Meu Coração É Seu

Meu Coração É Seu

Minha vida perfeita

— Arthur, levanta, vamos chegar atrasados.

— Amara, temos tempo para a sua cirurgia, está marcada para às 10:00.

— Para você, tudo parece fácil, eu tenho que chegar para verificar se a sala está pronta, se ninguém esqueceu nenhum detalhe, porque quando o doutor chega, ele não quer saber se me atrasei porque estava na cama com meu noivo.

— Já te falei, vem trabalhar comigo na cirurgia geral que a pressão vai ser menor e você vai poder dar mais atenção ao seu noivo.

 — Gosto do que faço, amo você, meu querido doutor, mas não tem a possibilidade de eu sair do meu lugar para trabalhar com você.

— Eu tentei, você gosta do estresse que o doutor iceberg te causa.

— Deixa-o saber que você o chama assim.

Amaranta Savóia, loira, olhos verdes, é considerada um prodígio na sua área. 

Entrou na faculdade de medicina aos 14 anos, precisou de uma decisão judicial para autorizar sua proficiência educacional.

Assim, quando completou 20 anos, já estava formada e sendo assistente do melhor médico de transplante cardíaco do país, Dr. Euryclides de Jesus Zerbini

Está noiva do Dr.Arthur Mikhailov, moreno, olhos negros e expressivos, russo por nacionalidade, mas preferiu vir morar no Brasil depois que conheceu Amarantha em um simpósio de medicina em Sergipe. 

Cirurgião clínico por preferência e apaixonado pela namorada, 26 anos de pura saúde e tem um lema: a vida é muito curta para ficar pensando, trabalhar é bom, mas viver é ainda melhor.

Faz o trabalho com perfeição, mas não abre mão do seu lazer e bem-estar.

— Amara, você sabe que depois que se casar comigo, vai ter que diminuir esse seu nível de trabalho, vou querer te levar conhecer minha família e o meu país.

— Tudo bem, Arthur, podemos falar sobre isso de noite? Agora realmente preciso ir para o hospital.

— Vamos, senhora Doutora, seu paciente te espera.

Nos trocamos e saímos. Chegamos ao hospital, faltavam dez minutos para as 09:00. Eu já ia escapando dele, mas me segurou e me fez ir tomar um cappuccino e comer um pão na chapa.

— Arthur, estou atrasada, o transplante não é como o resto do hospital, nós temos horários rígidos.

— Vai comer antes de assumir seu plantão porque depois você nem vai lembrar de vir aqui fora.

Sentei-me com ele e devorei meu pão e o copo de cappuccino porque sei que ele tem razão. Só sairei lá de dentro a tarde, depois que o paciente já estiver em recuperação na UTI, isso se não tiver que virar a noite cuidando do bem-estar do transplantado.

Acabei de comer, dei um beijo em meu amor e fui assumir meu plantão.

No final do mês ficaremos noivos oficialmente, organizamos uma festa para os amigos mais próximos e ele me fez jurar que vou tirar uma semana de folga para ficar com ele, ainda não falei para meu chefe.

Temos várias cirurgias programadas e fora as pessoas que estão na fila esperando transplante, que a cirurgia acontece de repente, mas sei que meu noivo merece que eu dê um pouco de atenção para ele, meu russo querido.

Cheguei no meu setor, verifiquei a sala e os instrumentos e fui me preparar. Como sou a segunda no comando, estou sempre ao lado do cirurgião.

Hoje a cirurgia é em uma menina de 10 anos, a cardiopatia foi descoberta e vamos fazer a cirurgia de correção.

Costuma ser uma cirurgia tranquila, mas estamos lidando com seres humanos e tudo pode acontecer.

Dr. Euryclides sempre foi muito cordial comigo.

— Doutora, você fica melhor a cada dia, a cirurgia foi perfeita.

— O mérito é todo do senhor doutor, eu só sou sua assistente.

— Quem vê pensa, foi você quem fez praticamente toda a cirurgia da garota. Olha, na próxima semana tem um simpósio na PUCPR e eu quero que você vá me representando.

— Doutor, eu vou ficar noiva no final da próxima semana, não tem como o senhor mandar outra pessoa em meu lugar?

— Não tem, você é meu braço direito e são três apresentações, terça em Curitiba, quarta em Londrina e quinta em Toledo. Na sexta-feira, você estará vindo embora, você vai chegar em tempo para seu noivado.

— Tudo bem, eu vou, mas na próxima semana quero inteira de folga.

— Inteira? Mas e se tiver algum transplante?

 — Venho, se for um transplante, não tem como prever.

— Certo, eu te dou a sua semana de folga, espero que você me represente muito bem lá no Paraná.

— Vou fazer o meu melhor.

— Muito bem, doutora, eu vou visitar os pacientes das alas e você fica aqui esperando nossa paciente voltar da anestesia.

— Pode deixar, doutor.

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“ Em um hospital da PUC PR. Seis meses antes.”

— Seu José, recebemos os resultados dos seus exames e seu coração está falhando.

— Como assim, doutor? O que tem meu coração?

— O senhor tem uma doença cardíaca grave, esses sintomas que o senhor vem sentindo são devido às falhas do seu coração.

— Isso quer dizer o quê? Me explica melhor.

— Seu coração pode parar a qualquer momento, seu caso é grave. Vamos te colocar na fila do transplante o mais urgente possível.

— O senhor está me dizendo que vou ter que rezar para alguém morrer para eu poder viver? Quanto tempo tenho de vida sem o transplante?

— Talvez um ano, vamos te colocar um, marca passo porque seu coração vai começar a falhar e o marca passo vai te dar um choque, fazendo ele voltar a bater. Vai nos dar algum tempo, mas não muito.

 — Eu não estou acreditando, sempre fui devoto e fiel à minha religião, por que isso aconteceu logo comigo?

— Essas coisas não têm explicação, o senhor deve alertar sua família, porque se o senhor desmaiar, eles devem saber o que fazer.

— E o que vão fazer? Pagar a funerária e esperar minha morte?

— Se Deus achar que você deve viver, vai aparecer um coração para colocarmos em você.

 — Eu não consigo me sentir confortável com essa situação, não tem como rezar para que alguém morra.

— Seu José, morrem pessoas todos os dias, o senhor só tem que rezar para uma delas ser compatível com o senhor e não pedir a morte de alguém.

— Vou tentar me concentrar nesse pensamento.

Saí do hospital e tenho que ir em casa contar para minha mãe que vou morrer, nem sei como fazer isso. Sempre fomos só ela, eu e meus irmãos, eu sempre achei que ia ser eu a enterrá-la quando ela completasse uns 120 anos, mas agora parece que bom vai ser ao contrário, meus irmãos têm as famílias deles, mas vão ter que me ajudar com ela.

Cheguei em casa e minha mãe abre um sorriso caloroso. Ela é costureira, nunca está sozinha, sempre tem uma cliente experimentando as roupas que ela faz, mas hoje eu precisava que tivesse alguém aqui para eu ter mais tempo para ver como vou falar o que se passa, mas ela está sozinha.

Cheguei e não aguentei, abracei minha mãe e chorei.

D. Isabella Soares, viúva, 55 anos, italiana, estourada e apaixonada pelos filhos.

— Filho, me conta o que está acontecendo, por que você está assim?

— Mãe, eu fui fazer alguns exames e descobri que meu coração está fraco.

— E o que o médico disse que vai ser feito? Você vai precisar operar? Tem tratamento?

— Vão colocar um marcapasso em mim que vai ficar dando choque em meu coração para ele não parar, ele tem que aguentar até arrumarem outro coração.

— Você vai precisar de um transplante, Dio Santo?

— Vou, mãe, estou desesperado pensando no que fazer, vou ter que esperar que alguém morra para que eu possa viver, estou me sentindo um urubu atrás da carniça.

— Não é uma situação boa, mas seu coração continua batendo e você continua aqui comigo, Deus e Nossa Senhora vão nos ajudar.

— O médico pediu para eu te orientar, porque se eu desmaiar, a senhora não deve encostar em mim.

— Por que eu não posso te tocar?

— Porque estará passando uma corrente elétrica pelo meu corpo e quem tocar também vai sentir.

— Vamos passar por isso juntos, meu filho lindo, vamos conseguir, precisamos chamar seus irmãos, todos vamos te ajudar.

Eu não consegui falar para ela que só tenho seis meses de vida, a abracei e fiquei ali curtindo o carinho da minha mãe.

Deixei-a em casa e fui à minha oficina, porque não vou parar de trabalhar, tenho cinco funcionários que dependem do serviço.

Cheguei e “sorriso” um moleque que tirei da rua veio falar comigo.

— Dunga, chegaram mais dois veículos e nós não conseguimos diagnosticar qual o problema deles.

— Vamos lá ver o que nossos pacientes têm.

— E como foi lá no médico? Vão reformar seu coração?

— Vão ter que trocá-lo, mas vai dar tudo certo.

— Se você quiser o meu, eu te dou, eu não sirvo para nada mesmo. Agora você ajuda todo mundo, faz o que pode pela comunidade, não pode morrer, não é justo.

— Sorriso, se Deus achar que devo viver, vai aparecer um coração novo para mim, mas vamos trabalhar enquanto podemos. Olha, se eu desmaiar, vou deixar um número escrito ali na lousa. Vocês chamam, eles não encostem em mim.

— Por quê? Vamos ter que te deixar morrer no chão frio.

— Porque os médicos colocaram um aparelho em mim que, cada vez que meu coração parar, vai me dar um choque no corpo para obrigá-lo a voltar a bater, e quem encostar em mim também vai tomar o choque.

— Não encostar em você, ligar no telefone que eles vêm te buscar.

Os meses foram passando, depois daquele dia já foram vários episódios. Desmaio e acordo no hospital, do mês passado para cá a coisa está ficando mais grave, estou tendo um episódio por dia, o médico me disse que, no ritmo que vai, meu coração vai colapsar até o final do mês, eu nem sei se rezo ou choro.

Meu médico quer que eu vá a São José do Rio Preto, no HB, fazer alguns exames específicos para ver se não tem como aumentar a carga e assim me dar mais alguns meses de vida. Não sei se quero ir depois que tomo o choque, meu corpo fica mole e agora vão aumentar a carga. Como vou suportar?

Mas minha mãe não desiste, quer que eu vá de qualquer jeito, meus irmãos fazem coro com ela, não conseguem aceitar que meu fim está próximo.

A vi chegando, o que será que quer aqui na oficina em pleno meio-dia?

— Filho, o HB, ligou e marcou sua consulta para a semana que vem, na segunda-feira. Eu já liguei no aeroporto e comprei sua passagem para sábado de manhã.

— Por que a senhora não marcou para domingo? Vou ficar um dia e meio em Rio Preto sem ter nada para fazer.

— Não tinha vaga, parece que está tendo um simpósio médico e todos vão estar indo embora no final de semana.

— Que legal, vou em um voo cheio de médicos.

— Veja pelo lado bom, se você tiver algum problema, eles vão saber te acudir.

 — Nossa! Agora fiquei super animado.

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Comments

Ana

Ana

já estou amando😍

2025-04-28

3

Amélia Rabelo

Amélia Rabelo

começando a ler 27 04 2025

2025-04-28

2

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