esperava que alguém tivesse coragem de se entregar daquela forma.
— Você está me oferecendo a si mesma… em troca da dívida do seu pai? — ele perguntou, com a voz baixa, mas firme.
— Sim — respondeu ela, com os olhos presos aos dele. — Leve a mim. Me leve com você. Faça o que quiser. Mas deixe meu pai em paz.
O coração de Felipe não acelerou. Ele não era um homem que se emocionava facilmente. Mas houve algo naquela mulher que o fez pausar por alguns segundos. Um brilho nos olhos, uma braveza silenciosa que o desafiava.
— Muito bem, senhorita Oliveira — ele disse, se aproximando lentamente. — Amanhã. Oito horas. Esteja pronta.
Ele se virou e saiu com a mesma frieza com que entrou. A porta se fechou com o tilintar do sino da cafeteria, e Paola sentiu que aquele som marcava o fim de sua liberdade.
Seu pai tentou protestar, mas ela o abraçou com força, segurando as lágrimas.
— Pai, está tudo bem. Vai ficar tudo bem. Eu sou forte.
— Isso não é certo, minha filha. Isso é crueldade! — ele murmurou, afundando o rosto entre as mãos.
Mas Paola já havia decidido. Mesmo tremendo por dentro, mesmo sem saber o que a esperava, ela daria a própria liberdade para salvar a única pessoa que sempre esteve ao seu lado.
E na rua, dentro do carro escuro, Felipe observava a fachada da cafeteria desaparecer no retrovisor. Ele não sorria. Não sentia nada. Mas algo dentro dele dizia que aquela mulher não era como as outras.
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Atualizado até capítulo 55
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