“Entre o Doce e o Veneno”
O relógio marcava 07:13 da manhã. SN ajeitava os livros na mochila com cuidado, vestida com o uniforme escolar impecável. Os cabelos estavam presos em um coque rápido, e os óculos escorregavam um pouco no nariz. Apesar da rotina cansativa, ela ainda fazia questão de cumprir tudo direitinho.
Ela olhou para o sofá da sala, onde Saehee estava jogada, deitada de qualquer jeito, com olheiras profundas e cheiro de soju ainda fresco no ar.
— Saehee... vamos pra escola, — SN falou baixinho, com a voz gentil de sempre, mas com uma pontinha de medo.
— A aula já vai começar.
Antes que Saehee respondesse, a mãe surgiu da cozinha com um cigarro na mão e a paciência já desgastada.
— Você tem que ir, Saehee. Não vou te deixar em casa dormindo como vagabunda enquanto a SN se esforça pra ser alguém nessa vida.
O silêncio que se seguiu foi cortado pela risada seca e debochada de Saehee.
Ela se levantou devagar, o olhar vazio, mas cheio de veneno.
— Ah, claro. A perfeitinha quer que eu vá pra escola agora, né? Vai estudar mais um pouco, SN, talvez assim você aprenda a ficar calada. — ela cuspiu as palavras como quem joga pedras.
— E você, mãe, finge mais um pouco que se importa, talvez um dia convença alguém.
SN engoliu seco. Ela já devia estar acostumada, mas sempre doía.
Saehee pegou a jaqueta jogada no chão, passou por elas como se não significassem nada, e saiu batendo a porta.
SN ficou parada, segurando a alça da mochila com força, como se aquilo pudesse manter o mundo de pé.
E esse era só o começo
Saehee levantou-se de maneira desajeitada, a jaqueta caindo sobre seus ombros, e olhou para SN com um sorriso sarcástico.
— Ok, vamos pra escola... Mas antes, quero pegar uma coisa na casa de um amigo. Vamos pro carro. — sua voz era ríspida, sem a mínima preocupação em disfarçar a hostilidade.
SN, com a cabeça baixa, obedeceu em silêncio e seguiu Saehee até o carro. Antes de entrar, ela se lembrou de algo.
— Espera, preciso pegar meu celular. — disse ela, voltando rapidamente para a casa. O silêncio que ficou entre elas parecia mais opressor do que nunca.
Quando SN entrou no carro, encontrou Saehee já no banco do motorista, os olhos vagos, mas com um toque de malícia.
Saehee olhou para ela de canto e, com um tom cruel, falou:
— Você não pode ser bonita, SN. Tira essa maquiagem horrível e coloca os óculos que eu te dei. Eu sou a única que pode ser bonita e bela nessa família.
SN baixou a cabeça, tentando esconder o desconforto, e falou baixinho:
— Eu sei, Saehee...
Elas seguiram em direção à casa do namorado de Saehee. O carro parou em frente a um prédio simples, mas com a música e o barulho vindo de dentro, era claro que ali a vida era diferente da sua. SN ficou esperando do lado de fora, encostada no carro, tentando não dar muita atenção ao que estava acontecendo ao redor.
Momentos depois, Saehee apareceu com uma expressão de quem já estava cansada de tudo. O namorado dela, um cara com o estilo agressivo de quem vive para a diversão, estava lá, encostado na porta.
— Ei, quem é a nerd no carro? — ele zombou ao ver SN esperando sozinha.
Saehee, com um sorriso debochado, respondeu:
— Ela quer ir pra escola, claro. Não sei porque você ainda a chama de nerd. Ela nem se importa com isso.
O namorado riu e, sem mais palavras, entrou em casa.
Enquanto isso, SN ficou ali, o desconforto crescente em seu peito. Ela sabia que mais uma vez ia ter que carregar o peso daquilo tudo, e Saehee parecia estar cada vez mais distante.
Minutos depois, Saehee saiu com uma expressão entediada e jogou o cigarro fora.
— Vamos, SN. Vamos logo pra escola.
Mas SN não deixou de ser firme.
— Você não pode beber e fumar assim, Saehee. Você tem que me deixar na escola, e você nunca sabe dirigir direito.
Saehee a olhou com desprezo.
— Eu não vou pra escola. Você tinha a foto da matéria, não é? Manda pra mim depois, maninha.
Antes que SN pudesse dizer algo, o namorado de Saehee apareceu com uma proposta inesperada.
— Ei, garota, meu irmão pode te levar até a escola. Você vai me dever uma, hein. — ele sorriu de maneira provocante.
SN, surpresa com a oferta, respondeu com um tom de voz baixo, quase envergonhada.
— Claro, muito obrigado mesmo.
O irmão de namorado Saehee apareceu logo em seguida e, sem hesitar, entregou as chaves do carro.
— Leve ela até a escola. Só não se atrase.
SN entrou no carro, sentindo o alívio de finalmente estar indo para um lugar que era, pelo menos, um pouco mais pacífico do que sua casa.
O carro arrancou, e o destino parecia mais uma prisão do que um refúgio.
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Atualizado até capítulo 29
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