Suas chances são minimas.

“José”

Segunda-feira, levantei e fui ao consultório do doutor Euryclides de Jesus Zerbini e da doutora Amarantha Savóia.

Deve ser dois velhos chatos, porque me mandaram chegar antes do horário porque eles não gostam de atrasos.

Quem veio falar comigo foi o doutor, aparentemente a doutora teve alguma coisa mais importante que a minha vida para resolver, talvez a vida de algum ricaço.

— Olha, José, seu caso é grave, nós vamos fazer um procedimento para que seu coração aguente mais um pouco e vamos acionar todos os bancos de doadores.

— Doutor, o senhor acha que tenho quanto tempo de vida?

— É difícil de dizer, talvez você saia daqui e viva um ano sem ter problemas, e talvez saia e tenha uma crise bem aqui na porta.

— Então, acho melhor eu ir para casa e ficar com minha família.

— Faça isso e fique preparado, qualquer novidade, mandamos te buscar com urgência.

— Vou ser operado aqui?

— Não, a PUCPR tem uma sala preparada para a cirurgia. Se aparecer um doador, operamos lá em sua cidade mesmo, vai ser melhor para sua recuperação estar perto da família.

— Sei que parece horrível perguntar isso, mas é muito difícil conseguir um doador?

— Para você, temos a particularidade do seu sangue AB negativo só 1% da população mundial tem esse tipo sanguíneo.

— Isso quer dizer que tenho que rezar para uma pessoa desse 1% morrer?

O médico começou a rir.

— Sim, mas não se esqueça de que tem que ser uma morte limpa, a pessoa não pode estar com nenhuma infecção e nem ter doença cardíaca.

— Vou me lembrar de colocar em minhas orações.

Acabamos a consulta e fui direto para a parte de internação porque vou passar por um procedimento para fortalecer o aparelho que me dá choque e depois vou em casa esperar minha morte.

“Segunda-feira, após o noivado, e uma semana de folga”.

— Vamos, Arthur, temos que voltar a trabalhar.

— Calma, Amara, vamos tomar banho, depois começamos nossa semana super agitada.

Fui com meu noivo, tomamos banho e fizemos amor, nos trocamos e quando íamos descer meu celular tocou.

— Vai, querido, vou atender minha mãe e já desço.

Arthur voltou e me deu um beijo.

— Nunca se esqueça de que eu te amo.

Fiquei ali olhando ele entrar no elevador e parece que tem uma força me mandando ir com ele, mas dei tchau e comecei a falar com minha mãe.

Acabei meu assunto e o elevador já tinha chegado, fechei a porta do apartamento, com meu celular em uma mão e o notebook na outra, desci.

Quando cheguei na portaria tinha uma movimentação estranha, passou uma moça chorando por mim e meu porteiro veio com uma cara desolada falar comigo.

— Senhorita, vem sentar aqui.

— Seu Marcos, eu preciso ir trabalhar, o que está acontecendo?

— Aconteceu um atropelamento aqui na frente.

— Quem foi atropelado? Fala logo.

— Seu Arthur, os paramédicos estão com ele.

Eu já não escutei mais nada, sai pela porta e cheguei perto de onde estão os paramédicos atendendo meu Arthur.

Fui chegando e vi a cabeça afundada.

Colocaram-no na maca e me pediram licença para colocá-lo na ambulância, eu falei.

— Vão para o Hospital de Base, ele é médico lá.

— A senhora vai conosco?

— Vou, sou noiva dele.

Subi na ambulância e os vi fazendo a respiração mecânica, e só consigo ouvir os batimentos do coração de Arthur.

Desci já avisando quem está na ambulância, e assim vários médicos amigos nossos vieram tentar ajudar.

A doutora Ana me ajudou, me levou para o consultório dela e começou a falar comigo, nem sei se respondi, minha mente está ouvindo o coração dele batendo.

— Amara, fica aqui que vou lá saber notícias.

Balancei a cabeça e fiquei esperando, mas sou médica, já vi muita coisa e sei que meu amor foi embora.

A doutora Ana veio e sentou na minha frente.

— Precisamos conversar, Arthur se foi, eu sei que a dor é muito grande, mas temos que resolver a doação dos órgãos.

— Ele era doador e sempre disse que, se acontecesse algo com ele, era para deixá-lo salvar o maior número de pessoas que ele poderia. Vou me preparar e vou fazer a retirada dos órgãos.

— Tem certeza disso? Deixa outro médico fazer.

— Devo isso a ele, vou ajudá-lo até o último momento.

E assim me arrumei e fui para o centro cirúrgico, os órgãos dele são valiosos devido ao seu sangue AB negativo. Já virou uma correria no Hospital verificando os possíveis receptores porque temos 4 a 6 horas para fazer os transplantes.

**No Paraná

— Seu José Soares, aqui é do hospital, venha para cá agora que conseguimos um doador compatível. Sua cirurgia será assim que o coração chegar aqui.

Fiquei meio paralisado, desliguei o aparelho e minha mãe me perguntou.

— Fala, José, o que aconteceu?

— Apareceu um doador, vou ser operado daqui a pouco.

— E você está esperando o quê? Vamos para o hospital.

Saí de casa e fui nascer de novo, entrei no hospital morrendo e sai 15 dias depois com um coração que parece cantar no meu peito de tanto que bate.

Acho que o dono devia ser músico, porque ele bate ritmado e forte. Eu era acostumado com o meu podrão que batia devagar, agora esse parece que me faz querer sair dançando.

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Comments

Amélia Rabelo

Amélia Rabelo

poxa que tragédia com esse homem tão apaixonado

2025-04-28

2

Maria Oliveira Poranga

Maria Oliveira Poranga

🥺🥺doação órgão e ato muito lindo , triste ao msm tempo

2025-04-29

3

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