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Capítulo 2 – O Outro Lado da Página

Aurora caiu — mas não com medo.

A queda não era como sonhar. Não havia terror, nem gritos, nem vento. Era suave, quase serena. Como se o mundo estivesse desfiando ao redor dela, dissolvendo-se em poeira dourada enquanto uma nova realidade se costurava à sua volta. Sentia-se leve, e pela primeira vez em muito tempo, inteira.

Quando seus pés tocaram o chão, um baque suave e silencioso, ela abriu os olhos.

Estava em uma floresta.

Mas não era uma floresta comum. As árvores eram altas demais, antigas demais. Os galhos dançavam com uma brisa que parecia sussurrar nomes que ela não conhecia. As folhas brilhavam levemente, com um verde tão vívido que beirava o mágico. O céu era de um azul profundo, sem nuvens, e a luz filtrada entre as copas criava reflexos dourados na terra.

Aurora se levantou com dificuldade. O livro havia desaparecido de suas mãos. Ou talvez… tivesse finalmente se tornado parte dela.

Olhou ao redor. O silêncio era espesso, vivo. Ela não sabia onde estava, nem o que deveria fazer. Mas havia algo dentro dela — um instinto antigo, herdado talvez de um sangue que dormia há gerações.

Ela caminhou.

Passos firmes, ainda que hesitantes, a levaram por uma trilha quase invisível entre as árvores. A floresta parecia observá-la, como se esperasse algo dela. E então, à distância, ela o viu.

No alto de uma colina, sob a sombra de uma árvore colossal, havia um homem. Não muito alto, nem muito largo — mas envolto em uma presença que rasgava o ar. Ele vestia uma capa escura, longa, e usava uma armadura leve por baixo. Carregava uma espada nas costas, mas parecia tão natural com ela quanto alguém que carrega a própria sombra.

Aurora parou. Seu coração acelerou.

Ele não se moveu de imediato. Estava de costas, observando o horizonte como se soubesse que o mundo estava prestes a mudar. Quando enfim virou o rosto em sua direção, ela prendeu o fôlego.

Os olhos dele eram escuros. Não negros. Eram olhos de tempestade: profundos, densos, impossíveis de decifrar. E neles, havia algo estranho… como se ele a reconhecesse.

— Você demorou — ele disse, com voz baixa, rouca, marcada pelo tempo.

Ela franziu o cenho.

— Você me conhece?

Ele deu um meio sorriso, sem responder. Depois virou-se por completo, caminhando lentamente em sua direção. Seus passos eram calculados, mas não ameaçadores. Ele parecia mais curioso do que surpreso.

— Você é Lyara? — perguntou.

Aurora hesitou. O nome a atingiu como um eco.

— Eu… não sei mais quem sou.

Ele parou a poucos metros dela. O vento brincava com a capa dele, e com os cabelos de Aurora, criando uma moldura quase poética ao redor daquele momento.

— Então o livro te escolheu — disse ele, mais para si mesmo do que para ela. — Isso muda tudo.

Ela sentiu o frio na espinha voltar, mas junto com ele… algo diferente.

Um calor estranho no peito. Como se o tempo, finalmente, tivesse começado a se mover.

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