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Meu Coração É Seu

Minha vida perfeita

— Arthur, levanta, vamos chegar atrasados.

— Amara, temos tempo para a sua cirurgia, está marcada para às 10:00.

— Para você, tudo parece fácil, eu tenho que chegar para verificar se a sala está pronta, se ninguém esqueceu nenhum detalhe, porque quando o doutor chega, ele não quer saber se me atrasei porque estava na cama com meu noivo.

— Já te falei, vem trabalhar comigo na cirurgia geral que a pressão vai ser menor e você vai poder dar mais atenção ao seu noivo.

 — Gosto do que faço, amo você, meu querido doutor, mas não tem a possibilidade de eu sair do meu lugar para trabalhar com você.

— Eu tentei, você gosta do estresse que o doutor iceberg te causa.

— Deixa-o saber que você o chama assim.

Amaranta Savóia, loira, olhos verdes, é considerada um prodígio na sua área. 

Entrou na faculdade de medicina aos 14 anos, precisou de uma decisão judicial para autorizar sua proficiência educacional.

Assim, quando completou 20 anos, já estava formada e sendo assistente do melhor médico de transplante cardíaco do país, Dr. Euryclides de Jesus Zerbini

Está noiva do Dr.Arthur Mikhailov, moreno, olhos negros e expressivos, russo por nacionalidade, mas preferiu vir morar no Brasil depois que conheceu Amarantha em um simpósio de medicina em Sergipe. 

Cirurgião clínico por preferência e apaixonado pela namorada, 26 anos de pura saúde e tem um lema: a vida é muito curta para ficar pensando, trabalhar é bom, mas viver é ainda melhor.

Faz o trabalho com perfeição, mas não abre mão do seu lazer e bem-estar.

— Amara, você sabe que depois que se casar comigo, vai ter que diminuir esse seu nível de trabalho, vou querer te levar conhecer minha família e o meu país.

— Tudo bem, Arthur, podemos falar sobre isso de noite? Agora realmente preciso ir para o hospital.

— Vamos, senhora Doutora, seu paciente te espera.

Nos trocamos e saímos. Chegamos ao hospital, faltavam dez minutos para as 09:00. Eu já ia escapando dele, mas me segurou e me fez ir tomar um cappuccino e comer um pão na chapa.

— Arthur, estou atrasada, o transplante não é como o resto do hospital, nós temos horários rígidos.

— Vai comer antes de assumir seu plantão porque depois você nem vai lembrar de vir aqui fora.

Sentei-me com ele e devorei meu pão e o copo de cappuccino porque sei que ele tem razão. Só sairei lá de dentro a tarde, depois que o paciente já estiver em recuperação na UTI, isso se não tiver que virar a noite cuidando do bem-estar do transplantado.

Acabei de comer, dei um beijo em meu amor e fui assumir meu plantão.

No final do mês ficaremos noivos oficialmente, organizamos uma festa para os amigos mais próximos e ele me fez jurar que vou tirar uma semana de folga para ficar com ele, ainda não falei para meu chefe.

Temos várias cirurgias programadas e fora as pessoas que estão na fila esperando transplante, que a cirurgia acontece de repente, mas sei que meu noivo merece que eu dê um pouco de atenção para ele, meu russo querido.

Cheguei no meu setor, verifiquei a sala e os instrumentos e fui me preparar. Como sou a segunda no comando, estou sempre ao lado do cirurgião.

Hoje a cirurgia é em uma menina de 10 anos, a cardiopatia foi descoberta e vamos fazer a cirurgia de correção.

Costuma ser uma cirurgia tranquila, mas estamos lidando com seres humanos e tudo pode acontecer.

Dr. Euryclides sempre foi muito cordial comigo.

— Doutora, você fica melhor a cada dia, a cirurgia foi perfeita.

— O mérito é todo do senhor doutor, eu só sou sua assistente.

— Quem vê pensa, foi você quem fez praticamente toda a cirurgia da garota. Olha, na próxima semana tem um simpósio na PUCPR e eu quero que você vá me representando.

— Doutor, eu vou ficar noiva no final da próxima semana, não tem como o senhor mandar outra pessoa em meu lugar?

— Não tem, você é meu braço direito e são três apresentações, terça em Curitiba, quarta em Londrina e quinta em Toledo. Na sexta-feira, você estará vindo embora, você vai chegar em tempo para seu noivado.

— Tudo bem, eu vou, mas na próxima semana quero inteira de folga.

— Inteira? Mas e se tiver algum transplante?

 — Venho, se for um transplante, não tem como prever.

— Certo, eu te dou a sua semana de folga, espero que você me represente muito bem lá no Paraná.

— Vou fazer o meu melhor.

— Muito bem, doutora, eu vou visitar os pacientes das alas e você fica aqui esperando nossa paciente voltar da anestesia.

— Pode deixar, doutor.

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“ Em um hospital da PUC PR. Seis meses antes.”

— Seu José, recebemos os resultados dos seus exames e seu coração está falhando.

— Como assim, doutor? O que tem meu coração?

— O senhor tem uma doença cardíaca grave, esses sintomas que o senhor vem sentindo são devido às falhas do seu coração.

— Isso quer dizer o quê? Me explica melhor.

— Seu coração pode parar a qualquer momento, seu caso é grave. Vamos te colocar na fila do transplante o mais urgente possível.

— O senhor está me dizendo que vou ter que rezar para alguém morrer para eu poder viver? Quanto tempo tenho de vida sem o transplante?

— Talvez um ano, vamos te colocar um, marca passo porque seu coração vai começar a falhar e o marca passo vai te dar um choque, fazendo ele voltar a bater. Vai nos dar algum tempo, mas não muito.

 — Eu não estou acreditando, sempre fui devoto e fiel à minha religião, por que isso aconteceu logo comigo?

— Essas coisas não têm explicação, o senhor deve alertar sua família, porque se o senhor desmaiar, eles devem saber o que fazer.

— E o que vão fazer? Pagar a funerária e esperar minha morte?

— Se Deus achar que você deve viver, vai aparecer um coração para colocarmos em você.

 — Eu não consigo me sentir confortável com essa situação, não tem como rezar para que alguém morra.

— Seu José, morrem pessoas todos os dias, o senhor só tem que rezar para uma delas ser compatível com o senhor e não pedir a morte de alguém.

— Vou tentar me concentrar nesse pensamento.

Saí do hospital e tenho que ir em casa contar para minha mãe que vou morrer, nem sei como fazer isso. Sempre fomos só ela, eu e meus irmãos, eu sempre achei que ia ser eu a enterrá-la quando ela completasse uns 120 anos, mas agora parece que bom vai ser ao contrário, meus irmãos têm as famílias deles, mas vão ter que me ajudar com ela.

Cheguei em casa e minha mãe abre um sorriso caloroso. Ela é costureira, nunca está sozinha, sempre tem uma cliente experimentando as roupas que ela faz, mas hoje eu precisava que tivesse alguém aqui para eu ter mais tempo para ver como vou falar o que se passa, mas ela está sozinha.

Cheguei e não aguentei, abracei minha mãe e chorei.

D. Isabella Soares, viúva, 55 anos, italiana, estourada e apaixonada pelos filhos.

— Filho, me conta o que está acontecendo, por que você está assim?

— Mãe, eu fui fazer alguns exames e descobri que meu coração está fraco.

— E o que o médico disse que vai ser feito? Você vai precisar operar? Tem tratamento?

— Vão colocar um marcapasso em mim que vai ficar dando choque em meu coração para ele não parar, ele tem que aguentar até arrumarem outro coração.

— Você vai precisar de um transplante, Dio Santo?

— Vou, mãe, estou desesperado pensando no que fazer, vou ter que esperar que alguém morra para que eu possa viver, estou me sentindo um urubu atrás da carniça.

— Não é uma situação boa, mas seu coração continua batendo e você continua aqui comigo, Deus e Nossa Senhora vão nos ajudar.

— O médico pediu para eu te orientar, porque se eu desmaiar, a senhora não deve encostar em mim.

— Por que eu não posso te tocar?

— Porque estará passando uma corrente elétrica pelo meu corpo e quem tocar também vai sentir.

— Vamos passar por isso juntos, meu filho lindo, vamos conseguir, precisamos chamar seus irmãos, todos vamos te ajudar.

Eu não consegui falar para ela que só tenho seis meses de vida, a abracei e fiquei ali curtindo o carinho da minha mãe.

Deixei-a em casa e fui à minha oficina, porque não vou parar de trabalhar, tenho cinco funcionários que dependem do serviço.

Cheguei e “sorriso” um moleque que tirei da rua veio falar comigo.

— Dunga, chegaram mais dois veículos e nós não conseguimos diagnosticar qual o problema deles.

— Vamos lá ver o que nossos pacientes têm.

— E como foi lá no médico? Vão reformar seu coração?

— Vão ter que trocá-lo, mas vai dar tudo certo.

— Se você quiser o meu, eu te dou, eu não sirvo para nada mesmo. Agora você ajuda todo mundo, faz o que pode pela comunidade, não pode morrer, não é justo.

— Sorriso, se Deus achar que devo viver, vai aparecer um coração novo para mim, mas vamos trabalhar enquanto podemos. Olha, se eu desmaiar, vou deixar um número escrito ali na lousa. Vocês chamam, eles não encostem em mim.

— Por quê? Vamos ter que te deixar morrer no chão frio.

— Porque os médicos colocaram um aparelho em mim que, cada vez que meu coração parar, vai me dar um choque no corpo para obrigá-lo a voltar a bater, e quem encostar em mim também vai tomar o choque.

— Não encostar em você, ligar no telefone que eles vêm te buscar.

Os meses foram passando, depois daquele dia já foram vários episódios. Desmaio e acordo no hospital, do mês passado para cá a coisa está ficando mais grave, estou tendo um episódio por dia, o médico me disse que, no ritmo que vai, meu coração vai colapsar até o final do mês, eu nem sei se rezo ou choro.

Meu médico quer que eu vá a São José do Rio Preto, no HB, fazer alguns exames específicos para ver se não tem como aumentar a carga e assim me dar mais alguns meses de vida. Não sei se quero ir depois que tomo o choque, meu corpo fica mole e agora vão aumentar a carga. Como vou suportar?

Mas minha mãe não desiste, quer que eu vá de qualquer jeito, meus irmãos fazem coro com ela, não conseguem aceitar que meu fim está próximo.

A vi chegando, o que será que quer aqui na oficina em pleno meio-dia?

— Filho, o HB, ligou e marcou sua consulta para a semana que vem, na segunda-feira. Eu já liguei no aeroporto e comprei sua passagem para sábado de manhã.

— Por que a senhora não marcou para domingo? Vou ficar um dia e meio em Rio Preto sem ter nada para fazer.

— Não tinha vaga, parece que está tendo um simpósio médico e todos vão estar indo embora no final de semana.

— Que legal, vou em um voo cheio de médicos.

— Veja pelo lado bom, se você tiver algum problema, eles vão saber te acudir.

 — Nossa! Agora fiquei super animado.

Tenho medo de avião

“Amara”

Acabei meu plantão e sai me preparando para contar para Arthur que vou viajar a semana que vem quase inteira e só volto no dia da nossa festa de noivado.

Sei que ele vai ficar bravo, mas é minha profissão. Se ele não quer ter uma especialidade, eu posso entender, mas quero ter e assim poder salvar vidas.

Vi-o com aquele sorriso que me aquece a alma e eu esqueço toda a minha canseira do dia, meu coração explode de tanto amor, esse homem é tudo de bom, meu companheiro para a vida inteira.

Cheguei, dei um beijo nele e saímos abraçados.

— Você está tensa, o que aconteceu?

— Não é nada de mais, eu só vou ter que fazer uma viagem na próxima semana.

— Para onde você vai? E o nosso noivado, será que nem no dia de nosso noivado não vou ter você comigo?

— Vou à faculdade do Paraná dar uma palestra.

Vi que Arthur ficou calado demais, no que será que ele está pensando?

— Você continua tensa, qual a parte que você não está me contando? Vou ter que pedir sua mão online? É isso, você não vai estar aqui para nossa festa de noivado?

— Vou, sim, amor, eu volto sexta-feira, vai dar tempo.

— Ufa, achei que ia ter uma mulher virtual.

— Não exagere, eu estou com você todo dia, moramos juntos, você também é médico, deveria me entender.

— Eu já te disse que trabalho para viver e não vivo para o trabalho, agora você está ficando obcecada e vai acabar me esquecendo no meio dessa sua correria.

— Eu te amo, Arthur, não me cobra assim, é minha profissão. Um transplante não pode esperar eu ter uma vida normal.

— É a minha também, mas temos prioridades diferentes. Sei que o transplante é diferente, é por isso que te pedi para vir trabalhar comigo, para você poder ter tempo para mim. Você salva a vida de muitas pessoas, mas está deixando a sua passar.

— Vamos ficar brigando o resto da noite?

— Claro que não, meu amor, minha vida, vamos fazer um amor louco para você não querer me trocar por algum doutor mais bonitão lá no Paraná.

— Eu já te disse, só tem lugar para uma pessoa em meu coração, para você, meu doutor bonitão.

— Virei um pavão ambulante, olha, minhas penas até brilham para você, e meu coração faz aquela batida diferente, amor.

— Isso é porque você tem uma arritmia.

— É nada, Deus sabia que eu precisava ter um coração diferente para você gostar logo de cara de mim.

Fomos para nosso apartamento e fizemos nosso amor nada louco, e fomos dormir, Arthur é minha praia deserta, é nos braços dele que acho a serenidade, meu mar sem ondas.

Os dias passaram e chegou a hora de viajar. Odeio avião, mas é o melhor jeito de viajar.  Então, Arthur está comigo no aeroporto esperando dar a hora de embarcar. Quando anuncia o voo, abraço meu noivo, me despeço e, antes de ir, ele me dá o bombom.

— Segure-o na sua mão que vou estar com você até o avião pousar.

Subi no avião, comi o bombom e fiquei com o papel na mão.

Tenho um toque, fico amassando a embalagem, assim me sinto confiante e não surto no avião, 03:30 depois e estou descendo no aeroporto sem problemas, já tem uma pessoa da PUC me esperando e me leva para o hotel, me dá um vale para eu pegar um veículo para que eu possa me locomover entre as cidades, são três cidades, três dias e depois tenho que voltar aqui para devolver o veículo e pegar meu avião de volta.

“Amara”

Fiz a última palestra e já fui para o refeitório almoçar, para pegar a estrada de Toledo a Curitiba. São 07:12 minutos de viagem. Se eu conseguir comer e sair perto do meio-dia, vou chegar às 19:00, dará tempo para tomar banho, jantar e descansar para pegar meu voo para Rio Preto de manhã.

Mas nada pode ser fácil para mim, são 20:00 e continuo na estrada, peguei muita chuva e tive que viajar mais devagar. Pelos meus cálculos, vou chegar de madrugada, já me irritei, não consegui falar com Arthur.

Não sei se está tudo organizado e continuo com fome, só espero que pelo menos dê tempo de chegar no aeroporto em tempo de pegar meu voo.

Cheguei no hotel já eram 05:00 da manhã, não dá mais tempo de tomar banho, subi, arrumei minha mala, desci, fiz o check out, avisei a empresa que me alugou o automóvel para buscá-lo no aeroporto.

Passei na mesa do café da manhã, peguei uma fruta e fui antes que acontecesse algo e eu perco o voo.

Cheguei no aeroporto em tempo, coloquei minha mala de onça inconfundível na esteira e já fui para a fila de embarque, comecei a ouvir as conversas ao meu redor e a maioria são médicos que vieram ao simpósio.

Subi no avião e quando cheguei na minha poltrona tinha um homem grande sentado na poltrona do corredor, vou sentada ao lado dele.

Pedi licença para que eu pudesse passar, mas não se mexeu, parece que não me escutou.

Cutuquei no ombro dele, que levantou a cabeça e me olhou com um par de olhos verdes que perdi até o ar.

— Preciso que o senhor me deixe passar.

Sem me dirigir a palavra, virou as pernas para o lado para que eu pudesse passar, sentei na minha poltrona e ele voltou a olhar para os papéis que estão na mão dele.

Peguei o papel do bombom que Arthur havia me dado e segurei na mão.

Quando o avião alçou voo, comecei a amassar o papel, fechei os olhos e foquei minha mente só no barulho do papel amassando, senti bater em meu ombro, abri os olhos e fiquei esperando.

— Pare de amassar esse papel.

Olhei para ele e para o papel em minha mão.

— Não posso.

— Esse barulho está me irritando os ouvidos.

 — Eu não posso parar, me desculpe.

Tentei voltar a minha bolha de segurança, mas o homem tirou o papel da minha mão, abri o olho e gritei com ele.

— Me devolve, eu preciso do meu papel.

— Por quê?

— Porque preciso, me devolve.

— Não precisa.

 — Preciso, sim, você não sabe nada de mim, me devolve meu papel.

Ele enfiou o papel no bolso, pegou minhas mãos que já estavam geladas e segurou.

— Respira junto comigo, puxe o ar, solte o ar.

Comecei a fazer e me perdi no mar esverdeado dos olhos dele e por incrível que pareça me acalmei.

— Se sente melhor, já percebi que suas mãos estão esquentando, é sinal que não vai ter um ataque de pânico.

— Muito obrigada, eu tenho medo de voar e o papel foi o melhor método que achei.

— De nada, já vamos pousar.

“José”

Cheguei no avião e resolvi ler meus documentos, senti bater em meu ombro e olhei para ver do que se tratava, tem uma mulher linda falando comigo.

Tirei o fone e ela queria passar, vai viajar na poltrona ao lado da minha, se eu não estivesse morrendo até que ia tentar falar com ela, mas na minha vida não cabe mais ninguém.

Ela sentou e vi que estava nervosa, pegou um papel de bombom e ficou segurando na mão.

Será que brigou com o namorado e esse foi o último bombom que ele lhe deu?

O avião alça voo e ela começou a amassar o papel, fechou os olhos e amassou. Aquele barulho começou a me incomodar.

Cutuquei no ombro dela e pedi para parar, me disse que não podia.

Vi ser um tipo de controle por fechar os olhos e começou de novo, tirei o papel da mão dela aí começou a gritar já descompensada, peguei suas mãos que estavam geladas de medo e segurei, pedi para me acompanhar na respiração e se acalmou, eu tive que me controlar para não dar um selinho naqueles lábios rosados, os olhos são verdes como os meus, mas parecem diferentes.

Antes de descer dei uma última olhada porque pode ser a última vez que vejo uma mulher tão linda, e saí do avião.

Você é um ladrão de bagagem?

Estou na esteira esperando minha mala inconfundível vir até mim, mas a loira do avião a pega primeiro.

— Ei, moça, espera.

— O que foi? Estou com pressa.

— Você pegou minha mala.

— Impossível, essa mala é minha.

Me olhou de cima a baixo e disse.

— Você não tem cara de andar com uma mala de onça por aí.

Repeti o que ela me falou no avião. 

— Você não me conhece, não sabe nada de mim, essa mala é minha. 

— Você é um ladrão de bagagem? Mude seus métodos, esse não vai colar.

— Senhorita, essa é minha mala, por favor me entregue.

Ele pegou na alça e eu no cadeado, virou quase um cabo de guerra. De repente, a mala se abre e voa roupa para todos os lados, vejo minha blusa de onça no chão.

Viro para ele convencida.

— Viu só, olha minha roupa aqui.

O vi olhando sério e olhei em minha mão e estou segurando uma cueca box, olho no chão e tem tudo, menos minhas roupas.

— Eu não sabia que minha cueca poderia virar uma blusa.

Resolvi fazer piada porque a situação ficou hilária.

— Você não sabia? É a última moda em Paris.

Ouvi me chamar, virei e Arthur veio com minha mala, joguei a cueca dele na mala e fechei com o pé.

— Amara, está tudo bem?

— Tudo bem-querido, vamos!

Cheguei perto do Arthur, dei um beijo e fui embora, que dia maluco.

— O que estava acontecendo ali?

— Achei que aquele moço estava com a minha mala e disputamos, estourei o zíper da mala dele e voou roupa masculina para todos os lados.

— Não acredito nisso, você, a mulher centrada pagando mico no aeroporto?

— Aconteceu Arthur e para de me zoar.

“José”

Cheguei na esteira para pegar minha mala, nunca poderia imaginar que existiria mais alguém no mundo que teria uma mala de onça. Minha mãe comprou pela internet e, quando resolvi aceitar ir até Rio Preto fazer os exames, ela me fez trazer sua mala da sorte.

Acho que deveria voltar para trás, porque não estou tendo sorte, primeiro a maluca senta perto de mim com aquele papel barulhento.

 Quando vou pegar minha mala, lá está a moça de novo alegando que roubei sua mala. O pior foi discutir comigo e esparramar minhas roupas por todo o terminal e sair com seu namorado como se fosse tudo muito normal.

Mas fiquei mais chateado mesmo foi com o beijo, o que eu queria era que uma mulher linda daquelas estaria sozinha, e nem se estivesse nunca daria bola para um mecânico.

Pode parar de sonhar, José, você está morrendo não deve se envolver com ninguém, muito menos com a louca do aeroporto, ela pode até ser meio doida, mas é muito bonita.

Peguei minhas coisas, chamei um Uber e fui para o hotel que fica ao lado do HB.

Amanhã de manhã é só descer e atravessar a rua e ir me consultar com mais um especialista, como se isso fosse mudar minha situação.

“Amara”

Fui para casa e foquei em meu noivo.

— Como está nossa festa?

— Coloquei sua mãe e sua amiga para me ajudar, já está tudo pronto. Só falta você se arrumar e ficar mais bonita do que já é em dizer sim.

— Vou pensar até amanhã, na hora da festa, se te direi sim ou não.

— Meu coração quase parou de medo agora.

Encostei minha mão no peito dele e conversei com o coração.

— Não precisa ficar com medo, meu coração é seu e de mais ninguém.

— Você voltou romântica, não vejo a hora de chegar em casa e ver até onde esse romantismo te atingiu.

— Eu estava falando com seu coração e não com você, acabou de cortar meu clima.

Chegamos em casa e matamos a saudade, me deitei no peito de Arthur e fiquei ouvindo o som do coração, isso sempre me acalmou.

Mas hoje sinto uma inquietação diferente, acho que é porque vou me ligar para sempre em Arthur e tenho medo de isso dar errado. Nossas prioridades são diferentes, mas, ao mesmo tempo, vivemos juntos há 4 anos e vem dando certo.

Temos nossas diferenças, mas sempre conseguimos achar um meio-termo.

Chegou o dia, minha mãe e minha melhor amiga vieram me buscar para ir para o salão.

Nos divertimos, Mirella consegue tirar piada até de coisa séria, imagina quando contei dos acontecimentos no aeroporto.

— Minha amiga, se você não estivesse ficando noiva do príncipe dos príncipes, eu ia te dizer para ir atrás do homem do aeroporto.

— Ele era só um homem errado na hora errada.

— Ele não me pareceu tão errado, conseguiu fazer você ficar em um avião sem aquela mania chata de amassar papel.

— Vamos parar de falar dele, eu quero falar do meu noivado, o que vocês organizaram?

— Minha filha, você vai adorar, seu noivo é muito romântico, até uma dança ele preparou.

— Vocês não o deixaram fazer muita loucura?

— Claro que não, só coisas boas.

A noite chegou e a festa, que era para ser só para os íntimos, acho que tem umas 100 pessoas.

Vi meu noivo lindo em um terno preto, como diz minha amiga um príncipe russo.

— Você está maravilhosa, minha noiva.

Fiquei sem graça com o elogio dele mesmo ele fazendo isso todo dia, acho que é porque tem 100 pessoas esperando minha resposta.

— Você, que é um príncipe, me vesti a sua altura alteza.

Fiz uma reverência, Arthur me pegou pela mão e saímos cumprimentando e conversando com todos os convidados.

Em um certo momento da noite Arthur me levou ao centro do salão, as luzes se apagaram e ficou claro só onde nós dois estávamos, meu príncipe galante, ajoelhou e me fez o pedido.

— Minha linda princesa, aceita esse homem cheio de imperfeições como seu marido?

— Quem está cheia de imperfeições sou eu, você é perfeito, “sim” eu aceito, meu querido, meu amor.

E como toda vez que fazemos uma declaração um ao outro, terminamos com a frase.

“Meu coração é seu”

E colocamos a mão um no coração do outro.

Arthur me deu um beijo e a valsa começou a soar.

— Hoje vamos dançar aqui, a próxima será nos pés da torre Eiffel em Paris, na nossa lua de mel.

Não vou pensar nisso agora, só vou curtir o momento, meu noivo lindo na minha frente e todos apaixonados por nós como casal.

Curti minha semana de folga, Arthur alugou um chalé em uma pousada, eu quase enlouqueci porque não tinha internet e nem torre.

— Arthur, se algo acontecer e o hospital precisar de mim, como vão falar comigo?

— Não vão e com certeza vão arrumar um jeito de fazer o seu serviço sem você estar lá, vem aqui namorar comigo.

— Não vou, estou nervosa com você.

— Vem aqui, meu amor, escuta meu coração te chamando. Tum, tum, tum!

Comecei a rir porque ele sabe como me dobrar, fui até ele e me deitei em seu peito.

— Estou aqui, querido coração, não precisa ficar tenso.

— Hum, já entendi tudo. Você gosta só do meu coração.

— Demorou para você enxergar isso, você é só o invólucro do meu amor.

Começamos a rir e assim curtimos uma semana incrível.

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