O carro parou em frente à escola, e SN desceu rapidamente, aliviada por finalmente estar em um lugar onde não seria ofendida por cada movimento que fizesse. Ela olhou para o irmão do namorado de Saehee, que a observava com uma expressão séria, mas algo em seus olhos parecia entender o peso que ela carregava.
Ele desligou o motor e virou-se para ela.
— Eu sei que sua irmã é cruel... — ele começou, seu tom de voz calmo, quase como se estivesse refletindo.
— Por que você não tenta falar com alguém da sua família sobre isso? Sua irmã é uma cobra venenosa. Não precisa ser assim.
SN ficou em silêncio por um momento, tentando processar as palavras dele. A dor que ela sentia era tão grande que, muitas vezes, ela se via sem forças para lutar contra isso. Ela sabia que Saehee era cruel, mas admitir isso em voz alta parecia ainda mais doloroso.
Ela olhou para o chão, como se as palavras dele tivessem batido de frente com a realidade que ela tinha tentado negar por tanto tempo.
— Eu... não sei o que fazer... — ela finalmente respondeu, a voz falhando um pouco.
— É difícil... ela sempre foi assim, e eu nunca consegui mudar nada.
Ele observou a fragilidade dela, como se estivesse vendo através das defesas que ela levantava. Talvez ele entendesse mais do que ela imaginava.
— Eu sou o Lucas, mas pode me chamar de Lucky. — ele disse, suavizando o tom, quase como se tentasse tranquilizá-la.
— Se precisar de uma carona amanhã ou de qualquer coisa, só me avisar. Aqui está meu número. — Ele entregou um pedaço de papel dobrado.
SN olhou para o número com um olhar desconfiado, mas algo dentro dela dizia que, talvez, ele fosse uma das poucas pessoas que realmente a ouviam.
— Obrigado... Lucky... Eu... vou pensar sobre isso. — ela respondeu, sorrindo levemente, embora ainda fosse difícil acreditar que alguém pudesse ser realmente amigável em sua vida.
Lucas sorriu, e antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele já estava indo embora, dirigindo-se de volta ao carro.
Ela ficou ali por um momento, o pedaço de papel ainda na mão, e se perguntou se esse dia poderia ser o começo de algo diferente. Algo que a fizesse parar de se sentir como se fosse a culpada por tudo.
SN entrou na sala de aula, seu coração ainda um pouco acelerado. Ela tentava disfarçar a confusão que sentia desde o encontro com Lucas, o irmão do namorado de Saehee. As palavras dele ainda ecoavam em sua cabeça, mas o som das conversas dos outros alunos logo a trouxe de volta à realidade.
Ela se dirigiu para sua mesa, onde sua amiga, Jiwon, já estava sentada, mexendo no celular.
Jiwon olhou para SN assim que ela entrou e, com um sorriso travesso, levantou uma sobrancelha.
— Uau, viúva! Você saiu de um carro agora? Quem é o gatinho? — Jiwon perguntou, a voz cheia de curiosidade.
O sorriso malicioso dela se alargou enquanto tentava pegar uma pista do que estava acontecendo.
SN, pego de surpresa, sentiu as bochechas queimarem instantaneamente. Ela abaixou a cabeça, envergonhada, sem saber como responder.
— O-que? Não é nada, Jiwon! — SN gaguejou, tentando controlar o rubor no rosto.
— Era... só o irmão do namorado da Saehee... — ela completou, com a voz baixa, quase como se estivesse tentando apagar a situação.
Jiwon, que não era boba, não pôde deixar de rir ao ver a expressão envergonhada de SN.
— Ahh, então é por isso... o "irmão do namorado". — Jiwon repetiu com um sorriso grande, ainda brincando com a situação.
— Não fica tímida agora, viu? Pelo jeito ele estava te levando para a escola... e olha, a cor da sua cara está dizendo tudo. Já estou começando a achar que tem algo mais aí.
SN ficou ainda mais vermelha e tentou mudar de assunto, mas Jiwon estava impossível. Ela não ia deixar a amiga escapar tão fácil dessa.
— Ai, não tem nada! Sério! — SN insistiu, mas o sorriso de Jiwon não diminuía.
No fundo, SN sabia que Jiwon estava apenas se divertindo, mas algo sobre aquele encontro com Lucky (ou Lucas, como ele se apresentou) fazia seu coração bater mais rápido. Não era só uma carona. Era como se fosse a primeira vez em muito tempo que alguém se preocupava com ela sem querer algo em troca.
Ainda assim, ela preferia deixar isso para depois.
Jiwon, percebendo que estava pressionando demais, sorriu de forma mais suave e tentou mudar o foco.
— Ok, ok... vamos deixar essa história pra lá. Mas... se você quiser contar depois, estou aqui, viu? — Jiwon piscou, voltando para sua rotina normal de tirar notas e mexer no celular.
SN, ainda sentindo o calor no rosto, se sentou e tentou focar no que realmente importava: as aulas. Mas, no fundo, a ideia de Lucas e as palavras dele ainda martelavam em sua cabeça.
Será que ele estava certo? Será que ela deveria tentar conversar mais sobre sua situação? Sobre o que estava acontecendo com sua irmã, com sua família?
O dia na escola mal tinha começado, mas para SN, parecia que algo grande estava prestes a mudar. E, por mais que ela tentasse negar, aquele "gatinho", como Jiwon brincou, estava de alguma forma mexendo com ela.
SN entrou em casa, exausta depois de um longo dia na escola, mas com algo importante que precisava dizer. Ela procurou a mãe na cozinha, sentindo a pressão das palavras não ditas.
— Mãe, eu quero conversar com você sobre uma coisa. — SN falou com um tom hesitante, como se estivesse tentando juntar forças para finalmente falar o que tanto a atormentava.
A mãe, que estava preparando alguma coisa, apenas levantou a cabeça por um momento.
— Agora não, querida. Estou ocupada. — A voz dela estava cansada, e o olhar de quem não estava realmente ali.
Mas antes que a conversa fosse mais adiada, Saehee apareceu na sala, interrompendo.
— Continua o que você ia falar, SN. — Saehee, com a voz cruel, estava quase se divertindo com o desconforto da irmã.
SN, engolindo a raiva e tentando manter a calma, disse, com os braços cruzados:
— Mãe, você pode fazer macarrão no jantar? Eu estou com fome. Não comi quase nada na escola... — ela falou, desviando o olhar de Saehee. Não queria mais entrar em conflito na frente da mãe, ainda que soubesse que isso não resolveria nada.
A mãe, sem olhar muito para SN, respondeu distraída:
— Está bem, vou fazer o jantar, mas depois preciso descansar. Estou trabalhando em dois empregos e estou muito cansada, não aguento mais... — ela deixou escapar, o cansaço na sua voz visível, mas sem perceber o que realmente estava acontecendo ali.
SN respirou fundo, sentindo o peso da situação. Ela só queria falar com a mãe sobre o comportamento de Saehee, mas sabia que era inútil. De qualquer forma, não queria mais ficar ali com a tensão. Ela olhou para a mãe e disse:
— Ok, mãe, vou tirar o uniforme e já volto para o jantar. — E se afastou, indo para o seu quarto.
Subiu as escadas, pensando em como as coisas pareciam tão difíceis em casa. Quando chegou no quarto, pegou a roupa para tomar banho, mas antes que pudesse se concentrar, ouviu a voz de Saehee, mais uma vez cortante e provocativa.
— O que você acha que estava fazendo, SN? Eu sei que você ia falar pra mamãe. — Saehee apareceu na porta do quarto, sua expressão maliciosa e os olhos brilhando com malícia.
SN, com os braços cruzados e o rosto fechado, respondeu com frieza:
— Por que você é assim, Saehee? Eu nunca fiz nada de errado pra você, e mesmo assim, você é cruel comigo.
Saehee soltou uma risada baixa, uma risada que parecia mais uma ameaça do que uma brincadeira. Ela deu um trago no cigarro, soltando a fumaça no ar como se quisesse esfriar o ambiente.
— Você acha que eu me importo com o que você pensa, SN? Você realmente acha que isso vai mudar alguma coisa? — Saehee perguntou, ainda com o sorriso de deboche.
— Eu sou a única que manda aqui, e você vai aprender a viver com isso.
SN ficou em silêncio, o olhar vazio e triste, mas com a determinação de quem sabe que a luta está apenas começando.
Ela não queria mais ser a sombra da irmã, nem ser o alvo das suas crueldades. Mas, naquele momento, parecia que nada que ela fizesse mudaria a dinâmica de sua casa. Ela só queria ser ouvida, mas estava começando a perceber que, talvez, nunca seria.
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Atualizado até capítulo 29
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