“Amara”
Acabei meu plantão e sai me preparando para contar para Arthur que vou viajar a semana que vem quase inteira e só volto no dia da nossa festa de noivado.
Sei que ele vai ficar bravo, mas é minha profissão. Se ele não quer ter uma especialidade, eu posso entender, mas quero ter e assim poder salvar vidas.
Vi-o com aquele sorriso que me aquece a alma e eu esqueço toda a minha canseira do dia, meu coração explode de tanto amor, esse homem é tudo de bom, meu companheiro para a vida inteira.
Cheguei, dei um beijo nele e saímos abraçados.
— Você está tensa, o que aconteceu?
— Não é nada de mais, eu só vou ter que fazer uma viagem na próxima semana.
— Para onde você vai? E o nosso noivado, será que nem no dia de nosso noivado não vou ter você comigo?
— Vou à faculdade do Paraná dar uma palestra.
Vi que Arthur ficou calado demais, no que será que ele está pensando?
— Você continua tensa, qual a parte que você não está me contando? Vou ter que pedir sua mão online? É isso, você não vai estar aqui para nossa festa de noivado?
— Vou, sim, amor, eu volto sexta-feira, vai dar tempo.
— Ufa, achei que ia ter uma mulher virtual.
— Não exagere, eu estou com você todo dia, moramos juntos, você também é médico, deveria me entender.
— Eu já te disse que trabalho para viver e não vivo para o trabalho, agora você está ficando obcecada e vai acabar me esquecendo no meio dessa sua correria.
— Eu te amo, Arthur, não me cobra assim, é minha profissão. Um transplante não pode esperar eu ter uma vida normal.
— É a minha também, mas temos prioridades diferentes. Sei que o transplante é diferente, é por isso que te pedi para vir trabalhar comigo, para você poder ter tempo para mim. Você salva a vida de muitas pessoas, mas está deixando a sua passar.
— Vamos ficar brigando o resto da noite?
— Claro que não, meu amor, minha vida, vamos fazer um amor louco para você não querer me trocar por algum doutor mais bonitão lá no Paraná.
— Eu já te disse, só tem lugar para uma pessoa em meu coração, para você, meu doutor bonitão.
— Virei um pavão ambulante, olha, minhas penas até brilham para você, e meu coração faz aquela batida diferente, amor.
— Isso é porque você tem uma arritmia.
— É nada, Deus sabia que eu precisava ter um coração diferente para você gostar logo de cara de mim.
Fomos para nosso apartamento e fizemos nosso amor nada louco, e fomos dormir, Arthur é minha praia deserta, é nos braços dele que acho a serenidade, meu mar sem ondas.
Os dias passaram e chegou a hora de viajar. Odeio avião, mas é o melhor jeito de viajar. Então, Arthur está comigo no aeroporto esperando dar a hora de embarcar. Quando anuncia o voo, abraço meu noivo, me despeço e, antes de ir, ele me dá o bombom.
— Segure-o na sua mão que vou estar com você até o avião pousar.
Subi no avião, comi o bombom e fiquei com o papel na mão.
Tenho um toque, fico amassando a embalagem, assim me sinto confiante e não surto no avião, 03:30 depois e estou descendo no aeroporto sem problemas, já tem uma pessoa da PUC me esperando e me leva para o hotel, me dá um vale para eu pegar um veículo para que eu possa me locomover entre as cidades, são três cidades, três dias e depois tenho que voltar aqui para devolver o veículo e pegar meu avião de volta.
“Amara”
Fiz a última palestra e já fui para o refeitório almoçar, para pegar a estrada de Toledo a Curitiba. São 07:12 minutos de viagem. Se eu conseguir comer e sair perto do meio-dia, vou chegar às 19:00, dará tempo para tomar banho, jantar e descansar para pegar meu voo para Rio Preto de manhã.
Mas nada pode ser fácil para mim, são 20:00 e continuo na estrada, peguei muita chuva e tive que viajar mais devagar. Pelos meus cálculos, vou chegar de madrugada, já me irritei, não consegui falar com Arthur.
Não sei se está tudo organizado e continuo com fome, só espero que pelo menos dê tempo de chegar no aeroporto em tempo de pegar meu voo.
Cheguei no hotel já eram 05:00 da manhã, não dá mais tempo de tomar banho, subi, arrumei minha mala, desci, fiz o check out, avisei a empresa que me alugou o automóvel para buscá-lo no aeroporto.
Passei na mesa do café da manhã, peguei uma fruta e fui antes que acontecesse algo e eu perco o voo.
Cheguei no aeroporto em tempo, coloquei minha mala de onça inconfundível na esteira e já fui para a fila de embarque, comecei a ouvir as conversas ao meu redor e a maioria são médicos que vieram ao simpósio.
Subi no avião e quando cheguei na minha poltrona tinha um homem grande sentado na poltrona do corredor, vou sentada ao lado dele.
Pedi licença para que eu pudesse passar, mas não se mexeu, parece que não me escutou.
Cutuquei no ombro dele, que levantou a cabeça e me olhou com um par de olhos verdes que perdi até o ar.
— Preciso que o senhor me deixe passar.
Sem me dirigir a palavra, virou as pernas para o lado para que eu pudesse passar, sentei na minha poltrona e ele voltou a olhar para os papéis que estão na mão dele.
Peguei o papel do bombom que Arthur havia me dado e segurei na mão.
Quando o avião alçou voo, comecei a amassar o papel, fechei os olhos e foquei minha mente só no barulho do papel amassando, senti bater em meu ombro, abri os olhos e fiquei esperando.
— Pare de amassar esse papel.
Olhei para ele e para o papel em minha mão.
— Não posso.
— Esse barulho está me irritando os ouvidos.
— Eu não posso parar, me desculpe.
Tentei voltar a minha bolha de segurança, mas o homem tirou o papel da minha mão, abri o olho e gritei com ele.
— Me devolve, eu preciso do meu papel.
— Por quê?
— Porque preciso, me devolve.
— Não precisa.
— Preciso, sim, você não sabe nada de mim, me devolve meu papel.
Ele enfiou o papel no bolso, pegou minhas mãos que já estavam geladas e segurou.
— Respira junto comigo, puxe o ar, solte o ar.
Comecei a fazer e me perdi no mar esverdeado dos olhos dele e por incrível que pareça me acalmei.
— Se sente melhor, já percebi que suas mãos estão esquentando, é sinal que não vai ter um ataque de pânico.
— Muito obrigada, eu tenho medo de voar e o papel foi o melhor método que achei.
— De nada, já vamos pousar.
“José”
Cheguei no avião e resolvi ler meus documentos, senti bater em meu ombro e olhei para ver do que se tratava, tem uma mulher linda falando comigo.
Tirei o fone e ela queria passar, vai viajar na poltrona ao lado da minha, se eu não estivesse morrendo até que ia tentar falar com ela, mas na minha vida não cabe mais ninguém.
Ela sentou e vi que estava nervosa, pegou um papel de bombom e ficou segurando na mão.
Será que brigou com o namorado e esse foi o último bombom que ele lhe deu?
O avião alça voo e ela começou a amassar o papel, fechou os olhos e amassou. Aquele barulho começou a me incomodar.
Cutuquei no ombro dela e pedi para parar, me disse que não podia.
Vi ser um tipo de controle por fechar os olhos e começou de novo, tirei o papel da mão dela aí começou a gritar já descompensada, peguei suas mãos que estavam geladas de medo e segurei, pedi para me acompanhar na respiração e se acalmou, eu tive que me controlar para não dar um selinho naqueles lábios rosados, os olhos são verdes como os meus, mas parecem diferentes.
Antes de descer dei uma última olhada porque pode ser a última vez que vejo uma mulher tão linda, e saí do avião.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Iraci Zay
não gostei que o namorado dela vai morrer 😔😔
2025-04-28
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