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“Entre o Doce e o Veneno”

Capítulo 1 – O Início do Peso

O relógio marcava 07:13 da manhã. SN ajeitava os livros na mochila com cuidado, vestida com o uniforme escolar impecável. Os cabelos estavam presos em um coque rápido, e os óculos escorregavam um pouco no nariz. Apesar da rotina cansativa, ela ainda fazia questão de cumprir tudo direitinho.

Ela olhou para o sofá da sala, onde Saehee estava jogada, deitada de qualquer jeito, com olheiras profundas e cheiro de soju ainda fresco no ar.

— Saehee... vamos pra escola, — SN falou baixinho, com a voz gentil de sempre, mas com uma pontinha de medo.

— A aula já vai começar.

Antes que Saehee respondesse, a mãe surgiu da cozinha com um cigarro na mão e a paciência já desgastada.

— Você tem que ir, Saehee. Não vou te deixar em casa dormindo como vagabunda enquanto a SN se esforça pra ser alguém nessa vida.

O silêncio que se seguiu foi cortado pela risada seca e debochada de Saehee.

Ela se levantou devagar, o olhar vazio, mas cheio de veneno.

— Ah, claro. A perfeitinha quer que eu vá pra escola agora, né? Vai estudar mais um pouco, SN, talvez assim você aprenda a ficar calada. — ela cuspiu as palavras como quem joga pedras.

— E você, mãe, finge mais um pouco que se importa, talvez um dia convença alguém.

SN engoliu seco. Ela já devia estar acostumada, mas sempre doía.

Saehee pegou a jaqueta jogada no chão, passou por elas como se não significassem nada, e saiu batendo a porta.

SN ficou parada, segurando a alça da mochila com força, como se aquilo pudesse manter o mundo de pé.

E esse era só o começo

Saehee levantou-se de maneira desajeitada, a jaqueta caindo sobre seus ombros, e olhou para SN com um sorriso sarcástico.

— Ok, vamos pra escola... Mas antes, quero pegar uma coisa na casa de um amigo. Vamos pro carro. — sua voz era ríspida, sem a mínima preocupação em disfarçar a hostilidade.

SN, com a cabeça baixa, obedeceu em silêncio e seguiu Saehee até o carro. Antes de entrar, ela se lembrou de algo.

— Espera, preciso pegar meu celular. — disse ela, voltando rapidamente para a casa. O silêncio que ficou entre elas parecia mais opressor do que nunca.

Quando SN entrou no carro, encontrou Saehee já no banco do motorista, os olhos vagos, mas com um toque de malícia.

Saehee olhou para ela de canto e, com um tom cruel, falou:

— Você não pode ser bonita, SN. Tira essa maquiagem horrível e coloca os óculos que eu te dei. Eu sou a única que pode ser bonita e bela nessa família.

SN baixou a cabeça, tentando esconder o desconforto, e falou baixinho:

— Eu sei, Saehee...

Elas seguiram em direção à casa do namorado de Saehee. O carro parou em frente a um prédio simples, mas com a música e o barulho vindo de dentro, era claro que ali a vida era diferente da sua. SN ficou esperando do lado de fora, encostada no carro, tentando não dar muita atenção ao que estava acontecendo ao redor.

Momentos depois, Saehee apareceu com uma expressão de quem já estava cansada de tudo. O namorado dela, um cara com o estilo agressivo de quem vive para a diversão, estava lá, encostado na porta.

— Ei, quem é a nerd no carro? — ele zombou ao ver SN esperando sozinha.

Saehee, com um sorriso debochado, respondeu:

— Ela quer ir pra escola, claro. Não sei porque você ainda a chama de nerd. Ela nem se importa com isso.

O namorado riu e, sem mais palavras, entrou em casa.

Enquanto isso, SN ficou ali, o desconforto crescente em seu peito. Ela sabia que mais uma vez ia ter que carregar o peso daquilo tudo, e Saehee parecia estar cada vez mais distante.

Minutos depois, Saehee saiu com uma expressão entediada e jogou o cigarro fora.

— Vamos, SN. Vamos logo pra escola.

Mas SN não deixou de ser firme.

— Você não pode beber e fumar assim, Saehee. Você tem que me deixar na escola, e você nunca sabe dirigir direito.

Saehee a olhou com desprezo.

— Eu não vou pra escola. Você tinha a foto da matéria, não é? Manda pra mim depois, maninha.

Antes que SN pudesse dizer algo, o namorado de Saehee apareceu com uma proposta inesperada.

— Ei, garota, meu irmão pode te levar até a escola. Você vai me dever uma, hein. — ele sorriu de maneira provocante.

SN, surpresa com a oferta, respondeu com um tom de voz baixo, quase envergonhada.

— Claro, muito obrigado mesmo.

O irmão de namorado Saehee apareceu logo em seguida e, sem hesitar, entregou as chaves do carro.

— Leve ela até a escola. Só não se atrase.

SN entrou no carro, sentindo o alívio de finalmente estar indo para um lugar que era, pelo menos, um pouco mais pacífico do que sua casa.

O carro arrancou, e o destino parecia mais uma prisão do que um refúgio.

Capítulo 2 – O Encontro de Almas Desgarradas

O carro parou em frente à escola, e SN desceu rapidamente, aliviada por finalmente estar em um lugar onde não seria ofendida por cada movimento que fizesse. Ela olhou para o irmão do namorado de Saehee, que a observava com uma expressão séria, mas algo em seus olhos parecia entender o peso que ela carregava.

Ele desligou o motor e virou-se para ela.

— Eu sei que sua irmã é cruel... — ele começou, seu tom de voz calmo, quase como se estivesse refletindo.

— Por que você não tenta falar com alguém da sua família sobre isso? Sua irmã é uma cobra venenosa. Não precisa ser assim.

SN ficou em silêncio por um momento, tentando processar as palavras dele. A dor que ela sentia era tão grande que, muitas vezes, ela se via sem forças para lutar contra isso. Ela sabia que Saehee era cruel, mas admitir isso em voz alta parecia ainda mais doloroso.

Ela olhou para o chão, como se as palavras dele tivessem batido de frente com a realidade que ela tinha tentado negar por tanto tempo.

— Eu... não sei o que fazer... — ela finalmente respondeu, a voz falhando um pouco.

— É difícil... ela sempre foi assim, e eu nunca consegui mudar nada.

Ele observou a fragilidade dela, como se estivesse vendo através das defesas que ela levantava. Talvez ele entendesse mais do que ela imaginava.

— Eu sou o Lucas, mas pode me chamar de Lucky. — ele disse, suavizando o tom, quase como se tentasse tranquilizá-la.

— Se precisar de uma carona amanhã ou de qualquer coisa, só me avisar. Aqui está meu número. — Ele entregou um pedaço de papel dobrado.

SN olhou para o número com um olhar desconfiado, mas algo dentro dela dizia que, talvez, ele fosse uma das poucas pessoas que realmente a ouviam.

— Obrigado... Lucky... Eu... vou pensar sobre isso. — ela respondeu, sorrindo levemente, embora ainda fosse difícil acreditar que alguém pudesse ser realmente amigável em sua vida.

Lucas sorriu, e antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele já estava indo embora, dirigindo-se de volta ao carro.

Ela ficou ali por um momento, o pedaço de papel ainda na mão, e se perguntou se esse dia poderia ser o começo de algo diferente. Algo que a fizesse parar de se sentir como se fosse a culpada por tudo.

SN entrou na sala de aula, seu coração ainda um pouco acelerado. Ela tentava disfarçar a confusão que sentia desde o encontro com Lucas, o irmão do namorado de Saehee. As palavras dele ainda ecoavam em sua cabeça, mas o som das conversas dos outros alunos logo a trouxe de volta à realidade.

Ela se dirigiu para sua mesa, onde sua amiga, Jiwon, já estava sentada, mexendo no celular.

Jiwon olhou para SN assim que ela entrou e, com um sorriso travesso, levantou uma sobrancelha.

— Uau, viúva! Você saiu de um carro agora? Quem é o gatinho? — Jiwon perguntou, a voz cheia de curiosidade.

O sorriso malicioso dela se alargou enquanto tentava pegar uma pista do que estava acontecendo.

SN, pego de surpresa, sentiu as bochechas queimarem instantaneamente. Ela abaixou a cabeça, envergonhada, sem saber como responder.

— O-que? Não é nada, Jiwon! — SN gaguejou, tentando controlar o rubor no rosto.

— Era... só o irmão do namorado da Saehee... — ela completou, com a voz baixa, quase como se estivesse tentando apagar a situação.

Jiwon, que não era boba, não pôde deixar de rir ao ver a expressão envergonhada de SN.

— Ahh, então é por isso... o "irmão do namorado". — Jiwon repetiu com um sorriso grande, ainda brincando com a situação.

— Não fica tímida agora, viu? Pelo jeito ele estava te levando para a escola... e olha, a cor da sua cara está dizendo tudo. Já estou começando a achar que tem algo mais aí.

SN ficou ainda mais vermelha e tentou mudar de assunto, mas Jiwon estava impossível. Ela não ia deixar a amiga escapar tão fácil dessa.

— Ai, não tem nada! Sério! — SN insistiu, mas o sorriso de Jiwon não diminuía.

No fundo, SN sabia que Jiwon estava apenas se divertindo, mas algo sobre aquele encontro com Lucky (ou Lucas, como ele se apresentou) fazia seu coração bater mais rápido. Não era só uma carona. Era como se fosse a primeira vez em muito tempo que alguém se preocupava com ela sem querer algo em troca.

Ainda assim, ela preferia deixar isso para depois.

Jiwon, percebendo que estava pressionando demais, sorriu de forma mais suave e tentou mudar o foco.

— Ok, ok... vamos deixar essa história pra lá. Mas... se você quiser contar depois, estou aqui, viu? — Jiwon piscou, voltando para sua rotina normal de tirar notas e mexer no celular.

SN, ainda sentindo o calor no rosto, se sentou e tentou focar no que realmente importava: as aulas. Mas, no fundo, a ideia de Lucas e as palavras dele ainda martelavam em sua cabeça.

Será que ele estava certo? Será que ela deveria tentar conversar mais sobre sua situação? Sobre o que estava acontecendo com sua irmã, com sua família?

O dia na escola mal tinha começado, mas para SN, parecia que algo grande estava prestes a mudar. E, por mais que ela tentasse negar, aquele "gatinho", como Jiwon brincou, estava de alguma forma mexendo com ela.

SN entrou em casa, exausta depois de um longo dia na escola, mas com algo importante que precisava dizer. Ela procurou a mãe na cozinha, sentindo a pressão das palavras não ditas.

— Mãe, eu quero conversar com você sobre uma coisa. — SN falou com um tom hesitante, como se estivesse tentando juntar forças para finalmente falar o que tanto a atormentava.

A mãe, que estava preparando alguma coisa, apenas levantou a cabeça por um momento.

— Agora não, querida. Estou ocupada. — A voz dela estava cansada, e o olhar de quem não estava realmente ali.

Mas antes que a conversa fosse mais adiada, Saehee apareceu na sala, interrompendo.

— Continua o que você ia falar, SN. — Saehee, com a voz cruel, estava quase se divertindo com o desconforto da irmã.

SN, engolindo a raiva e tentando manter a calma, disse, com os braços cruzados:

— Mãe, você pode fazer macarrão no jantar? Eu estou com fome. Não comi quase nada na escola... — ela falou, desviando o olhar de Saehee. Não queria mais entrar em conflito na frente da mãe, ainda que soubesse que isso não resolveria nada.

A mãe, sem olhar muito para SN, respondeu distraída:

— Está bem, vou fazer o jantar, mas depois preciso descansar. Estou trabalhando em dois empregos e estou muito cansada, não aguento mais... — ela deixou escapar, o cansaço na sua voz visível, mas sem perceber o que realmente estava acontecendo ali.

SN respirou fundo, sentindo o peso da situação. Ela só queria falar com a mãe sobre o comportamento de Saehee, mas sabia que era inútil. De qualquer forma, não queria mais ficar ali com a tensão. Ela olhou para a mãe e disse:

— Ok, mãe, vou tirar o uniforme e já volto para o jantar. — E se afastou, indo para o seu quarto.

Subiu as escadas, pensando em como as coisas pareciam tão difíceis em casa. Quando chegou no quarto, pegou a roupa para tomar banho, mas antes que pudesse se concentrar, ouviu a voz de Saehee, mais uma vez cortante e provocativa.

— O que você acha que estava fazendo, SN? Eu sei que você ia falar pra mamãe. — Saehee apareceu na porta do quarto, sua expressão maliciosa e os olhos brilhando com malícia.

SN, com os braços cruzados e o rosto fechado, respondeu com frieza:

— Por que você é assim, Saehee? Eu nunca fiz nada de errado pra você, e mesmo assim, você é cruel comigo.

Saehee soltou uma risada baixa, uma risada que parecia mais uma ameaça do que uma brincadeira. Ela deu um trago no cigarro, soltando a fumaça no ar como se quisesse esfriar o ambiente.

— Você acha que eu me importo com o que você pensa, SN? Você realmente acha que isso vai mudar alguma coisa? — Saehee perguntou, ainda com o sorriso de deboche.

— Eu sou a única que manda aqui, e você vai aprender a viver com isso.

SN ficou em silêncio, o olhar vazio e triste, mas com a determinação de quem sabe que a luta está apenas começando.

Ela não queria mais ser a sombra da irmã, nem ser o alvo das suas crueldades. Mas, naquele momento, parecia que nada que ela fizesse mudaria a dinâmica de sua casa. Ela só queria ser ouvida, mas estava começando a perceber que, talvez, nunca seria.

Capítulo 3 – O Fim do Silêncio

SN ficou parada, sentindo a tensão no ar, enquanto Saehee se aproximava. A frieza no olhar da irmã mais velha fazia o coração de SN acelerar, mas ela não queria mais fugir. Ela precisava tentar.

— Saehee, por favor... não me trate assim. — SN falou, a voz trêmula, mas com um tom de quem estava pedindo por algo que parecia impossível.

Saehee olhou para ela, com os olhos ardendo em raiva. Então, sem aviso, ela gritou:

— Eu te odeio, mainha! Você sempre conseguiu tudo o que queria, não é?! — Saehee estava descontrolada, e suas palavras saíam como veneno.

SN recuou um passo, sem entender o que estava acontecendo. A dor era tão forte que ela mal conseguia reagir. Mas, mesmo assim, ela não podia deixar passar as palavras de Saehee.

— O que você está falando? Você é louca! Você precisa de tratamento! — SN falou, tentando se manter firme, mas o desespero começou a invadir suas palavras.

Saehee, no entanto, riu de forma debochada, um riso cruel que fez SN se arrepiar. Era como se ela estivesse completamente fora de si, como se nada que SN falasse importasse.

— Vai logo descer pra jantar. — Saehee mandou com desdém, virando-se de costas, sem sequer olhar para a irmã.

SN ficou ali, parada, com o peso daquelas palavras ecoando em sua mente. Ela não sabia o que mais fazer. A dor estava insuportável. Sentiu-se pequena, desamparada, como se estivesse à mercê de algo que não podia controlar.

Ela desceu as escadas lentamente, mas, ao chegar no meio delas, a angústia tomou conta dela. As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Ela se encostou na parede, sentindo que não podia mais suportar tudo aquilo.

Entre os soluços, pegou seu celular e, com a voz embargada, mandou uma mensagem para Lucas, sem saber o que mais fazer. Ela precisava de alguém. Alguém que pudesse ouvir sua dor, mesmo que fosse em palavras simples.

“Lucas... eu não aguento mais. Me ajuda...” — ela escreveu, esperando que ele visse, esperando que, talvez, ele fosse a única pessoa que realmente se importava.

Ela olhou para o celular, aguardando a resposta, sentindo-se perdida e com o coração pesado. O jantar não importava mais, nem a irmã cruel. Tudo o que ela queria agora era ser ouvida, ser vista, e talvez encontrar um pouco de alívio no caos que sua vida se tornara.

SN ficou com o celular nas mãos, as lágrimas ainda escorrendo pelo seu rosto enquanto ela olhava fixamente para a tela, esperando uma resposta que parecia não vir. O som da casa em silêncio, apenas o eco de seus pensamentos e a agonia interna que ela tentava suprimir.

Então, o celular vibrou, quebrando o silêncio.

SN olhou para a tela, e seu coração deu um pulo. Era Lucas.

“Eu sei o que você está passando. Fica calma, ok? Eu estou aqui. Não importa o que aconteça, você não está sozinha. Se precisar de mim, estarei por perto.” — A mensagem de Lucas apareceu na tela, como um farol de esperança no meio da escuridão.

SN sentiu uma onda de alívio misturada com gratidão. Ela não sabia por que, mas as palavras dele pareciam ser a única coisa que a fazia sentir que, talvez, alguém realmente se importasse. Alguém que não estava tentando usar ou manipular a situação.

Ela respirou fundo, enxugou as lágrimas e, com uma calma temporária, respondeu.

“Obrigada, Lucas. Eu só... não sei o que fazer. Tudo está dando errado aqui em casa. Minha irmã me odeia, minha mãe está tão distante... eu não aguento mais.”

SN apertou os olhos, sentindo que estava se abrindo para ele de uma forma que nunca tinha feito com ninguém. Era difícil colocar em palavras tudo o que estava sentindo, mas, naquele momento, parecia que Lucas era a única pessoa disposta a ouvir.

Lucas demorou alguns minutos, mas logo a resposta dele apareceu na tela.

“Eu entendo. Sei que é difícil. Mas acredite, você merece ser feliz, SN. Se precisar sair de casa por um tempo, ou se quiser falar mais sobre o que está acontecendo, me avisa. Vou te apoiar no que for preciso.”

SN sentiu um peso enorme se levantar de seus ombros. Era como se ele tivesse colocado um pouco de paz dentro de sua bagunçada vida. Por um momento, ela não estava mais sozinha no mundo.

Ela olhou para a tela, pensativa. Talvez fosse hora de começar a mudar as coisas. E talvez, com a ajuda de Lucas, ela pudesse finalmente encontrar uma saída para todo aquele caos.

Ela respondeu, mais confiante agora, mesmo com o peso de seus problemas.

“Eu vou tentar, Lucas. Obrigada por me ouvir. De verdade.”

E, com isso, uma pequena chama de esperança se acendeu dentro dela. Mesmo que o mundo ao seu redor ainda estivesse desmoronando, talvez, só talvez, ela pudesse encontrar um caminho para a felicidade – com a ajuda de quem a compreendia.

SN não tinha mais forças para descer para o jantar. O peso da dor e da frustração parecia maior do que qualquer outra coisa. Ela ficou ali, sentada na escada, chorando silenciosamente. As lágrimas não paravam de cair, e a vontade de comer desapareceu completamente. Ela sentia como se tivesse perdido o apetite por tudo ao seu redor. O único som que preenchia a casa era o de seus soluços abafados.

Foi então que ela ouviu uma batida na porta. Antes que pudesse sequer reagir, a voz de Lucas veio, suave e cheia de cuidado.

— SN? Eu trouxe chocolate, tem cachorro-quente, X tudo, hambúrguer, batata frita... — ele pausou por um momento. — Vamos pra minha casa. Ninguém vai mexer com você lá, ok?

SN, ainda com o rosto molhado de lágrimas, não sabia como responder, mas o gesto de Lucas fez seu coração se aquecer um pouco. Ele realmente se importava.

Ela estava tão exausta que não conseguiu argumentar. Lucas entrou e, vendo a condição dela, tirou seu casaco e o colocou em seus ombros com suavidade.

— Coloca isso, você vai se sentir melhor. — Ele falou, tentando de alguma forma amenizar o sofrimento dela.

SN, ainda sem palavras, colocou o casaco, sentindo o calor e a proteção que ele oferecia. Era como se, por um breve momento, ela tivesse encontrado um pouco de segurança.

Na casa de Lucas, tudo parecia diferente. Era como se ali ela pudesse finalmente respirar de forma tranquila. Eles estavam sentados à mesa, comendo e bebendo refrigerante. Lucas fez questão de cuidar dela, e, enquanto comiam, ele limpou suavemente as lágrimas que ainda restavam no rosto de SN.

— Você não vai mais precisar se preocupar com nada por enquanto. — Lucas disse, com uma voz calma e protetora. — Eu vou conversar com o diretor e pegar a matéria pra você. Você não precisa ir pra escola amanhã, ok?

SN, ainda em choque com a gentileza dele, apenas assentiu, sentindo-se grata, mas também perdida. O peso de sua vida ainda estava lá, mas por um momento, ela teve a sensação de que, com Lucas, poderia encontrar alguma paz.

Lucas puxou a cama de cima para preparar o lugar onde SN poderia descansar, sua expressão cuidadosa e preocupada enquanto ele se certificava de que tudo estava pronto.

— Vem, deita e descansa. Ninguém vai te incomodar aqui. — Ele falou, dando um sorriso suave. — Você só precisa descansar. Esquece de tudo um pouco. A gente vai dar um jeito em tudo.

SN, sem forças para protestar, deitou na cama de cima, sentindo o alívio de estar em um lugar onde ela finalmente podia relaxar, sem medo, sem brigas, sem pressão.

— Obrigada, Lucas... — foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de se entregar ao cansaço, sentindo-se pela primeira vez em muito tempo, segura.

Na manhã seguinte, Lucas acordou cedo e, com o rosto sério, decidiu que precisava agir. Ele não podia mais ver SN naquele sofrimento, então foi até a escola para conversar com o diretor. Ele precisava entender o que estava acontecendo e encontrar uma maneira de proteger a amiga. Quando entrou no carro, pensava em como tudo se desenrolaria, determinado a ajudar SN de qualquer forma.

Ao chegar na escola, ele conversou com o diretor, contando sobre a situação difícil de SN em casa e a crueldade de sua irmã, Saehee. O diretor parecia surpreso, mas também compreensivo. Depois de algumas palavras de apoio, Lucas voltou para casa, sua mente já cheia de planos para garantir a segurança de SN.

Quando chegou à cozinha, encontrou sua mãe preparando o café da manhã. Ela parecia cansada, mas ainda assim, sua expressão foi suave ao ver o filho entrar. Lucas, então, se aproximou e começou a conversar com ela, sem rodeios.

— Mãe, eu preciso falar sobre a SN. O que está acontecendo com ela em casa não é mais aceitável. — Lucas falou baixinho, sua voz cheia de preocupação.

Sua mãe parou o que estava fazendo, olhando para o filho, esperando que ele explicasse mais.

— Ela está sendo tratada como lixo, mãe. A Saehee a maltrata o tempo todo, e a mãe delas nem percebe. Eu não quero que a SN continue vivendo assim. Eu pensei em uma solução. — Lucas continuou, já pensando em como proteger a amiga de uma vez por todas.

A mãe de Lucas ficou em silêncio por um momento, mas o olhar dela demonstrava que ela estava ouvindo com atenção. Lucas respirou fundo antes de continuar.

— Eu quero que a SN venha morar aqui comigo. Ou, se preferir, posso levá-la para morar com o meu pai na mansão. O papai é empresário e pode dar um emprego pra ela, ajudar a juntar o dinheiro e até alugar uma casa. Eu não quero que ela seja maltratada novamente, mãe. — Ele falou com firmeza, seu olhar determinado.

A mãe de Lucas olhou para ele, pensativa. Ela sabia o quanto a situação estava difícil para o filho, e também se preocupava com a vida de SN. Depois de alguns momentos de silêncio, ela suspirou e falou, com um tom suave, mas sério:

— Eu sei o quanto você se importa com ela, Lucas. E se você realmente acredita que ela estará melhor em outro lugar, eu apoio você. Mas, só quero que tenha certeza de que é o melhor para ela também. A vida dela não está fácil, e você tem razão, ela não merece esse sofrimento.

Lucas acenou com a cabeça, grato pelo apoio da mãe. Ele sabia que ela tinha muitas preocupações, mas também confiava que ela queria o melhor para ele e para as pessoas que ele amava.

— Eu vou conversar com a SN sobre isso. Eu só quero que ela tenha uma chance de viver em paz, sem medo de ser maltratada. — Lucas respondeu, agora mais determinado do que nunca.

Sua mãe sorriu levemente, sentindo que talvez Lucas realmente tivesse uma solução para ajudar SN. Ela sabia que o filho não tomaria essa decisão levianamente, e se ele achava que isso era o melhor para a amiga, ela não teria mais objeções.

— Faça o que você achar certo, filho. Eu confio em você. — Ela falou, com um sorriso carinhoso.

Agora Lucas estava mais seguro de que podia dar a SN uma chance de começar uma nova vida, longe do abuso e do sofrimento. Ele sabia que ela merecia mais, e ele faria tudo o que fosse possível para garantir que ela tivesse essa oportunidade.

Após uma conversa silenciosa, a mãe de Lucas decidiu que precisava falar diretamente com a mãe de SN. Era hora de enfrentar a situação de frente e descobrir o que realmente estava acontecendo na casa de SN. Lucas, sempre protetor, não queria deixar a amiga sozinha nesse momento difícil, então se ofereceu para ir junto.

Eles chegaram à casa da mãe de SN, e Lucas sentia o peso da tensão no ar. Era agora ou nunca.

Dentro da casa, a mãe de Lucas começou a falar diretamente, sem hesitar:

— Eu preciso falar com você sobre o que está acontecendo com a SN. O Lucas me contou o que ele percebeu, e isso não pode continuar assim. A Saehee está tratando a SN de uma forma cruel, e isso não é algo que podemos ignorar. — Ela falou com uma firmeza que deixou claro que não estava disposta a aceitar mais abusos.

A mãe de SN, que estava na sala com as duas filhas, olhou para ela com um sorriso cínico, como se estivesse prestes a se defender de qualquer acusação.

— Eu não sabia de nada, e, para ser sincera, eu nunca vi nada de errado. Mas se isso fosse realmente um problema, por que a Saehee não me contou? — Ela riu, olhando de canto para Saehee, tentando minimamente se justificar, mas seu tom parecia mais incrédulo do que convincente.

Lucas, que estava observando tudo em silêncio até então, não conseguiu mais se controlar. Ele se aproximou, seus olhos queimando de raiva e preocupação.

— Você vai deixar a Saehee maltratar a SN assim? Você é cega? Não vê o que está acontecendo dentro da sua própria casa? — Lucas gritou, sua voz cheia de fúria. — Eu não vou deixar ninguém chegar perto dela. Não enquanto eu estiver aqui!

A Saehee, do outro lado da sala, riu de forma debochada, tentando desmerecer as palavras de Lucas.

— Você e a SN são completamente loucos. Como pode acreditar nisso tudo? — Saehee disse, com um sorriso arrogante.

Lucas, furioso e sem paciência, respondeu com um tom cortante.

— Você é uma mentirosa! Você maltrata a SN desde criança, e ela me contou tudo! Não adianta fingir que não sabe o que está acontecendo.

A mãe de SN olhou para sua filha mais velha, sem saber como reagir. Mas ela continuava em silêncio, como se não quisesse admitir o que estava claramente diante de seus olhos.

A Saehee tentou se defender, mas seu rosto já demonstrava uma frustração crescente.

— Era mentira! — Ela disse rapidamente, como se tentasse apagar qualquer indício de culpa.

Mas a tensão no ambiente era palpável, e a mãe de SN não sabia mais o que dizer. Ela olhou para a mãe de Lucas, em um momento de hesitação.

— Eu não sei o que está acontecendo, mas preciso pensar no que fazer... — A mãe de SN falou, ainda em choque com a acusação.

A discussão continuava intensa, e a situação estava cada vez mais insustentável. Lucas estava determinado a proteger SN a todo custo, e agora ele sabia que essa batalha não seria fácil. Mas, mais do que nunca, ele estava disposto a lutar para garantir que SN tivesse a chance de viver em paz, longe do abuso que ela havia sofrido durante toda a sua vida.

A tensão no ambiente parecia se intensificar a cada palavra trocada. A mãe de Lucas, vendo a gravidade da situação e a dor nos olhos de SN, tomou uma decisão imediata. Ela olhou para a mãe de SN, com uma expressão firme e decidida.

— Eu preciso dos documentos da SN e algumas roupas dela. Vou cuidar dela a partir de agora. — A mãe de Lucas falou, sua voz inabalável. Ela sabia que não podia mais esperar ou hesitar. Era hora de agir.

A mãe de SN, ainda meio atordoada, olhou para sua filha e, depois, para a mãe de Lucas. Ela parecia perdida, sem saber exatamente o que fazer. No entanto, o olhar de Lucas e a decisão firme da mãe dele pareciam deixá-la sem opções.

— Você está decidida a levar a SN assim? — A mãe de SN perguntou, um tom de resignação na voz, embora ela ainda parecesse em dúvida sobre a decisão.

A mãe de Lucas não hesitou em responder.

— Sim, é o melhor para ela. Ela precisa de um ambiente seguro, onde possa viver sem medo e sem crueldade. Não posso permitir que a SN continue vivendo sob esse sofrimento.

Lucas, ouvindo tudo aquilo, se aproximou da mãe e falou com determinação, sem esconder sua raiva pela situação que SN enfrentava.

— Eu vou conversar com o advogado do meu pai e pedir para passar a guarda da SN para o nome da minha mãe. Não podemos esperar mais, não podemos deixar ela aqui com essa situação.

A mãe de Lucas olhou para ele com um sorriso orgulhoso e triste ao mesmo tempo. Ela sabia que o filho estava fazendo o que era certo, mas também sentia a dor de ter que tomar essas decisões tão drásticas.

— Eu vou começar com a papelada. Vou fazer tudo o que for preciso para garantir que a SN tenha um futuro melhor, Lucas. — Ela falou, sua voz cheia de determinação.

Enquanto isso, Saehee observava tudo de longe, com um sorriso debochado e uma expressão de desdém. Ela não entendia por que estava sendo tão questionada, e isso a irritava cada vez mais. Ela se aproximou de todos, tentando manter a aparência de confiança.

— Você realmente acha que pode mudar alguma coisa? — Saehee provocou, seu tom ácido. — Eu sou a única que sabe como a SN realmente é, e se acham que vão conseguir tirá-la daqui, estão completamente enganados!

Lucas, sem paciência para as provocações de Saehee, respondeu com firmeza, olhando-a diretamente nos olhos.

— Você não vai mais machucar a SN. Isso vai acabar. Eu vou garantir que ela tenha uma chance de viver em paz, e não vou deixar você fazer nada para impedi-la.

Saehee, furiosa, tentou dar um passo à frente, mas a presença de Lucas e de sua mãe era suficiente para ela recuar um pouco. Ela sabia que, naquele momento, sua autoridade sobre a irmã estava se desmoronando.

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