---
Capítulo 4 – A Espada Silenciosa
O som dos cascos batendo contra o solo ecoava pela floresta como tambores de guerra. O ar, antes sereno, agora pesava nos pulmões de Aurora como um aviso antigo. Kael puxava sua mão com firmeza, mas sem agressividade. Havia pressa, mas também proteção.
Eles corriam entre árvores que se tornavam vultos verdes e dourados. A trilha, antes invisível, agora parecia se abrir instintivamente sob seus pés — como se a floresta também tivesse pressa em escondê-los. Galhos arranhavam as roupas de Aurora, folhas batiam contra seu rosto, mas ela não sentia dor. Seu corpo parecia mais leve, mais ágil do que jamais fora.
Kael parou abruptamente. Estavam diante de uma clareira cercada por pedras altas e cobertas de musgo. No centro, repousava uma árvore de casca prateada e tronco largo, cujas raízes mergulhavam na terra como garras antigas. Ali, o mundo parecia suspenso, como se o tempo respirasse devagar.
— Aqui — disse Kael, soltando sua mão. — Vamos fazer nossa resistência aqui.
— Resistência? — Aurora mal conseguia respirar. — Você quer lutar?
Kael já desembainhava a espada. A lâmina era negra como obsidiana, com runas gravadas que pulsavam em um brilho azulado. Ele a girou nos dedos com a familiaridade de quem nasceu com ela nas mãos.
— Eles não vão parar só porque corremos. E você… você precisa lembrar do que é capaz.
— Eu não sei lutar! — Aurora exclamou. — No meu mundo, eu só li sobre espadas!
Kael se virou para ela, firme, os olhos queimando como brasas.
— Mas esse não é mais o seu mundo.
Ele caminhou até uma das pedras. Encostada nela, como se aguardasse por séculos, estava uma espada.
Era diferente da dele. Mais leve. O cabo ornado com fios prateados, e o símbolo de uma rosa esculpida na guarda. A lâmina refletia o céu, mas sem perder sua frieza letal.
Kael a pegou com reverência e a estendeu para ela.
— Essa espada pertenceu a Lyara, a primeira portadora do sangue da Rosa Branca. E agora… ela pertence a você.
Aurora hesitou. O medo ainda dançava em seus ossos. Mas havia algo naquela espada — um chamado silencioso, como se a lâmina sussurrasse seu nome.
Ela a segurou.
O contato foi imediato. Quente. Vivo. Como se a espada respirasse junto com ela. Assim que seus dedos fecharam ao redor do cabo, visões explodiram em sua mente: batalhas esquecidas, guerreiros de olhos dourados, uma mulher com o rosto coberto de sangue — mas com o mesmo brilho em seu olhar que agora surgia no dela.
Aurora cambaleou, ofegante.
Kael a segurou pelo braço.
— Está começando — murmurou. — Sua herança.
Antes que ela pudesse processar tudo, três cavaleiros surgiram da floresta. Montavam animais negros, com olhos vermelhos e armaduras corrompidas por uma névoa escura. A presença deles rasgava o ar como veneno.
Kael assumiu posição ao lado dela, espada em punho.
— Fique atrás de mim. Só até lembrar como se luta.
Aurora não respondeu. Ela olhou para a espada. Sentiu o peso. Sentiu o equilíbrio. Era como uma extensão do seu braço. Do seu coração.
Quando o primeiro inimigo avançou, ela não pensou.
Movida por puro instinto, girou o corpo e ergueu a lâmina. O som do metal cortando o ar foi claro. Preciso. O golpe foi limpo — mais limpo do que ela jamais teria conseguido imaginar.
Kael virou o rosto. Surpreso. E, pela primeira vez, um brilho de orgulho cruzou seus olhos.
— Você lembra.
Aurora arfava. Sentia a energia subindo pelas veias como fogo líquido. O medo ainda estava lá… mas algo novo começava a crescer por baixo dele.
Ela não era mais só uma leitora.
Agora, era a protagonista.
---
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments